Capítulo 25

Contei todo o plano que eu tinha em mente para Marissa e confesso que doía meu coração contar tudo aquilo para ela, quando eu tive essa ideia eu pensei que não precisaria por em prática tudo aquilo, mas agora era preciso para o bem de todos principalmente para o bem de quem eu mais amava, Joe.  Tomei um banho bem relaxante enquanto Marissa preparava alguma coisa para a gente comer, ela iria passar a noite ali comigo como o próprio Renato recomendou, eu não poderia ficar sozinha a partir de agora e ninguém melhor que Marissa para ficar comigo já que ela era a única que sabia de toda a verdade. 

Comemos, conversamos um pouco e logo fui me deitar, ainda me sentia bem fraca e meu corpo clamava por uma cama. Acordei no meio da madrugada com uma febre muito alta o que deixou Marissa desesperada e quase tive que ir para o hospital de novo. Marissa ligou para Renato e ele logo apareceu por aqui para me examinar e ver como eu estava.  

_Está se sentindo um pouco melhor agora Demi?_ Renato havia medicado um remédio na veia quando viu que a febre não sedia e quando eu também comecei a ter alguns delírios por causa da febre.  

_Estou um pouco melhor. Obrigada por vir Rê. 

 _Não precisa me agradecer Demi, sou seu médico e amigo é o meu dever vir te atender. Marissa medique esses remédios para ela a partir de amanhã e não deixe essa mocinha sozinha de maneira alguma. 

 _Pode deixar Renato. Demetria não vai se ver livre de mim em nenhum momento.  

_E Demi, não se assuste caso apareça algumas manchas pelo seu corpo. São manchas meio arroxeadas como se fosse algum hematoma por pancada, as manchas são características da doença e como agora você está sem nenhuma medicação é bem provável que elas apareçam pelo seu corpo a partir de agora, e se mantenha em repouso. 

 _Tudo bem, obrigada Rê.  

_Não precisa me agradecer e qualquer coisa não exite em me ligar a hora que for.  

Marissa levou Renato até a porta e logo voltou para o quarto.  

_Você precisa contar para ele Demi, você não pode ficar ignorando Joe até ficar um pouco melhor para vê-lo  

_Eu não consigo Marissa, Joe não merece nada disso que está acontecendo comigo. Eu vou pensar em alguma coisa, eu só não queria falar sobre isso agora, não quero ficar pior do que eu já estou.  

A noite se arrastou depois disso tudo o que aconteceu, eu não consegui mais dormir, primeiro que eu estava com dores horríveis na coluna e segundo que eu só conseguia pensar em Joe e em Olívia.  Ele havia me mandado uma mensagem a poucos minutos atrás perguntando como eu estava e se poderia vir com Olívia até minha casa me visitar e eu estava ali a dez minutos olhando para a tela do celular sem saber o que responder, eu poderia simplesmente ignorar e fingir que ele não existia pelo menos por alguns dias até ver se alguma coisa havia melhorado mas eu não conseguia, o amava demais para o deixar sofrer desse jeito, apesar de que eu iria faze-lo sofrer daqui a algumas semanas.  

***  

Uma semana havia se passado desde que todo aconteceu e a uma semana eu estava ignorando Joe de todas as formas possíveis, não respondia suas mensagens e nem atendia nenhuma de suas ligações, ele tentou diversas vezes me ver mas Marissa sempre dava uma desculpa qualquer até que a dois dias atrás ele parou de insistir em me ver e aquilo doeu, talvez ele tivesse desistido de nós, talvez ele estava pensando que eu só queria brincar com seus sentimentos durante todo esse tempo em que passamos juntos, talvez ele estivesse pensando que eu estava com outro nesse momento. 

Eram tantos talvez que se passava pela minha cabeça mas eu ainda não podia contar toda a verdade para ele.  Assim como Renato havia dito apareceu algumas manchas roxas em minha pele, a maioria delas pela perna, algumas na minha barriga e outras no braço que já havia desaparecido.  

Hoje eu acordei decidida de que teria que fazer algo para ver Joe e tentar contar toda a verdade para ele, eu me sentia um pouco melhor e mais forte hoje, então mandei uma mensagem simples para ele que viesse jantar aqui em casa hoje que eu precisava conversar com ele sobre muitas coisas que estavam acontecendo comigo, mas eu não obtive resposta, mesmo assim preparei tudo e estava esperando por ele.  Por voltar das 20:00 horas minha campainha tocou e meu coração disparou, eu sentia que era ele.  

_Boa noite Joe_ Assim que abri a porta e vi aquele homem maravilhoso na minha frente meu coração começou a disparar ainda mais e eu comecei a entrar em desespero, eu não conseguia olhar para seu rosto, eu me sentia envergonhada e culpada por esconder tudo o que estava acontecendo comigo para ele. 

 _Boa noite Demetria_ Seu tom de voz era firme e bem frio. Ali pude sentir que eu havia o machucado.  

_Entra, fica a vontade.  

Joe passou por mim e se sentou no sofá que ficava de frente para a porta.  

_Olha eu nem sei o que estou fazendo aqui, na verdade eu não deveria nunca mais olhar para a sua cara. Como alguém pode brincar com os sentimentos de outra pessoa assim? Eu não acredito que você estava com aquele babaca do Nicholas esse tempo todo em que esteve comigo Demetria.  

Joe não me deixou sentar e começar a explicar tudo o que estava acontecendo, ele simplesmente começou a despejar tudo isso assim que fechei a portar e me virei para ele.  

_Como assim? Eu não estou entendendo nada do que você está falando Joe. 

 _Não se finja de vitima Demetria, porque de Vítima você não tem nada, querer brincar com os meus sentimentos tudo bem. Agora brinca com a minha filha que é apenas uma criança que coloca você em um pedestal, isso eu nunca vou perdoar Demetria.  

_Quem disse esse absurdo para você? Tem semanas que não vejo Nick. Eu nunca varia isso com vocês Joe. Eu amo você. 

 _Foi o próprio Nicholas quem me disse isso, ele foi até o escritório a três dias atrás me contar sobre isso e sua mãe me confirmou isso, não sei como ela conseguiu meu número, só sei que me ligou e falou um monte de besteiras para mim e eu que nem um idiota te mandando mensagens, ligações e vindo até a sua casa enquanto você com certeza estava se divertindo com aquele filho da puta.  

_Não é nada disso Joe, eles estão mentindo para você. Meus pais sempre quiseram que eu me casasse com Nick, mas eu nunca o vi como um homem por quem eu poderia me apaixonar, Nicholas nunca passou de um irmão para mim, meu motivo para me afastar de você e de Olívia são outros.  

_Então me diga que motivos são esses, porque eu realmente quero entender essa confusão toda.  

_Eu não consigo dizer Joe, Deus sabe de quantas vezes eu já tentei te contar toda a verdade, mas eu simplesmente não consigo. Eu escrevi uma carta para você, mas peço que leia só amanhã por favor.  

_Eu não deveria aceitar nada de você, mas eu quero ler essa carta e saber tudo o que você tem a me dizer_ Ele disse assim que pegou a carta da minha mão, eu estava aos prantos e ver aquele olhar frio que Joe me dava fazia meu coração doer ainda mais._Agora eu preciso ir, eu não mereço perder mais nenhum tempo com você.  _

Tudo bem, eu só peço que leia a carta amanhã para saber o real motivo eu escondo de você.  

Joe não disse mais nada simplesmente se virou e foi embora e eu fiquei ali naquela sala vazia e fria chorando por todo o inferno em que minha vida havia virado de novo. Sentei-me no sofá e passei uma mão por meu rosto, eu estava destruída por dentro e por fora. 

A minha vontade era de gritar, de correr, de ir atrás de Joe e dizer que eu precisava dele perto de mim, queria fazê-lo ficar comigo naquela casa, naquela fase difícil, de sua voz me dizendo que tudo daria certo, que eu ficaria bem.  Peguei meu celular e o encarei por longos minutos, sentindo cada gota de lágrima se desfazer em meu rosto. Ainda teria de enfrentar a pior parte: Contar para meus pais. 

Criei coragem e procurei na agenda o número da casa de meus pais e disquei. Após chamar algumas vezes a voz de meu pai soou do outro lado.  

_Demi, minha filha._ Ele parecia surpreso e feliz.

_ Quanto tempo, nós sentimos muito a sua falta.  

_Eu também papai._ suspirei pesadamente, procurei ao máximo não parecer desesperada ou algo do tipo.

_ A mamãe está em casa?  

_Está._ ele pareceu por um momento surpreso.

_ Quer que eu passe para ela?  

_Na verdade eu quero falar com vocês dois ao mesmo tempo.  

_Aconteceu alguma coisa?_Seu tom de voz se tornou preocupado.  

Suspirei mais uma vez, eu podia sentir as lágrimas pedindo passagem. Engoli em seco.  

_Só a chame, por favor._ mantive o tom. 

Esperei alguns segundos e escutei o que me pareceu passos, ouvi também um curto diálogo dos dois sobre mim.

  _Demi? Filha?_ era minha mãe. Fechei os olhos e uma lágrima escorreu._ Eu senti sua falta. Tudo bem?_ hesitei, pensei em desligar o telefone, e então as lágrimas já não fizeram cerimônia.  _Demi o que aconteceu?_ foi a vez de meu pai, provavelmente estivessem na viva-voz.  _Filha, me conte._ Minha mãe elevou um pouco o seu tom de voz._  Foi aquele homem, não é? Joe, sim, tenho certeza de que é culpa dele. O que ele fez a você? Eu disse, eu te disse que ele não era homem ideal para você, Nick sim, ele não te mago...  

_Estou com câncer._ a interrompi, minha voz saiu trêmula, porém nítida o suficiente. As palavras de minha mãe anteriormente não fizeram com que as coisas melhorassem. Respirei fundo mais uma vez, o silêncio que se instalou foi desconfortável._ Desculpa não ter contado antes, eu pensei que pudesse controlar a situação.  

_Vai ficar tudo bem meu amor._ Papai disse, eu não preciso vê-los para ter certeza de que choravam e de que suas feições eram de espanto e talvez certeza.

_ Onde você está?  

_Não importa agora._ enxuguei meu rosto e funguei._ Amanhã estarei fora da cidade, vou para um lugar fazer o tratamento.

 _Não._ minha mãe interveio._ Você vem para casa, ou nós vamos até você.  

_Sinceramente eu não vejo um por quê._ Respondi._ Eu posso fazer isso, você já fez de mais terminando o meu relacionamento mamãe.  

Mordi meu próprio lábio, repreendendo a mim mesma pelas palavras rudes.  

_Eu fiz pelo seu bem. 

 _Nick não é o meu bem._ elevei minha voz. 

Fechei os olhos na tentativa de me controlar. O barulho da porta abrindo chamou minha atenção, era Marissa com algumas coisas na mão.

_ Já sou grande o suficiente para decidir com quem eu me relaciono, e Joe é essa pessoa certa, ou pelo menos era antes de... Não importa. Eu o amo, não Nick.  

_Se esse Joe fosse o homem ideal para você ele não te deixaria._ bravou.  

_Não faz diferença agora mãe. _ me levantei._ Preciso desligar, até logo.  

_Ligue para nos manter informados, por favor._ Papai pediu.  

_Tudo bem. Tchau._ Desliguei o telefone e encarei minha amiga, ela estava parada me olhando e não precisou de muito para que andasse até mim me envolvendo em um abraço._ Está tudo uma droga.  _Vai ficar tudo bem, eu prometo._ ela disse beijou o lado de minha cabeça.  Eu não sabia até quando tudo isso duraria, mas eu precisava ser forte, de qualquer maneira.   

Joe P.O.V. 

Não sei bem como consegui chegar em casa, no mesmo momento em que entrei no carro perdi a noção de distância e velocidade. Por sorte Olivia estava na casa de meus pais, o que me renderia algumas horas de solidão. Todo momento minha cabeça girava com as palavras da mãe de Demi, com as palavras de Nick.  

“A porta se abriu em um solavanco, levantei meu olhar para ver o motivo de tanta euforia, Nicholas Jones, amigo de Demi estava parado perto da minha mesa me encarando, retirei os óculos de grau e o encarei com o cenho franzido. Logo atrás minha secretária tentava recuperar o fôlego lançando para mim um olhar de preocupação.

  _Me desculpe senhor Jonas, ele entrou antes que eu pudesse impedir._ Se desculpou, fiz um sinal com a mão e ela ajeitou sua postura.  

_Pode nos deixar as sós._ pedi e ela assentiu saindo logo em seguida._ Posso ajudar? 

 _Claro que pode._ ele disse ríspido._ Se afastando da minha namorada.  

Franzi o cenho mais uma vez. 

 _Não entendo.  

O rapaz riu de forma cínica e colocou as mãos na cintura. 

 _Pare de mandar mensagens para Demi, ela não quer saber de você, pare de perturbá-la._ gesticulou com as mãos. _ Entende? Você perdeu Jonas, ela é minha.  

Levantei-me e apoiei minhas mãos sobre a mesa, encarando-o. Porém antes que eu pudesse dizer algo ele saiu a passos largos e pesados. Fiquei com meus pensamentos, não fui atrás, apenas associei suas palavras com o sumiço de Demi, era a única explicação.” 

 Mais tarde foi a vez de Dianna me ligar e sem razão me insultar, foi a gota d’água. Peguei o envelope dobrado em meu bolso e o encarei, por mais que ela tivesse pedido para que eu lesse somente no dia seguinte, a curiosidade e o sentimento de traição me dominavam, peguei o papel dentro do mesmo e o desdobrei, logo reconheci a letra, escrita de forma cuidadosa de Demi e comecei a ler. 

 “Sinto muito pela covardia de não conseguir te contar isso pessoalmente, eu queria, juro que nunca quis te machucar, muito menos machucar Olívia, porém depois do que você me contou sobre a mãe dela, eu não fui capaz, toda minha coragem, toda a minha vontade de ter vocês dois ao meu lado foi tomada pelo medo. Medo de causar a mesma dor de antes, o meu futuro é incerto, talvez eu saia dessa bem e curada e talvez eu não saia... e você sabe disso.  Há alguns meses eu fui diagnosticada com câncer.”  

Minhas mãos apertaram o papel involuntariamente, senti as lágrimas passeando por meu rosto. As últimas haviam saído trêmulas, a imaginei escrevendo e o quanto isso deve ter sido difícil. Os acontecimentos estranhos nos últimos meses começavam a fazer sentido. Respirei fundo e continuei a ler. 

 “Foi depois que nos conhecemos. Pensei que tomando a medicação corretamente tudo ficaria bem, como meu próprio médico me disse. No entanto, não saiu como planejado, a doença persistiu e eu tentei ao máximo esconder isso de você, de todos aliás. A decisão que tive foi de seguir com o tratamento desta vez, mais forte. Longe desta cidade, então não tente me procurar, suas tentativas serão falhas e isso só causará mais sofrimento para nós dois.  Acredite, não fiz por mau. Só não quero correr o risco de machucar você e Olivia, como já foram machucados antes. Sigam suas vidas e se esqueçam de mim.  Fiz isso por que amo vocês, amo Olivia como se fosse minha e amo você, amo como não pensei que poderia, depois da morte do Ronny, eu não me via capaz de amar alguém, capaz de me abrir para alguém, mas você conseguiu fazer isso, você me mostrou que ainda valia a pena, obrigada! Eu te amo mais do que você possa imaginar.  Conte a Olivia que eu a amo. E quem sabe um dia podemos nos encontrar novamente, por coincidência por ai, saiba que eu quero te ver feliz, não me importa como, apenas seja feliz.  
Até um dia,  
Todo amor.  
Demi.”