Chapter Fourteen

Demetria Narrando

Eu tinha tomado uma decisão, depois da discussão que eu tivera com meu pai as coisas ficaram claras, não importava que ele não concordasse, eu faria aquela peça, por bem ou por mal, ele não precisava saber, ele não tinha nada com isso, ele não mandaria mais na minha vida, eu não ia permitir. Fui à escola aquela manhã, mantive minha cabeça erguida, sorri pra todo mundo, fingi que estava tudo muito bem. Recebi as falas que ensaiaríamos na peça semana que vem e começaria a estudá-las assim que as aulas com Joseph terminassem.

Ah, aquelas aulas... Eu não sei como deixei aquilo acontecer no dia da festa, eu estava totalmente bêbada e fora de mim, mais ainda lembrava de cada detalhe, o beijo, o corpo dele pressionando o meu, e às vezes até me perdia imaginando o que teria acontecido se minha mãe não estivesse ali pra interromper, meu corpo ardia só de pensar. Eu tinha que tirá-lo que da cabeça. Quando deu a hora da nossa aula eu convenci a mim mesma que o melhor pra nós dois era continuar brigando, éramos diferentes demais como ele mesmo já havia dito outras vezes, seria melhor cortar o mal pela raiz.

__Vamos começar com matemática hoje__ ele disse sorrindo.

__Essa chatice__ revirei os olhos e olhei pras minhas unhas__ não tem nada mais fácil ou menos entediante.

__Não, não tem__ ele me olhou desconfiado, devia estar confuso com o meu jeito, afinal eu tinha me comportado nas aulas recentemente, mas estava na hora de mudar isso.

__Então comece logo isso__ ordenei apressada__ tenho mais o que fazer do que ficar aqui com você, anda.

Ele me encarou por um momento, parecia dividido entre a confusão e a raiva. Eu estava irritando ele.

__Trouxe uma folha de exercícios pra você__ ele estendeu a folha pra mim e eu peguei__ é digitada, então não pode mais reclamar da minha letra feia.

Olhei pro papel, tentei entender o que estava escrito em cima, no titulo, e pareceu mais ou menos assim: ECIXICOSER ED TETIMACAAM. Amaldiçoei novamente aquela droga de dislexia que parecia ficar cada vez pior, que desculpa eu daria a ele pra não ter que ler aquilo? Eu ia precisar de tempo pra decifrar tudo, e eu não tinha isso, muito menos paciência.

__Não estou a fim de fazer isso__ larguei a folha sobre a mesa.

__São só três exercícios e fáceis, eu te ajudo__ insistiu e me entregou novamente a folha.

Olhei novamente pra folha, fiz um esforço pra enxergar direito o que estava escrito.

__Não sei como fazer__ desconversei.

__É fácil, você só tem que multiplicar encaixar os números na fórmula, é questão de interpretação.

Ele começou a exemplificar, mas eu continuava sem entender o que ele escrevia no papel e comecei a ficar nervosa.



__Eu não estou entendendo__ resmunguei impaciente.

__Mas é fácil Demi, presta atenção no que eu estou falando e você vai entender.

__Eu estou prestando, mas não entendo ta legal? Eu não consigo entender isso, é chato e complicado__ praticamente gritei,

__Você é burra ou o que?__ ele se irritou com meu tom de voz elevado__ é a matéria mais fácil de todas até agora e você não consegue entender, talvez o seu pai tenha razão sobre você, se você se esforçasse um pouco mais ao invés de olhar as unhas não seria tão complicado... Só precisa usar o cérebro. Você tem isso não tem?

Eu perdi o controle, meus olhos arderam de raiva, eu queria chorar embora soubesse que tinha provocado aquilo... Só sei que no meio da raiva me levantei da cadeira e passei a mão pela mesa, derrubando todas as coisas dele no chão.

__VAI PRO INFERNO IDIOTA, EU ODEIO VOCÊ__ gritei e sai correndo dali.

Joseph Narrando

Demi saiu correndo, eu não queria ter falado aquelas coisas, mas o jeito como ela estava agindo começou a me irritar, eu pensei que tínhamos superado aquela fase de criancices e que ela ia colaborar nas aulas, obviamente eu estava enganado, levantei pra recolher minhas coisas do chão e a Dona Daiana apareceu.

__Desculpe por isso senhora Lovato__ pedi envergonhado.

__Joseph largue isso um minuto por favor, preciso falar com você__ ela disse séria e me desesperei, ela ia me demitir, ia dizer o que aconteceu pro marido e eu nunca conseguiria a bolsa em Stanford.

Larguei as coisas sem dizer nada e esperei que ela gritasse comigo ou algo do tipo por ter ofendido a filha dela, mas ela continuou impressionantemente calma e serena, como sempre era.

__Demi não queria que você soubesse sobre isso, mas acho que já esta na hora de te contar, pois do jeito que estão às coisas entre vocês isso não vai muito longe__ ela murmurou.

__Saber o que?__ fiquei curioso.

__O problema da Demi durante sua aula, a falta de atenção, as piadinhas__ ela disse__ não se trata apenas de pirraça da parte dela querido, Demi tem um problema de verdade. Ela tem dislexia.

__O que?__ a encarei tentando saber se tinha entendido certo.

__Dislexia, você deve saber o que é__ ela perguntou e eu acenei concordando, era um problema mais comum do que parecia__ essa doença a atrapalha muito, ela tem dificuldade pra ler, pra se orientar em alguns casos e tem também o déficit de atenção que impede que ela fique focada em alguma coisa muito tempo.



__Eu... Eu não sabia disso__ de repente as coisas que aconteciam durante nossas aulas faziam sentido.

__Ela não conta pra ninguém, tem vergonha disso__ me explicou__ não se sinta culpado, a Demi não é fácil de lidar, ela usa artimanhas pra manter as pessoas afastadas e pra evitar que descubram sua doença, por isso a pequena discussão de vocês agora, ela prefere que a achem burra, mas ela não é Joe, a Demi não é quem ela aparenta ser.

Ótimo, eu comecei a me sentir culpado pelas coisas que falei pra ela.

__Sei que pensa que Demi não passa de uma menina mimada, mas ela é uma guerreira, ela luta todos os dias contra essa doença, se esforça mais que qualquer um na escola pra tirar notas boas, e batalha muito pra ser uma atriz, o que é bem complicado nas condições dela, ainda mais quando não se tem o apoio do pai.

__Ele sabe da doença dela?

__Sabe, mais ele acha que é só uma desculpa pra preguiça, que o problema não é sério, e exige muito mais do que ela pode suportar. Ele vive trabalhando e nunca teve tempo pra ela desde pequenininha, ela sempre fez de tudo pra chamar a atenção dele mas nada da certo, ela vive triste pelos cantos, magoada com as coisas que ele fala.



__Eu não imaginava nada disso, achei que...

__Eu sei o que achou__ ela deu um sorriso compreensivo__ eu tenho orgulho da minha filha, cada dia pra ela é uma batalha, e ela sempre supera tudo, sem a ajuda de ninguém além da minha, eu sou a única com quem ela pode contar, mas seria bom se você tivesse um pouco mais de paciência com ela. Se der uma chance, vai ficar surpreso e maravilhado com a menina incrível que existe por trás dessa Demi que você todos os dias. No fundo ela é só uma garotinha assustada, lutando contra o mundo.

__Obrigada por me contar, eu vou... Eu vou ter mais paciência com ela.

__Obrigada por entender.

Ela me lançou outro daqueles sorrisos acolhedores e saiu. Eu realmente não esperava por aquilo, achava que Demi fazia aquelas coisas simplesmente por ser uma menina ignorante e mimada, eu nunca imaginaria que ela tinha dislexia, em pensar que a chamei de burra... Recolhi rapidamente minhas coisas. Eu tinha um assunto a resolver.



Não fazia ideia de pra onde Demi poderia ter ido, só sabia que eu precisava encontrá-la, tinha que pedir desculpas pelo meu comportamento, pelas coisas que falei, ela não merecia ouvir nada daquilo, eu achava que ela não se esforçava, mas ela batalhava ainda mais do que eu, justo eu que achava que sofria pra conseguir o que queria... Acho que no fundo todos tinham sua cruz pra carregar, eu não podia esquecer que não era o único com problemas.

Vaguei por um tempo sem saber exatamente aonde ir, simplesmente querendo achá-la a qualquer custo, mas quando parei um minuto pra realmente pensar percebi que sabia onde ela estaria. Quando estacionei o carro em frente ao teatro abandonado tive certeza de que estava certo, o carro cor de rosa dela estava estacionado ali. Desci do carro e corri até lá dentro. As luzes haviam sido ligadas, e de longe eu a avistei sentada no palco chorando. Meu coração apertou de culpa e cheguei mais perto.

__Demi__ chamei baixinho.

__O que você quer? Vai embora__ ela disse sem olhar pra mim__ não já deixei claro que odeio você?

__Eu queria te pedir desculpas__ continuei ignorando as palavras dela__ pelas coisas que eu te disse, eu não sabia do seu problema, se soubesse eu nunca teria falado aquelas coisas.

__Minha mãe te contou né?__ ela forçou um sorriso, seus olhos vermelhos estava zangados__ eu não preciso da sua pena.

__Não tenha pena de você__ subi no palco e me abaixei perto dela.

__Não? Então o que faz aqui? Sei bem que não gosta de mim__ ela rebateu zangada.

__Eu sei que não nos damos muito bem, mas eu não gosto de ficar brigando com você Demi, estou cansado disso, porque não deixa eu te ajudar?

__Me ajudar?



__Posso te ajudar com seu problema, explicar de forma mais fácil, vou ter mais paciência com você, mas você precisa parar de tentar me afastar, de inventar coisas idiotas pra brigarmos, se você me permitir posso tornar tudo mais fácil, posso te ajudar a mostrar pro seu pai que você é capaz.

__Por quê? Porque quer fazer isso?

__Porque eu sei o que é ter que superar dificuldades na vida, não tenho os mesmo problemas que você, mas tive que crescer sem a ajuda dos meus pais, batalhar pra consegui tudo sozinho, sei como é difícil querer uma coisa e não ter quem acredite em você, mas não precisa ser assim.

__Eu não sei...

__Não precisa passar por isso sozinha Demi, por favor, deixa eu te ajudar__ insisti.

Ela me olhou por um longo tempo, não sabia o que esperar dela, mas concerteza não era aquilo. Ela se desmanchou em lágrimas e me abraçou. Fiquei meio sem jeito, sem saber o que fazer, mas depois a abracei de volta, tentando consolá-la, não gostando de vê-la daquela forma.

__Shh, ta tudo bem__ eu disse.

Demorou um pouco pra que ela se acalmasse, mas quando finalmente parou com os soluços achei agradável o momento, tê-la ali nos meus braços, talvez realmente as coisas pudessem ser de outro jeito, eu queria que fossem.

__Obrigada__ ela sussurrou um tempo depois__ eu nunca tive quem me ajudasse além da minha mãe, eu não quero mais fazer isso sozinha, não sei como enfrentar meu pai mas não quero desistir de tudo, eu preciso de ajuda.

__Eu vou te ajudar__ prometi__ você vai fazer essa peça, e vai mostrar pra ele que é capaz... Não tem que ter vergonha da sua doença Demi, tem que ser orgulhar, isso faz de você uma vencedora.



Ela se afastou do meu abraço pra poder olhar nos meus olhos.

__Se me ajudar e meu pai ficar sabendo, pode não conseguir sua bolsa__ ela me avisou.

__Eu sei__ dei de ombros__ eu tenho batalhado muito por isso Demi e sei que vou conseguir chegar onde quero de uma forma ou de outra, não vou te deixar na mão, é isso que os amigos fazem.

__Então somos amigos?__ ela pareceu receosa.

__Se você quiser, podemos ser__ garanti com um sorriso__ eu posso aturar os seus pitus de patricinha.

Isso rendeu uma risada dela e fiquei feliz.

__Eu quero que sejamos amigos__ ela garantiu com um sorriso e sorrimos juntos como dois idiotas__ posso me acostumar com seus momentos de nerd, no fim das contas você não é tão ruim quanto parece.

__Amigos então?__ estendei a mão pra ela.

__Amigos__ ela concordou apertando minha mão.

Me levantei do chão e a ajudei a se levantar, gostei do brilho que vi nos olhos dela e do sorriso esperançoso, podia dar certo, podíamos fazer isso, éramos diferentes, mais quem não era? Todo mundo precisa de um amigo e de um ombro pra se apoiar de vez em quando, sempre tinha espaço pra mais um na vida do Joe.

__Obrigada... Amigo__ ela disse rindo.

__De nada... Barbie__ brinquei.

Ela me deu um tapinha, mas depois me abraçou de novo e ficamos assim em silencio, em cima do palco... Era um novo começo.

CONTINUA ...

OBS: Eu nao fui rapida gente , so nao quiz deixar vocês esperando. Por isso que postei