Capítulo 3

Joe não se importava com as demais perguntas impertinentes que ela lhe fizera, mas nunca admitiria que tentasse conversar sobre sexo. Ele era um homem muito ocupado. E estava trabalhando em um novo software top secret. 
Ele não era como o seu irmão gêmeo Jake, que encarava o sexo como se estivesse treinando para as Olimpíadas do Amor. Nem era como o seu pai, que tinha uma duvidosa reputação por conta do mulherengo que sempre fora. Lamentavelmente, tratava-se de uma reputação muito bem merecida. 
Joe apreciava a companhia das mulheres. E tinha encontros amorosos de tempos em tempos. Ele gostava da fisicalidade do sexo, mas não da política que sempre era envolvida. As mulheres que levava para o seu quarto acabavam irritando-o. Se ele quisesse se casar e se estabelecer, tomaria sua decisão quando o prognóstico fosse bom, e ponto final. Porém, várias vezes se perguntou se algum dia estaria pronto. Tendo testemunhado o turbulento casamento de seus pais, depois o divórcio amargo, um novo casamento e um relacionamento repleto de dramas, ele não tinha certeza se queria se inscrever como a potencial vítima de tanta perturbação e caos. 
– Eu sei por que você concordou em me aceitar aqui, por isso não se incomode em fingir o contrário. 
O olhar de Demi exalava um brilho obscuro que mexeu com seus hormônios. Ele sentiu uma agitação em sua virilha. Um relâmpago de luxúria fez sua pulsação arterial se multiplicar e agitou o sangue que corria em suas veias. Ele ficou surpreso e profundamente irritado por conta de sua reação a ela. 
Demi, obviamente, sabia do seu efeito sobre o olhar masculino, explorando-o sempre que valesse a pena. Sua beleza incomum, apesar de ter sido minimizada, era do tipo que poderia parar um trem-bala. Ela exalava um ar sensual, e apresentava uma maneira de mover o corpo que o deixava louco de vontade de vê-la caminhando completamente nua. Ele manteve sua expressão camuflada, mas se perguntou se ela sentira o impacto que causara sobre ele. 
Como fui me meter nisso…, Joe pensou. Ele devia ter chamado uma agência. Devia ter contratado uma empregada com credenciais. Alguém com certo treinamento. Com maneiras. Com decoro. Por que permitira que Sophia o convencesse a contratar alguém tão insolente quanto Demi Lovato? E ela viveria sob seuteto… por um mês! 
– Você está enganada, senhorita Lovato – disse ele friamente. – Meu gosto para mulheres é muito mais sofisticado. 
Ela adotou uma pose de femme fatale, com os quadris e os ombros projetados para a frente, e sua boca fazendo uma careta de nojo. 
– Claro que sim – disse ela, com um pouco de brilho diabólico nos olhos, um brilho que combinava com o diamante em seu nariz. 
Joe sentiu o cheiro de sua carne, de sua sexualidade de bronze. As batidas e o ronronar do seu sangue dirigiam cada pensamento racional de seu cérebro. O sexo, de repente, era tudo em que ele podia pensar. Um sexo quente, suado, destruidor. Um sexo alucinante, de homem das cavernas. Um sexo que envolvesse muito calor, suor e que explodisse como uma bomba. Há quanto tempo ele não fazia sexo? Claramente, há muito tempo, já que estava ficando nervoso por conta daquela menina ultrajante. Demi Lovato era uma fábrica de confusões. Ela com certeza poderia levar isso tatuado em sua testa. 
Porém, ele não se apaixonaria por ela. Joe não vivia à mercê de seus hormônios... ou pelo menos nunca vivera, até então. Demi se moveu pelo seu escritório com uma graça felina. Lenta, silenciosa, sensual, perigosa, sempre a ponto de tomar o caminho errado… No entanto, ao observá-la, ele verificou que ela não apresentava garras. Suas unhas tinham sido roídas até o sabugo. Quando ela levantou a mão, querendo afastar os cabelos para longe de seu rosto, Joe notou uma cicatriz branca, com aparência antiga, na pele aveludada de seu pulso. 
– Onde você conseguiu essa cicatriz? – perguntou ele. 
Uma máscara desceu sobre o rosto de Demi enquanto ela empurrava a manga de sua camisa para baixo. 
– Eu quebrei meu braço quando era criança. Fui obrigada a mantê-lo preso e atado. 
Um pesado silêncio pairou no ar. E Joe ficou observando enquanto ela tentava se cobrir, com os dedos puxando e retorcendo o tecido de algodão leve, e percebeu como ela se irritava. Suas sobrancelhas se juntaram, a testa ficou pregueada, sua expressão, chocada. E o intrigava como, rapidamente, ela alterara sua pose de vamp impudente à de uma pirralha destemperada. 
– Gostaria de conhecer um pouco da villa? 
Ela deu de ombros, indiferente. 
– Tanto faz. 
Joe tinha a intenção de pedir a Sophia que desse um passeio com Demi, mas decidiu que ele mesmo iria fazê-lo. E disse a si mesmo que o faria para que pudesse verificar se ela não roubaria algum de seus pertences nem esculpiria suas iniciais (ou mesmo uma palavra odiosa) em uma de suas antiguidades. Por que diabos ele concordara com isso? 
Ele abriu caminho para fora do escritório. 
– Estou percebendo um traço de sotaque inglês – disse ele, enquanto caminhavam pelo longo do corredor. – Você é do Reino Unido? 
– Sou – disse ela. – Mas quando nos mudamos para cá eu ainda era pequena. Meu pai era argentino. 
– Era? – perguntou ele. 
– Ele morreu quando eu tinha três anos. E não me lembro dele, por isso não há necessidade de ficar sentimental nem de sentir pena de mim. 
Joe olhou para ela, que andava ao seu lado. No entanto, ela mal se aproximara de seu ombro. 
– A sua mãe ainda está viva? 
– Não. 
– O que aconteceu? 
– Ela morreu. 
– Quando? 
Demi lançou-lhe um olhar endurecido.  
– Natalia não lhe passou minha ficha? 
Joe sentiu um pouco de vergonha por não ter lido a ficha de Demi com mais calma. No entanto, ele não planejara manter qualquer contato com ela. Além de Sophia, ele não se envolvia com a equipe que trabalhava em sua casa. Eles faziam o seu trabalho, e ponto. 
Aliás, Joe focara excessivamente no ponto em que a ficha de Demi indicava seus pecados. Certas pessoas nasciam ruins, outras passavam por momentos ruins em suas vidas… e algumas acabavam se transformando em pessoas desagradáveis por culpa das circunstâncias. Onde Demi se encaixaria nesse espectro? 
– Eu gostaria que você me dissesse… – insistiu ele. 
– Ela se matou quando eu tinha 17 anos. 
– Sinto muito. 
Ela deu de ombros. 
– Então… e quanto aos seus pais? – perguntou Demi. 
– Os dois estão vivos… e bem. E loucos, como sempre. 
Demi parou na frente de uma pintura. Era uma paisagem, um quadro que ele comprara em um leilão para sua irmã. Miranda era restauradora de arte… sendo outra dos irmãos Jonas que decepcionara seus pais por não querer pisar em um palco. 
Demi retomou a caminhada de braços cruzados, descruzando-os somente para pegar alguns objetos que ele mantinha em exposição, analisá-los em suas mãos e guardá-los novamente. Joe esperava que ela não os estivesse avaliando para roubá-los mais tarde. 
– Você tem irmãos ou irmãs? – perguntou ela, depois de um longo silêncio. 
Joe estava considerando aquela uma experiência nova: era raro encontrar alguém que não soubesse nada sobre sua família. Aquela menina não tinha smartphone? Acesso à internet? Não lia jornais nem revistas de fofoca? 
– Eu tenho um irmão gêmeo e uma irmã dez anos mais jovem que eu. 
Ela parou de andar e olhou para ele. 
– Vocês são idênticos? 
– Sim. 
Seus olhos, de repente, dançaram com uma malícia travessa, transformando completamente as suas feições. 
– E você já trocou de lugar com ele? 
Joe a encarou com o que sua irmã mais nova chamava de expressão “estou muito velho para tanta bobagem”, e respondeu: 
– Não fazemos isso há muito tempo. 
– Os seus pais conseguem distinguir vocês dois? 
– Agora sim, mas quando éramos jovens não – disse ele. 
Principalmente porque eles não conviviam muito. Para eles, a fama era muito mais importante do que a família. 
– E você? Tem algum irmão? – perguntou Joe. 
– Não. 
Seu sorriso de covinhas desapareceu, e o vinco em sua testa era bem visível quando ela retomou a caminhada ao longo do corredor. 
– Sou filha única… 
Joe notou algo em seu tom de voz que sugeria um sentimento de resignação, além de uma profunda solidão. Ele não esperava sentir pena dela. E tinha fortes convicções sobre o que constituía um bom e um mau comportamento. Aliás, a lei era a lei, e quebrá-la pelo simples fato de ter tido uma infância difícil não era uma desculpa boa o suficiente, em sua opinião. 
No entanto, algo naquela menina o intrigava. Ela era a luz e a escuridão. As sombras da lua e o sol brilhante. Ela personificava um quebra-cabeça complicado e que seria muito difícil de resolver. 

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