Capítulo 26

Joe p.o.v 
Devo ter ficado horas, sentado em minha cama, lendo e relendo aquela carta. Liguei para minha mãe e pedi para que ficasse com Olivia naquela noite. Eu não tinha cabeça para dirigir e cuidar de minha própria filha. O peso em minha consciência se tornou insuportável, o medo e a covardia andavam lado a lado, todas as palavras estúpidas que proferi a Demi, me culpei por ter sido capaz de acreditar em tal mentira, eu deveria saber que ela não é assim, nunca seria capaz de me trair ou a qualquer um, e o melhor que consegui fazer foi culpando-a sem saber o real motivo. 
Como se por um impulso me levantei da cama em um pulo e desci as escadas rapidamente, não me dei ao trabalho de olhar as horas, apenas peguei as chaves do carro, eu sabia que seria arriscado dirigir naquele estado, mas era preciso, eu queria provar para Demi que poderia ficar ao lado dela, perder minha mulher foi dolorido, porém em minha mente eu tinha total noção de que foi o melhor para ela, além do mais não é como se todos os casos de câncer fossem de morte, tenho noção da força de Demi e faria de tudo para fazê-la superar, fazer com que sempre acorde com a disposição necessária para lutar, dia após dia, não posso deixá-la ir. 
Dirigi rapidamente até chegar a seu apartamento, subi os andares de escada, sem paciência para esperar pelo elevador. Não foi difícil nem demorado chegar já que eu corria a todo instante, cheguei a frente de sua porta sem ter certeza do que fazer, bati inúmeras vezes, apertei a companhia dezenas de vezes e o único que me atendeu foi um vizinho estressado. 
_Ei seu idiota._ um homem alto e magro, envolto de um roupão, estavvisivelmente estressado com minha atitude._ Se continuar com isso irei chamar a polícia, vai procurar sua casa, seu imbecil. 
_Me desculpe._ respondi desnorteado. 
Ele me lançou um último olhar ameaçador e entrou novamente, fechando a porta em um baque. Encostei-me na porta do apartamento de Demi e me sentei apoiado no mesmo, senti vontade de chorar e o fiz. 
_Joe... Joe acorde._ ouvi alguém me chamar e me sacudir de leve ao mesmo tempo, abri os olhos devagar e me assustei por perceber que havia dormido no exato local em que me sentei. Marissa estava abaixada na minha frente, preocupada por eu estar ali._ O que faz aqui? 
A loira não parecia irritada, somente com um semblante cansado e chateado, ela ficou de pé e me deu a mão para que eu fizesse o mesmo, estendi e senti meu corpo inteiro doer com o movimento, provavelmente dormir sentado no chão não é a melhor forma de se passar a noite. 
_O que faz aqui?_ ela repetiu com o cenho franzido. 
_Vim atrás de Demi._ respondi levando uma de minhas mãos até minha nuca, em uma tentativa de aliviar a dor no local._ Mas pelo visto, ela não está disposta a me atender. 
Marissa respirou fundo e desviou um olhar triste, passou a mão pelos cabelos e deu de ombros. 
_Não é que ela não queira... só não pode fazer isso. 
Neguei com a cabeça. 
_Olha, eu sei o que ela pensa sobre me contar e sobre como eu poderia reagir a isso._ comecei._ Mas eu estou disposto a ficar do lado dela, porque é tão difícil compreender? 
_Joe, ela não pode atender porque ela está em outra cidade. 
Meu corpo não reagiu. 
_Mas não seria somente hoje de manhã?_ questionei. 
Ela negou com a cabeça enquanto procurava o que pensei ser as chaves em sua bolsa, as encontrou e foi em direção a porta destrancando-a. 
_Se quiser tomar um café posso lhe explicar, você está horrível._ comentou me analisando. 
Assenti e entrei no cômodo. Os móveis estavam todos em seu devido local, tudo organizado e limpo, como Demi sempre o deixou. Marissa deixou sua bolsa sobre o sofá e se dirigiu a cozinha, eu lhe segui e me sentei na cadeira perto da bancada. 
_Tudo ainda está aqui._ comentei estranhando. 
Enquanto ela procurava nos armários o necessário para fazer o café me respondeu. 
_Ela só levou o essencial, roupas, itens íntimos e coisas pequenas._ colocou a água para ferver e se pôs a preparar o coador. _ Não entendo o porquê de ela não comprar uma máquina para isso, é tão mais simples._ reclamou colocando o pó._ O apartamento que alugou é mobiliado, um dia ela pretende voltar para cá e não quer ter trabalho. 
_É o sabor, fica melhor desta forma._ respondi me referindo ao café, me lembrei em uma manhã em que Demi fez o café com tanto prazer e lhe indaguei a razão. Mari riu, provavelmente já havia escutado a mesma desculpa_ Então ela volta? 
Minhas esperanças ressurgiram. A moça suspirou mais uma vez e apoiou as mãos sobre o balcão me olhando de forma sincera. 
_Sim, ela volta, mas pode demorar um tempo, talvez anos._ disse, pelo seu tom de voz eu sabia que ela não concordava com a decisão da amiga_ Eu sei que você quer ficar perto dela, também sei o quanto ela precisa de você, mas agora é impossível tirar algo da cabeça dela. 
_Por que mudou de ideia sobre quando ir?_ lembrei-me da carta e das palavras escritas nela. 
Voltou a fazer o que antes, pegou a caneca com a água borbulhando e posicionou derramando o liquido sobre o pó negro. 
_Foi melhor assim, eu cheguei agora da cidade, justamente por isso. Fui com ela e dormi lá._ respondeu sem tirar a atenção da água._ Arrumamos tudo, e ainda pude voltar a tempo de organizar as coisas no ateliê, além do mais depois da conversa de vocês, ou melhor das coisas que você disse a ela, Demi achou melhor sair desta cidade o quanto antes. A ligação para os pais dela também não ajudou muito. 
Apoiei-me na bancada sentindo o peso da consciência desta vez dobrado. 
_Sou um idiota._ soquei a mesa como se pudesse descontar. 
_Sim, você é_ concordou colocando uma caneca a minha frente e preenchendo-a com o liquido recém passado._ Mas... eu compreendo, ela escondeu de todos até quando pôde, eu só descobri depois da nossa viagem quando encontrei o exame em sua bolsa, acredite, eu surtei e senti muita raiva por ela esconder algo assim, esse é o mal da Demi, ela procura fazer com que as pessoas a sua volta não se machuquem e acaba fazendo isso a si mesma, sempre foi assim e acredito que não mudará. 
_Como pude acreditar naquela mentira? Ela ficou muito chateada por isso? 
_O que você acha?_ indagou se sentando a minha frente também com uma caneca em mãos._ Você partiu o coração dela Jonas e eu bateria em você por isso, mas pelo menos agora eu não posso. 
_Por que não? Não que eu queira isso, só que deve haver um motivo. 
_E tem._ ela colocou a caneca sobre o balcão e cruzou os braços se apoiando._ Apesar da burrice de ontem, eu sei que você a ama, e só levou essa mentira a sério por culpa do afastamento dela. Assim como você eu não concordo com essa decisão dela, é o jeito dela, mas não é o melhor e o único que pode fazê-la mudar de ideia é você, pois eu nunca a vi tão apaixonada como ela está por você, ela te ama. 
_E eu a amo ainda mais Marissa._ respondi com sinceridade._ Me diga onde ela está. 
Ela bufou e se sentou com as costas na cadeira. 
_Não posso, prometi para ela, é uma promessa quase sagrada para nós duas. _ ela disse de forma séria._ A questão é: até onde você pode se esforçar por ela? Posso ter prometido não contar e não vou, mas não posso proibir que você descubra. 
Fiquei mais um tempo ali conversando com Marissa e logo depois voltei pra casa, eu precisava de um banho relaxante e também precisava buscar Olívia na casa de minha mãe, eu tinha que estar com a melhor aparência possível, Olívia e nem ninguém poderia saber que Demi viajou para tratar seu câncer, se ela escondeu até aqui não seria eu que iria contar a verdade para todos. 
Cheguei em casa arrasado pior do que eu saí daqui de madrugada, tomei um banho bem relaxante, meus músculos estavam pedindo arrego por passar o resto da madrugada dormindo sentado na porta de Demi e logo saí para buscar Olívia, minha mãe já tinha me ligado dizendo que Olívia estava chorando sentindo falta de mim e que eu precisava chegar logo lá. 
_Mãe_ Chamei assim que entrei em sua casa, estava tudo silencioso por lá e nenhum sinal dela pela sala ou pela cozinha 
_Aqui em cima meu filho. 
Subi as escadas e quando entrei no seu quarto encontrei Olívia estava deitada em seu colo dormindo. Logo sorri, minha filha era a única que poderia arrancar um sorriso do meu rosto em um momento como esse. 
_Até que enfim você chegou, Olívia estava meio febril e só sabia chorar e chamar por você, finalmente consegui fazer ela dormir enquanto contava uma história de princesa para ela. 
_Febril? Eu deixei ela bem aqui ontem mamãe_ Corri para a cama, ouvir que Olívia estava doente cortava meu coração. 
_Fique calmo Joe, não é nada demais ela só está com uma inflamação na garganta, pedi que seu irmão viesse até aqui para examina-lá. 
_E o porque essa dor de garganta? Eu sempre cuido para Olí não pegar friagem. 
_Ele disse que é a mudança de tempo, um dia frio outro calor ai a gente acaba adoecendo mesmo, Mas esse já passou um remédio e assim que ele começar a fazer efeito ela vai ficar bem melhor. 
Esperei que Olívia acordasse e ela acordou um pouquinho melhor, ainda estava um pouco quente mas abriu aquele sorriso lindo que só ela sabia dar assim que me viu, minha mãe insistiu para que eu ficasse mais um tempo ali com ela mas eu queria ir para casa e deitar um pouco na minha cama, minha coluna estava um horror. 
*** 
Quase um mês havia se passado e a minha vida havia se tornado um completo inferno, eu só sabia me encher de trabalho para tentar esquecer a Demi e nem para a minha filha eu estava ligando muito, ela passava mais tempo com a minha mãe do que comigo, eu estava completamente acabado para cuidar de mim e de uma criança, minha vida se resumia a trabalhar praticamente 24 horas por dia e quando não estava trabalhando estava tentando achar alguma pista de onde Demetria poderia estar. 
Fui atrás de seus pais mesmo não suportando sua mãe para tentar descobrir onde ela estava mas assim como eu eles não sabiam de absolutamente nada, ela ligava para eles algumas vezes por semana mas nunca mencionou onde estava mas quem sabe a conta de telefone deles não poderia me dizer onde ela estava, pelo DDD ou pelo número de telefone que ela ligava eu poderia tentar descobrir alguma coisa ela havia trocado de número talvez para se livrar de mim, ela sabia que assim que eu lê-se aquela carta correria atrás dela. Também fui atrás do médico que cuidava dela mas ele não quis me dizer onde ela estava, eu estava enlouquecendo ficar esse tempo sem vê-la e sem ouvir a sua voz estava me deixando completamente maluco.