Maratona 2/5
DEMI
resmungou um palavrão, quando as portas do elevador se abriram. Estava no
escritório, pronta para começar o trabalho, quando Joe ligara, exigindo sua
presença no escritório dele. Não, não iria ao dela. E não, aquilo não era
negociável.
Nem
mesmo tivera a decência de dar detalhes sobre o assunto; assim, é claro, a
curiosidade despertara e decidira ir. Mas apenas depois que Thad lhe comprara a
maior caneca de café, para ela levar sua dose diária de cafeína. Passou pelo
corredor e observou o piso de mármore cor de caramelo e as obras de arte nas
paredes. Era muito parecido com a casa de Joe. Opulento e exagerado, diferente
de qualquer outro edifício comercial que já vira.
No
dela, usara a abordagem zen. Pisos de bambu, pequenos jardins de areia. Era um
pouco clichê, mas sentia que tornava a atmosfera de trabalho relaxante.
Andou
em direção à recepção, o balcão de madeira escuro, muito enfeitado no fim do
corredor, satisfeita com o som duro de seus saltos no piso. Era a parte
favorita do estilo que adotara alguns anos atrás. Todos aqueles sapatos negros,
tão sexies. A forma como os passos soavam nas calçadas ou nos pisos de madeira
dura, á faziam se sentir poderosa. Confiante.
Especialmente
depois que aprendera a andar de saltos altos, sem cair de cara no chão.
Aproximou-se
do homem sentado atrás no balcão de recepção. Foi uma surpresa. Imaginara que
Joe teria uma coisinha bonita como assistente. Mas não, era um homem de
meia-idade vestido de terno e gravata.
— Oi, vim ver Joe. Ele está me esperando.
— Sra. Lovato.
— Sim Demi Lovato.
— Já sei. — Olhou de volta para o computador e digitou alguma coisa.
— Se estiver procurando uma hora marcada não vai encontrar.
— Não, estou apenas mandando um e-mail, só um segundo.
Ela
bufou.
— Vou entrar.
— As portas estão trancadas.
Ela
apenas começou a andar sem olhar para trás. Percorreu outro corredor até chegar
a duas portas duplas.
— O que ele acha que isto é? A Capela Sistina? — Tentou abrir as portas.
Estavam trancadas. Joe idiota.
Bateu
com força.
— Sim?
— É seu encontro dos sonhos, Jonas, abra logo.
Ela
ouviu os passos pesados, e então as duas portas se abriram
— Jerry foi difícil com você?
— É esse o nome dele? Sim, me tratou como o inimigo no portão.
— Bem, ele não deve ter visto as notícias desta manhã. Ou viu e está com
medo de você tentar me seduzir para arrancar segredos de mim.
— Eu? Arrancar segredos de você com sedução?
— Você é bem femme fatale, especialmente com toda esta roupa preta.
— Sim, tudo pronto para a espionagem corporativa. Posso entrar?
Ele
deu um passo para o lado, ela entrou. O escritório era tão opulento e exagerado
como o resto do edifício, com mármores e madeiras, peças de arte e vasos. E ali
havia até um tapete muito oriental e luxuoso. Ninguém podia acusar Joe de ser
minimalista.
Ela
se sentou numa das poltronas largas de couro, diante da escrivaninha.
— Então, o que é tão importante para me fazer atravessar a cidade, antes
de tomar meu café?
— Você viu as notícias?
— Estive ocupada. — Estivera evitando-as. Depois do escândalo causado
pelo encontro anterior, ficara apavorada com o que os jornais diriam. E
realmente não queria ver fotos suas com ele.
— Então deixe que lhe mostre. — Sorrindo, pegou um tablet, abriu-o e
mostrou as manchetes, desde publicações tradicionais de notícias até blogs
sobre o caso ardente entre Demi Lovato e Joe Jonas.
O
calor lhe tomou o rosto quando viu as fotos. Cada artigo tinha mais de uma,
reveladoras, sexuais. E a expressão no rosto de Demi era sincera demais. Lá
estava ela; pressionada contra a parede, os braços em torno do pescoço de Joe,
os lábios fundidos. Tinha que admitir que eles eram um casal quente.
— Bem. Uau.
— E isto nem é a melhor parte.
— Oh! Puxa.
— As conversas nos fóruns on-line e nos blogs, não são tão negativas
como as de ontem. Há rumores de uma possível grande fusão. Já estão até
especulando sobre como será o bebê produzido pela Anfalas e a Datasphere.
— Mas não há um bebê.
— Barrows será o bebê. O GPS. Pode imaginar o sucesso desse produto
quando for lançado? É melhor do que imaginamos.
Não
parecia melhor. Estava ficando tonta.
— Você sabe como espalhar um boato, não sabe?
— Não sou só eu. Na era da mídia de massas, estas coisas se espalham
numa velocidade inacreditável. Mesmo se são especulações e meias-verdades, as
pessoas acreditam como se fossem os evangelhos. E uma vez soltas assim, não é
possível apagá-las. Tudo o que pode fazer é usá-las a seu favor.
— Você é o mestre nisso, não é? — Pensou na biografia e em todos os
segredos que havia revelado. Perguntou-se se algum deles era verdadeiro.
Parecia
fantástico demais para ser real. Não podia ser verdade. Menino de rua em Roma,
mal sobrevivendo, conseguindo fazer conexões. Ter encontros com mulheres ricas,
manipulando-as pelo dinheiro. Então economizando, investindo, fundando uma
empresa e se tornando um dos homens mais ricos e poderosos do mundo.
Sim,
inacreditável. No entanto, Joe jamais negara os rumores. Nunca dissera nada
sobre eles. Nunca parecera afetado por eles. Apenas sorria, aquele sorriso
Jonas para o jornalista que perguntasse. Não confirmava e não negava. E os
rumores o tornavam mais popular. As mulheres o amavam e a ideia de que usara o
corpo para conquistar o sucesso, apenas o tornava mais interessante. Raro era
um gênio da computação com um corpo como o de Joe e considerado um homem muito
sexy.
— Não sou um principiante, é verdade. E tudo está saindo como planejado.
Agora o que precisamos é criar um produto para fazer a proposta a Barrows.
— Oh, isso é tudo.
— Somos duas das melhores mentes do mundo, sei que podemos pensar em
alguma coisa.
— Ou matar um ao outro tentando.
— É uma possibilidade.
Ela
mordeu o lábio enquanto pensava no que precisava pedir a ele. Quando tudo
terminasse, voltariam ao que eram antes. Mas tinha que dar prosseguimento ao
plano atual. O futuro que cuidasse de si mesmo.
— Tenho uma coisa. — Tentou parecer casual. — Um evento. E o convite é
para Demi e acompanhante; achei que podia ser o acompanhante desta vez.
— O que é, exatamente?
— O casamento de uma executiva da empresa. É um acontecimento enorme, e
se não formos juntos depois de tudo, podemos estragar as coisas. Se for
sozinha, as pessoas farão perguntas. — Percebeu pelo silêncio dele que não
estava entusiasmado.
— E por que não me convidou ontem?
— Estava pensando numa forma de evitar. Fracassei.
— Não há saída agora, cara mia.
— É evidente, e é por isso que o estou convidando agora.
— E quando é o casamento?
— No próximo fim de semana.
— Sábado ou domingo?
— Todo o fim de semana.
— E por quê?
— Porque teremos que viajar.
— Para onde?
— Algum lugar no Alaska.
— Quem vai ao Alaska para se casar?
— É num lindo resort. E a família da noiva é de lá.
— E quer ir comigo para o Alaska para o fim de semana. Como um casal?
— Bem. Sim Vamos lá, Joe, sabe que se for sozinha, haverá mais problemas
do que se formos juntos. Há todo este falatório on-line, e quando fizermos a
proposta a Barrows, ninguém se surpreenderá. Na verdade, todos estarão ansiosos
para conhecer o bebê que resultará da nossa união.
— Verdade.
— Diga seu preço. Posso deixar o dinheiro sobre sua mesinha de cabeceira
a cada manhã. — As palavras flutuaram no ar e não como ela tencionava. Tentara
fazer uma brincadeira e a coisa se tornara idiota. Balançou a cabeça. — Ah, fui
grosseira. Desculpe, não tive a intenção.
— Não se desculpe, cara mia. — Sorria, mas havia alguma coisa assombrada
nos olhos dele e Demi não gostou. Mas logo desapareceu. — Foi só uma
brincadeira.
— Certo.
— E é claro que irei ao casamento com você. Mas entende que teremos que
partilhar um quarto, não entende?
— Talvez possamos alegar que somos antiquados e dormimos em quartos
separados?
— Ninguém acreditará e isso levantará suspeitas. Há mais de um quarto
numa suíte, não há?
— Bem, não. Porque todas as suítes já estão reservadas.
— O quê?
— Quero dizer, tenho uma suíte, mas é do tipo de um quarto só.
— E como isso aconteceu?
— Reservei a melhor suíte para o casal de noivos e as demais para os
pais do noivo, os da noiva e suas famílias. E só sobrou a que reservei para mim
— Você é generosa a ponto de se prejudicar, cara. Mas já vou avisando
que dormirei no sofá.
Joe
observou o rubor de Demi se aprofundar. Ainda estava mortificada com a gafe.
Era uma pessoa rara, que reagia profundamente ao fracasso e ao sucesso. Apesar
da armadura, suas emoções eram visíveis. Mas não a confortaria. Não era tarefa
sua fazê-la se sentir bem. Ela não conhece seu passado. Não tinha importância.
Mas
uma fisgada lhe mostrou que importava. Não gostava que as pessoas pensassem que
manipulara mulheres e lhes tomara a fortuna, seduzindo-as. Mas a verdade era
pior; a manipulação não tinha sido feita por ele. Mesmo assim, a brincadeira
idiota era perto demais da verdade. O que havia entre eles era comércio, não de
favores sexuais, mas a linha era fina. Aquele beijo provara. Ela ficara
afetada, sabia. Ele não. Tinha sido interessante beijá-la. Inexperiente e
desajeitada, entusiasmada de uma forma que nunca experimentara.
Mas
na verdade, tinha sido exatamente como no passado. Quando tivera que fazer
coisas para sobreviver, quisesse ou não. Quando tivera que usar seu único
atributo para ir em frente. Era inteligente, mas sem educação formal. Um
trabalhador braçal, incapaz de arranjar trabalhos que realmente lhe dessem a
riqueza que queria. Então conhecera Claudia e tudo havia mudado.
Se você quer ganhar dinheiro, caro, use o que tem.
Por que passar fome se tem uma coisa que as pessoas querem comprar? Um belo
corpo. Mulheres pagarão para usá-lo e você ficará rico.
Sem
mencionar o lucro dela. Mas no fim tivera razão. Ele ficara rico. Investindo
bem o dinheiro que ganhara. Para conseguir fazer aquele tipo de trabalho,
aprendera a separar a mente do corpo. Dividira-se em dois. Era a única forma de
não se sentir mal demais. De sobreviver à vergonha. Assim, construíra muralhas
em torno de si mesmo. E agora era uma segunda natureza. Acendia e apagava
quando desejava. Tinha sido um observador casual do beijo com Demi e ela
participara ativamente. De novo, nada incomum para ele, mas lhe deixara um
gosto ruim na boca.
Era
por isso que evitava relacionamentos. Porque, embora fosse capaz de separar corpo
e mente, não conseguia reuni-los. Era tudo uma transação. Tudo sobre vender e
receber o pagamento.
Sete anos depois, aquilo ainda o fazia sentir como se estivesse coberto
de sujeira. Sentir que seu corpo pertencia a outras pessoas. Como se fosse um
produto a ser usado para o prazer da compradora. Ainda sentia que suas antigas
clientes eram donas de pedaços dele. Como se tivesse sido cortado, dividido e
vendido. Mas não na mente. Não possuíam nada de sua mente, apenas seu corpo. E
não queria voltar lá. Por isso deixara totalmente de lado o prazer físico.
Mas
Demi era uma mulher normal, que se sentia afetada por seu toque, o que
significava que precisava ser cuidadoso. Não usaria o corpo dela contra ela.
Havia profundezas de maldade nas quais não mergulharia. Ele a usaria do mesmo
modo como ela o faria. Mas em termos de desejo sexual, estavam em campos
diferentes demais e ele nunca, jamais, faria com ela o que haviam feito com
ele. Jamais usaria o corpo de Demi para seus próprios objetivos. Porque podia. Seria
tão fácil...
— Bem, é um alívio e muito cavalheiresco me dar à cama.
— Presumo que vai pagar pela suíte.
— Mas você é meu acompanhante.
— Sou seu convidado. É seu nome que está no convite. E, como vai pagar a
conta, tem o melhor lugar. Mas se quiser que eu pague.
— Posso pagar, Joe, ou não sabe que sou a mulher mais rica do mundo?
— Sei, foi um artigo interessante.
— Bem, posso pagar um quarto de hotel. E quero a cama.
— Também posso pagar.
— Eu sei, também li o artigo sobre você. E ei, andou lendo sobre mim? —
A expressão no rosto dela era engraçada, um misto de insegurança e prazer. Demi
era uma esperta mulher de negócios, mas havia alguma coisa sob a superfície da
armadura. Uma coisa brilhante, jovem, excitada, sonhadora.
Perguntou-se
por que ela escondia essa parte em couro negro. Porque tentava fingir ser blasé
e sofisticada quando não era. Perguntou-se o que a levara a usar a armadura.
— Comecei a ler um artigo e descobri que era sobre você.
— Certo, fiz a mesma coisa. Parece que tivemos um grande sucesso.
— Tivemos.
— Bem, está na minha hora. Vai precisar de mim para alguma outra coisa
esta semana?
— Acho que não. Só vamos fazer a proposta dentro de duas semanas.
— Ótimo, então vou deixar tudo pronto na empresa, para uma ausência de
alguns dias. Até o casamento.
Ela
se virou e saiu; os passos longos e firmes, os cabelos louros deixando um
perfume de lavanda no ar. Qualquer homem comum certamente estaria planejando
seduzi-la no fim de semana. Mas ele não era um homem normal e sedução não
estava em sua agenda. Aquilo tudo era sobre negócios. E não precisava mais usar
o corpo. Se necessário, usaria, mas aquilo lhe arrancaria outro pedaço da alma.
Portanto, bloquearia tudo. E agora, mesmo quando queria sentir alguma coisa,
tudo o que restava era um vazio escuro e profundo. Havia afastado a dor e, com
ela, tudo o que era bom. Olhou em torno do escritório, viu a evidência do que
conseguira e achou que valera a pena.
Continua ...
Posta mais ... Ficou perfeito :3
ResponderExcluirFabíola Barboza
posta posta posta!!! Perfeito! Quero mais capítulos!
ResponderExcluirbia