— Bongiorno, Signor Jonas. Meu nome é Demetria Lovato, e tomarei conta do senhor durante sua estadia aqui em Jolie Fleur.
O rosto pálido e aristocrático continuou impassível.
— Não preciso que tomem conta de mim. Foi por isso que não fiquei no mar. Muita gente a minha volta. Tudo que fazem é me atrapalhar — resmungou, ele, em um inglês impecável e com o sotaque de um imperador romano.
Demi não conseguiu pensar em mais nada exceto no medo de explicar como era tola.
Então, a dez passos de distância dela, a expressão de Joseph mudou de distraída para pensativa. Ele ficou imóvel.
Demi tentou recuar, mas bateu com os calcanhares na madeira da porta. Não havia como escapar. Ela se encolheu enquanto ele a fitava de lábios franzidos. Demi não sabia o que falar. Era o pior pesadelo da sua vida. Tentou dizer a si mesma que não se importava com a opinião que ele tivesse a seu respeito.
Entretanto, na verdade, se importava muito. Empregados deviam ser discretos e silenciosos. E ali estava presa e sem esperanças de se movimentar. Terrível.
Por que ele precisa ser tão bonito? Pensou. Seria muito mais confortador se fosse velho ou feio ou se esbravejasse comigo... Qualquer coisa seria melhor do que suportar esse olhar de interrogação e esse silêncio...
— Bem! O que temos aqui? — Joe acabou por murmurar. — Você está presa.
Que novidade! Replicou Demi para si mesma, mas o brilho de zombaria nos olhos dele era óbvio. Então aquiesceu com um gesto de cabeça e tentou sorrir.
— Sou... A governanta de Jolie Fleur, e farei tudo que puder para tornar sua estadia o mais agradável possível... Embora não saiba como farei isso presa nessa porta, acrescentou em silêncio.
Ele a fez se sentir ainda mais presa com um olhar.
— Tudo? — questionou ele com um sorriso malicioso. — Quer dizer que meus desejos serão ordens? É perigoso dizer isso, signorina, em especial quando parece estar imobilizada!
Demi gaguejou alguma coisa com a mente fervilhando de vergonha.
— Também fiquei preso... Naquele maldito barco — acrescentou Joe, em um arremedo de consolação.
Demi se armou de coragem para tentar explicar.
— A porta se fechou com um estrondo devido à ventania que o helicóptero provocou ao descer. A chave está no meu bolso, mas não a alcanço — murmurou, com a voz tão fraca que mal se reconheceu.
Para sua surpresa, Joe balançou a cabeça em sinal de compreensão.
— Precisa tomar mais cuidado. É uma porta muito pesada, Demetria. Teve sorte de prender só o vestido. Podia ter perdido os dedos.
O coração de Demi acelerou. Fitar aqueles olhos escuros provocava um estranho efeito nela. Nenhum dos defeitos que haviam lhe contado sobre Joe a interessavam agora. Esse era um homem que tivera muitas experiências. Podia ler em seu rosto. Devia ter trinta e tantos anos e os vincos entre as sobrancelhas davam caráter às suas feições bonitas; porém, para Demi, Joe era mais lindo quando sorria.
— Minhas chaves... — tentou dizer, mas não conseguiu, e só emitiu um ruído. Limpando a garganta de leve, tentou de novo: — Estão no meu bolso, mas não consigo alcançá-las.
— Então está tudo resolvido — disse ele, se aproximando. Quanto mais Joe se aproximava, mais ela sentia as faces em fogo e mais lindo ele lhe parecia.
Sua aura de confiança deveria deixá-la tranquila, porém o efeito era justamente o contrário. Demi parecia hipnotizada, apesar de Joe não perceber. Estava concentrado na cintura dela.
— Se pudesse virar de costas... — sugeriu.
— Como? Estou presa!
— Vou lhe mostrar.
Ele pousou as mãos em seus ombros, fazendo-a estremecer.
— Demetria! Quem vir sua reação vai pensar que sou um monstro — comentou rindo.
— Desculpe — murmurou ela.
— Não se preocupe, tentarei ajudá-la.
Assim dizendo, ele a fez se virar... Não para a esquerda, como ela imaginara, mas para a direita. Ela ficou de nariz para a porta.
Já não podia vê-lo, porém não precisava.
A presença dele mandava sinais de que estava apenas pensando em termos práticos e que não tentaria nada de ultrajante.
— Continuo não podendo enfiar a mão no bolso — queixou-se ela.
A fragrância da colônia cara que Joe usava chegou as suas narinas e ele perguntou:
— Que tal se eu tentar?
Demi aquiesceu com um gesto de cabeça. O toque dele foi vagaroso. Parecia uma carícia. Ela tentou se controlar. Impossível.
— Não... Por favor... Não faça isso... — protestou debilmente. Sentiu o calor da mão máscula penetrando no tecido do uniforme.
Demi pressionou o rosto de encontro à porta e tentou se, manter fria.
— O que foi Demetria?
— Nada.
Só que é a primeira vez que sou tocada assim por um homem, refletiu consigo mesma.
Os dedos pararam ao encontrar o que procuravam, e ela prendeu a respiração. A mão penetrou no bolso e se fechou no chaveiro.
— Agora... Creio que vou ter que me aproximar ainda mais de você para alcançar o buraco da fechadura...
Demi não conseguia falar. Ele se inclinava sobre ela enquanto procurava a fechadura. Quando sua mão direita circundou a cintura fina, Demi sentiu um nó na garganta.
Ouviu-se um ruído seco e a porta se escancarou. A mão que a prendia se afastou e Joe deu um passo atrás.
— Está livre — disse, fazendo um aceno na direção da entrada sorrindo. Então uma brisa os envolveu, e Demi voltou à realidade. Tratou de segurar a porta para que ela não batesse de novo.
— Obrigada, senhor Jonas. Vou levá-lo até sua suíte. Depois faremos um passeio por Jolie Fleur, se quiser... — murmurou ansiosa para se tornar eficiente de novo.
— Não... Ficarei bem — interrompeu Joe. — Não precisa se preocupar comigo, vá fazer o seu trabalho. Posso perfeitamente me orientar sozinho pela casa.
— É claro, signor.
Demi fez um cumprimento de cabeça e deu meia-volta.
— Aonde vai?
— Vou trocar de roupa... Este uniforme está todo amassado. Moro no ateliê que fica logo ali.
Ele franziu a testa.
— Por que não mora na casa principal?
— Sou uma funcionária temporária, signor. Portanto, não pertenço á casa.
— Mas Terence Bartlett me disse que a casa estava deserta, deve haver muitos quartos vagos. Toda a sua equipe está com ele no iate. Só por isso pedi que me deixasse aqui, para ter mais privacidade.
— Para falar a verdade — murmurou Demi -, prefiro morar longe da casa principal, signor. Gosto de ficar; sozinha então o chalé é ideal.
— Quer dizer, o ateliê? — corrigiu ele devagar.
— Sim. Há muito material e equipamentos ali, mas nada é usado ou foi aberto.
— Terence nunca teve tempo ou talento para usar o ateliê - comentou Joe com seriedade. - A construção é boa?
— Maravilhosa signor— sorriu ela.
Morar em um lugar que possuía um ateliê onde um dia alguém poderia criar uma obra de arte era outro motivo para Demi adorar Jolie Fleur.
O lugar era tão lindo que pedia para ser desenhado ou pintado. Gostaria de ter um pouco do material abandonado no ateliê no seu próprio apartamento. Então se lembrou de que de nada lhe serviria, pois não ousava tentar.
— Será que posso dar uma olhada no ateliê?
Como ela poderia recusar? Afinal, Joe seria o patrão temporário enquanto o senhor Bartlett estivesse ausente. Aquiesceu com um gesto de cabeça. A ideia de um homem se metendo em seu espaço particular normalmente a faria ranger os dentes, entretanto havia algo nesse homem que fazia com que concordasse com toda a naturalidade. Não desejava aborrecê-lo, porém esse não era o único motivo. Nos poucos minutos desde que ele deixara o helicóptero, Demi percebera uma coisa.Joseph Jonas podia estar acostumado com a companhia de astros e bilionários, mas era a pessoa mais natural e sem afetação que ela já conhecera. E também não esbanjava palavras. Outro ponto positivo. Ela preferia um patrão que ficasse calado e a deixasse trabalhar em paz. Mas, apesar de ser tão carismático signor Jonas a perturbava muito. Demi conhecia seu lugar. Ele estava de férias e a tarefa dela era mantê-lo contente sem se meter no seu caminho.
Ficou imaginando se passaria muito tempo na Villa ou se ficaria ausente quase sempre. E, será que teria companhia? Começou a refletir que observá-lo de longe seria muito mais divertido do que se esconder completamente...
Continua ...
Próximo capítulo no domingo amores, espero que gostem :)
O capítulo de domingo irá sair a tarde, acredito que as 15:00 horas já tenha capítulo aqui no blog
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Espero que tenham gostado do capítulo :*