No final das contas, era possível que a missão de sua governanta se revelasse muito mais interessante do que ele imaginava.
Demi parou na frente das janelas com vista para o jardim principal.
– Você mora aqui sozinho? – perguntou ela.
– Sim. Os empregados da casa também moram aqui, mas eles têm quartos separados. Sophia é exceção. Ela tem uma suíte no andar superior.
Demi se virou e o encarou com um olhar direto.
– Parece um lugar muito grande para uma única pessoa.
– Eu gosto de ter o meu próprio espaço.
– Deve custar um caminhão de dinheiro manter este lugar em bom estado.
– Eu consigo manter.
– Sim, eu sei… mas dinheiro e posses não me impressionam – disse ela, virando-se para novamente olhar em direção aos jardins.
– O que a impressiona?
Ela virou o rosto para ele e inclinou um dos quadris, tanto que a alça de sua fina camiseta, comprada em uma rede de lojas baratas, caiu, revelando a pele sedosa de seu ombro. Ela o olhava com olhos afiados.
– Vejamos... – E trincou os lábios, deixando-se levar por seus pensamentos, antes de exalar uma lufada de ar. – Fico impressionada por homens que sabem como explorar o corpo de uma mulher.
Joe estava fazendo o impossível para não pensar em seu pequeno corpo nu… ou no caos que sua boca de lábios grossos poderia causar se ele chegasse muito perto dela. A sensação era de que Demi o estava testando. Testando seus limites e motivações, querendo ver se ele tinha a intenção de explorá-la…
Será que ela fora explorada nesse sentido antes? Era assim que ela enxergava todos os homens… como manipuladores? Como intimidadores?
Ele podia ser um homem que gostava de fazer tudo à sua maneira, mas jamais descreveria a si mesmo como um machão. Podia ser arrogante às vezes, e teimoso, mas insistia no fato de que as mulheres deviam ser tratadas com respeito. Ter uma irmã mais jovem, tímida e reservada, instilara nele a importância de que os homens assumissem uma posição contra todas as formas de violência contra as mulheres.
– É isso? – perguntou ele. – Você só está interessada na perfomance masculina?
– Claro – respondeu ela, com os olhos brilhando. – A forma como os homens mantêm relações sexuais diz muita coisa sobre eles. Se são egoístas ou não. Se são tensos ou casuais. – Ela bateu dois de seus dedos contra a boca, de uma maneira pícara: – Vejamos você, por exemplo.
Nada disso, ele pensou.
– Essa teoria é realmente fascinante, mas eu acho…
– Você é um homem que gosta de estar no controle – disse ela. – Você gosta de ordem e previsibilidade. Nunca faz nada por impulso. Sua vida é planejada, calendarizada, agendada à enésima potência. Estou certa?
Joe não ficou muito confortável ao ter sido rapidamente categorizado como o dono de um estereótipo chato, como nada além de um clichê. Ele gostava de pensar que não era tão previsível. E tinha suas nuanças, claro que sim. Tinha várias camadas de personalidade, mas que demoravam para ser localizadas.
Ele era capaz de passar muito tempo no terreno da lógica e da razão, mas isso não significava que não soubesse usar o lado direito do cérebro… ainda que bem ocasionalmente.
Ele deu um passo em direção à porta mais próxima.
– Esta é a biblioteca – disse ele. – Pode se servir de livros, desde que não os roube nem jogue fora.
– Está vendo? – perguntou ela, dando uma risada de escárnio.
– Eu sabia…
E o encarou, antes de seguir à próxima porta do corredor.
– Esta é a sala de música – disse ele.
– Deixe-me adivinhar – disse ela, com outro de seus sorrisos de escárnio. – Você não se importa se eu tocar piano, desde que meus dedos não estejam pegajosos e eu não deixe cair migalhas entre as teclas. Estou certa?
Joe percebeu que ela o pintava como um homem cada vez mais chato. Porém, o que lhe dera o direito de usar termos tão depreciativos? Ela o fazia soar como uma espécie de obsessivo.
– Você toca algum instrumento? – perguntou ele.
– Não.
– E gostaria de aprender?
A música também serve para domar a selvageria, certo? Ele poderia contratar um professor para Demi. Umas aulas de piano, ao menos, a manteriam fora do seu caminho.
– O quê? – perguntou ela, com um brilho cínico de volta ao seu olhar. – Você acha que eu poderia aprender a tocar piano em um mês?
– Eu tenho outros instrumentos.
– Sem dúvida… deve ter mesmo.
E o encarou, com um olhar travesso.
– Flauta. Saxofone tenor.
Ela o encarou, com sua boca carnuda curvada em um arco de zombaria.
– Impressionante… Como não adorar um homem que é bom de boca e habilidoso com as mãos?
Joe enfiou as mãos nos bolsos da calça. Por que ela estava sendo tão descarada? Por que o constrangia? Para provar que ele era tão previsível quanto os demais homens?
Mas o que ela esperava ganhar com isso? Ele seria apenas mais um troféu do sexo masculino sobre o qual ela tripudiaria? Outro homem que ela mataria com seu fascínio sensual?
Ele não se apaixonaria por ela. Não tinha tempo para jogar o seu jogo vazio. Ela poderia pensar que ele era previsível, que não passava de um clichê, mas Joe não viera ao mundo para isso. Demi poderia flertar, provocar e ameaçar o quanto quisesse, pois ele não cairia em sua armadilha mortal. Ele podia ser filho do seu pai, ter o mesmo sobrenome e a mesma aparência, mas os dois não compartilhavam a mesma natureza humana.
– Vou deixar que Sophia lhe mostre o resto da casa – disse ele em tom formal, terminando de vez com aquela visita.
– E não vai me mostrar onde eu vou dormir? – perguntou ela.
– Eu não sei onde Sophia alojará suas coisas.
E espero que não seja muito perto de mim, Joe pensou, depois girou o corpo e caminhou, rapidamente, para bem longe.
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