Mini fic - Ambitious - CAPÍTULO OITO

Maratona 5/5


Demi acordou grogue e inquieta. Partilhar um quarto com Joe era muito difícil. Primeiro, o homem dormia quase nu. O que só percebera na manhã seguinte, quando ele se levantara e ela acordara a tempo de vê-lo entrar no banheiro, as costas musculosas nuas e aquele traseiro, oh, céus, aquele traseiro vestido apenas com uma sunga que abraçava seus contornos.
Então ele saíra do banheiro sem nada e permitira que ela visse todos os seus segredos, além do peito esculpido. Era como uma fantasia feminina viva, conjurada de seus desejos mais básicos. Um homem de verdade, com pelos e músculos e todas as coisas boas formadas pela dose saudável de testosterona. Nunca ansiara por aquelas coisas, não num nível tão visceral, não como a visão dele a fez ansiar.
Porque jamais se permitira. Odiava admitir aquilo. Gostava de fingir que Michael e o assalto não importavam num contexto sexual. Porque na mente sabia que sexo não era assim. Que a maioria dos homens não a feriria. Sabia, mas uma parte dela não acreditava. E evitar sexo e homens era tão mais fácil do que analisar o que sentia.
Mas Joe a fazia imaginar se valia a pena correr o risco de ter contato com um corpo como aquele. Ele não a feriria ou a forçaria, sabia. E, ei, talvez também gostasse dela. Afinal, ele a havia beijado e devia ter sentido alguma coisa. Não que gostasse dele, apenas o achava atraente. Não era uma menina idiota com uma paixonite. Era uma mulher e tinha necessidades. Queria fazer sexo com ele, não namorar.
Era hora do almoço e ela empurrou o peito de frango no prato com o garfo. O casamento começaria dentro de duas horas e nem pensava na noiva. Apenas nos músculos de Joe. Patético. Não conhecia o homem, mas estava começando. Ele a fazia rir e sorrir.
Joe não comparecera ao almoço, alegando ter trabalho, e estava bem com aquilo. Precisava de uma folga dele. Precisava acalmar seus hormônios negligenciados e parar de ofegar pela atenção dele. O que ele não lhe daria.
Porque entregar-se ao desejo estranho e louco por ele arruinaria. Arruinaria nada. Absolutamente nada. Não gostava de Joe. Ele não gostava dela. Eram rivais decididos a derrubar um ao outro, e no momento viviam apenas uma trégua temporária. De qualquer maneira, não poderiam ter um relacionamento. Nem mesmo queria. Além disso, não era o tipo de mulher que dormiria com um cara com o qual sabia que não teria um futuro. Era?
E não se via confiando em ninguém para ter um relacionamento. Não queria ser usada por seu dinheiro, e os caras só a procuravam pelo que poderia lhes proporcionar em termos financeiros. Era fácil dizer não a eles. Mas Joe não estava atrás do dinheiro dela. Se quisesse dormir com Demi, seria porque a desejava. De qualquer maneira, já estavam usando um ao outro para fazer um grande negócio, assim, um relacionamento apenas físico seria possível, desde que ficasse de olhos abertos.
Sua mãe ficaria tão desapontada com ela. Tinha lhe ensinado a tratar seu corpo, o sexo, como uma coisa especial. Mas a mãe havia comprado um cara para sair com ela, e ele tentara estuprá-la. O que havia arruinado o modo como via o sexo. Logo, que importância tinha? A mãe jamais soubera o que era melhor para Demi.
Além disso, o que tinha a perder?
Não era talhada para o papel de esposa e mãe. Talvez um caso tórrido e passageiro fosse o melhor que conseguiria na vida. Um caso com o inimigo. Agora, por que isso a excitava? Devia sentir repulsa.
Ergueu os olhos quando um homem se sentou à sua mesa. Louro, bonito. Não devastador como Joe, mas também nada desagradável. Talvez aquela fosse a resposta. Outro homem. Um homem mais sensato. E estavam em público, sentia-se em segurança. Um homem que poderia atender à necessidade sensual que crescia nela, mas que não era tão intensa como com Joe. E alguém que não podia classificar como inimigo.
— Oi. — Ela sorriu, virando a cabeça para o lado, flertando. Vira outras mulheres fazerem aquilo e podia imitá-las. E sabia que estava bonita e atraente naquele vestido.
— Oi. Demi Lovato, certo?
— Sim — Não se sentiu ofegante, mas fingiu, porque achava que homens gostavam daquilo. — E você é?
— David Brown. Vi você aqui e tive que me aproximar.
— Mesmo? É tão gentil.
— Tenho uma ideia para um produto e preciso lhe contar.
Depois disso, o cérebro apenas se fechou enquanto David, que parecia cada vez menos bonito, começava a lhe explicar uma ideia muito incompleta e que parecia não ter base na tecnologia existente e compreensão de como computadores funcionavam Ou conhecimento de que ao se aproximar de uma mulher, durante uma festa de casamento para fazer uma apresentação de negócios, significava um não automático.
Quando ele terminou, Demi lhe apertou a mão, agradeceu e fingiu que não estava morrendo por dentro. Estava tão cansada do fato de que ninguém, homem nenhum, conversava com ela, com a pessoa que era. Porque gostava de computadores e era uma geek, e esse era o motivo pelo qual homens bonitos se aproximavam dela, eram gentis, tratavam-na com deferência. Porque era rica e tinha poder. Eram todos mentirosos. Não podia confiar em nada do que diziam, nada do que faziam. Joe era um canalha, mas era honesto. E era uma enorme vantagem.
Olhou em torno, para a paisagem impressionante. Seria amiga daquele casal se não fosse pela posição que ocupava? Se não pagasse as melhores suítes para eles? Uma coisa era certa. Se não pudesse lhes dar dinheiro, então teria que lhes dar alguma coisa de si mesma. Abrir-se para eles. E não gostava nem um pouco da ideia.
Joe não gostava muito dela e não fingia. Não queria conhecê-la, mas poderia gostar de dormir com ela. Era honesto. E no momento, preferia sua franqueza brutal ao sorriso de um sicofanta. Um caso com o inimigo parecia cada vez menos idiota.
—Você não devia usar preto em casamentos.
Joe se aproximou de Demi na recepção, com uma taça de champanhe na mão. Chegara bem no começo da cerimônia.
Demi se virou e o estômago de Joe deu um nó, o sangue grosso e rápido nas veias. Aquela intensa atração.
— Tenho permissão. — Ela sorriu, os dentes com um brilho branco contra o batom carmesim
O cabelo louro descia em ondas suaves, o vestido negro tinha uma silhueta simples, que abraçava seus quadris e abria como um sino nos joelhos, de onde caía suavemente até o chão. Mas foi o profundo decote em V na frente e atrás que chamou sua atenção. Os seios eram pequenos e perfeitos. Ele se descobriu imaginando-os, pensando neles de forma obsessiva. Seria por causa dos muitos anos em que sufocara as próprias fantasias, enquanto realizava as dos outros? Dos muitos anos reprimindo os próprios desejos para não precisar lidar com as lembranças? Seria por isso que era tão forte? Ou apenas Demi?
O fruto proibido. Uma tentação a que se julgara imune. Porque tinha sido a tentação para outras pessoas e não havia satisfação para o objeto desse tipo de luxúria. Era um desejo egoísta. Usava a outra pessoa, até que nada restasse dela. Até ficar congelado por dentro. A menos que tornasse sua missão satisfazê-la.
Não. Não faria isso. Era manchado pelo passado, cada centavo recebido, cada centavo multiplicado, vindo de sua mais profunda vergonha. Seu império havia sido construído sobre suas costas no senso literal. Não traria tudo àquilo de volta. Não poderia.
Odiava os boatos. Que havia seduzido mulheres ricas e mais velhas e lhes tomado às fortunas. No entanto, odiava mais a verdade. Que havia sido o brinquedinho delas. Que havia sido comprado. Que sua empresa tinha sido construída assim. Que seu legado era o de um homem que vendera por um preço baixo, aquilo que só poderia ser dado.
Assim, afastou o olhar do corpo dela para seus olhos. Castanhos. Limpos. Refletindo tudo o que começava a acreditar que era: inocente. Boa. Toda aquela armadura para cobrir o que havia de doce e vulnerável nela.
— Permissão especial para a benfeitora do casamento? — Entregou-lhe a taça de champanhe.
Ela a pegou.
— Dificilmente a benfeitora.
— Você pagou pela hospedagem de todo mundo. E também paga o salário da noiva.
— Não lhe dou dinheiro por nada. É uma programadora muito boa.
— Conhece todos os seus funcionários?
— Não todos. Numa empresa do tamanho da minha, seria impossível, mas você sabe disso.
— Mal conheço alguns, nenhum abaixo de certo nível.
— Como é possível?
— Não sou o tipo de patrão que anda pelos escritórios e faz reuniões com equipes de funcionários ou frequenta treinamentos.
— Oh. Eu sou. Quero dizer, faço essas coisas.
— Sim, você é muito, você é uma pessoa gentil.
— Obrigada. Parece surpreso.
— Não conheço muitas pessoas gentis.
— Talvez eu não seja tão gentil, Joe.
— Por que diz isso?
— Bem, acho que sou generosa com dinheiro. Mas não comigo mesma. Sim, ando pelos corredores e converso com todos. Vim ao casamento e compro presentes caros. Mas é fácil dar dinheiro. Difícil é se dar, oferecer amizade verdadeira.
— Quer que as pessoas a usem pelo seu dinheiro.
— Nunca tinha pensado nisso, mas suponho que é o que recebo, já que é tudo o que dou. Mesmo assim, jamais gostei de ser usada por meu dinheiro quando tentava fazer uma conexão.
— E homens fazem isso com você?
— Sim. Há muitas mulheres lindas no mundo, mais bonitas que eu. Nenhuma, porém, tem mais dinheiro que eu. Assim não é preciso ser um gênio, para descobrir por que homens se sentem atraídos por mim.
— Qualquer homem que olhar para você e ver apenas uma conta bancária; é um idiota. Como podem não perceber como é realmente maravilhosa e singular?
Ela o olhou de queixo caído com o elogio. E havia sido sincero. Não estava tentando seduzi-la. Não estava brincando. E as palavras haviam funcionado. Atraíram-na. Se a quiser, pode tê-la. Mas não a teria. No entanto a tentação era tão grande que quase o consumia. Saber como seria ter tudo o que queria. Explorar toda a suavidade dela. Sua inocência.
Aquela seria a verdadeira vergonha. A inocência dela, o desejo de despi-la de sua armadura e expor toda aquela suave doçura que clamava por ele, eram as próprias coisas que o impediam de tocá-la. No entanto, se fosse outra mulher, mais vivida, mais sedutora, duvidava de que sentisse qualquer coisa por ela. Era o que a tornava diferente. Proibida. E tão atraente.
— Acha mesmo que estão deixando de ver alguma coisa?
— Sim — Sabia que devia parar. Sabia que devia fazer alguma coisa para impedi-la de olhar para ele com aqueles grandes olhos castanhos. Como se fosse algum tipo de herói.
— Como todos podem deixar de ver, Joe? O que há comigo? Não escondo as coisas boas em mim, então por que ninguém vê? O que está errado comigo?
— A verdade? Acho que é inteligente demais para a maioria das pessoas. Você as intimida. E é claro que não consegue se conectar com alguém que também não é excepcional. Você é um desafio e isso assusta alguns homens. Ou os fazem querer dominá-la. Também, acho que realmente não quer nenhum dos homens que não demonstraram interesse por você. Acho que tem um controle maior do que pensa.
— Acha?
— Você é o tipo de mulher que sabe o que quer e como conseguir. Uma bilionária antes dos 21 anos, uma líder na indústria da tecnologia. É um feito impressionante para uma pessoa da sua idade. É praticamente a única do seu gênero. E tem um controle grande demais.
Demi olhou para a taça, e então de volta para Joe. Estava vestido de maneira impecável, o smoking lhe realçando o corpo que vira nu aquela manhã. Joe causava uma boa impressão, parecia um homem muito civilizado, mas não era, sabia. E achava que tinha mais controle do que realmente tinha. O que aconteceria se tentasse seduzir Joe? Se pegasse o que queria? Ele também a queria. Bem, talvez. Havia-a beijado como se estivesse se afogando e ela fosse o ar, e dissera que aqueles que não percebiam que ela era especial eram idiotas. O que tinha que significar que ele percebia. Mas não importava. Só queria que a desejasse.
Era ridícula. Uma virgem de 25 anos, permitindo que tantos medos e inseguranças a prendessem Ele tinha razão. Sua armadura era falsa. Ainda vivia com medo, protegendo-se. Não se sentia forte por causa de sua imagem, escondia-se atrás dela. Mas se fizesse sexo com Joe, sua armadura podia quebrar. Aquela grande muralha de medo que a cercava ruiria. Porque Joe Jonas era mestre naquele jogo. O tipo de homem que fazia as mulheres perder a cabeça para ter o corpo dele. Era uma ideia.
Se ela queria aprender alguma coisa, aprendia com um mestre. Era apenas senso comum Se quisesse aprender sobre sexo. Tomou um gole de champanhe. Para se fortalecer. Precisava muito. Então deu um passo em direção a ele e colocou a mão no seu braço.
— Você gosta de mulheres no controle?
Alguma coisa nos olhos dele mudou. Escureceu.
— Não.
— Ah.
— Gosto de ficar no controle.
O modo como disse as palavras, a voz macia e rica, cobrindo-a como chocolate quente, a fez estremecer. Despertou um anseio nela que a chocou por sua força.
— Bem, isso não é bom, já que acha que estou no controle. Mas você prefere estar. — Era uma idiota na arte da sedução. Não sabia mesmo nada.
O que era uma pena, porque realmente o queria. Bem agora, queria-o tanto que doía. Era uma experiência inédita e apavorante. Mas parecia que era capaz de fazer aquilo. Com Joe não haveria sentimentos, mas também não haveria joguinhos. Não haveria exigências, força. Não confiava nela e não lhe pediria que confiasse nele.
Podiam dar prazer um ao outro, e então. E então as coisas voltariam ao que eram antes.
— Você poderia. — Hesitou, inspirando com força. — Poderia ir até a varanda comigo?
— Quer uma repetição da nossa visita à varanda na Califórnia?
— E se quiser?
— Há jornalistas?
— Provavelmente.
Ele lhe tomou o braço e a guiou através do salão até a varanda de madeira. Lanternas estavam penduradas em intervalos regulares. Ela inspirou com força e exalou, os olhos nas estrelas. Havia tantas delas! Nunca tinha visto uma quantidade tão grande. Sentia- se selvagem como a região. Virou-se para Joe e ergueu a mão para o rosto dele, buscando uma pista em sua expressão. Não havia nada. Mas não esperaria por um sinal e exercitaria o controle que ele achava que tinha.
Colocou a outra mão na nuca de Joe e enlaçou seus cabelos com os dedos. E então fechou os olhos e comprimiu os lábios nos dele. Eram quentes, firmes e imóveis. Mudou o ângulo da cabeça e lhe tocou os lábios com a língua. E então ele se moveu, o braço passou em torno de sua cintura e a puxou para ele, apertando-lhe os seios contra o peito. Segurou-a lá, permitindo que ela o beijasse sem reagir.
— Beije-me — pediu com os lábios ainda comprimidos nos dele.
E, por um momento de encantamento, ele obedeceu. A boca se moveu sobre a dela, tão hábil, tão incrivelmente sábia. Um arrepio a percorreu e a excitação lhe arrepiou a pele. A umidade da língua criou uma reação igual entre as pernas dela. Oh, sim, ela o queria. Queria que ele lhe mostrasse tudo o que estava perdendo.
Então ele se afastou de repente e o ar a congelou.
— O quê?
— Nada. Mas isto não foi bem uma exibição pública, foi?
Ele estava respirando com força, percebeu Demi, uma coisa que não lhe acontecera na Califórnia. E o rosto parecia um pouco vermelho. Duas coisas ficaram evidentes para ela: Joe estava excitado. E no primeiro beijo não havia ficado. Não sabia o que pensar das duas coisas.
— Suponho que não. — A respiração dela estava errática, o coração disparado. E as pernas tremiam
Ele se virou, afastou-se dela e se debruçou na amurada da varanda, os braços descansando na madeira. Ela o seguiu e parou a seu lado.
— Quero você. — Ele não reagiu, não se moveu ou olhou para ela. Apenas continuou a olhar para a água. — Joe eu não quero nada além do acordo que temos. Apenas quero você. Na cama. Até isto ter terminado, e então você se afasta com o que quer e eu com o que quero.
— Uma transação de negócios. — O tom era duro e sem emoção.
— Sim. O que há de errado com isso?
— Não gosto da ideia.
Ficou atônita. Teria entendido tudo errado? Ele não a queria? A humilhação foi pior do que imaginava. Sentiu-se pequena, a garota desajeitada que sempre tinha sido. É claro, não tinha nada a oferecer a Joe.
— Lamento que me ache tão desagradável. — A mágoa e a raiva dos últimos dez anos de sua vida se somaram à rejeição de Joe. — Devia ter lhe oferecido dinheiro? É essa a moeda que compreende?
Ele se afastou da amurada e se virou para ela, os olhos brilhando de ódio.
— Cuidado, cara mia.
— Desculpe se acho um pouco insultante que você, Joe Jonas, que todos sabem que seduziu mulheres ricas e mais velhas por dinheiro, ache desagradável dormir comigo.
Ele estendeu as mãos, segurou-lhe os braços e a puxou contra ele. E pela primeira vez, ela o viu sem nenhuma civilidade. A máscara tinha caído. Não havia mais charme, mais sorrisos fáceis e sarcásticos. Este era o homem das ruas, que deixara de lado a moralidade para sobreviver.
Ele não disse nada, apenas olhou para ela. Então ergueu a mão e lhe tocou a face, traçando uma linha até o queixo, os olhos nunca deixando os dela.
— Então quer falar sobre meu passado, quer? Acha que o compreende porque leu um livro? Os detalhes a excitam? As histórias das minhas atividades com antigas amantes? Gosta da parte que diz que tomei uma mulher casada num armário durante uma festa, enquanto o marido a procurava no salão de baile? É minha história favorita.
Ela balançou a cabeça, congelada por dentro.
— Joe... Eu não...
— Mas não sabe os detalhes. São sensacionais. Um jovem garanhão que as mulheres achavam irresistível. Um canalha sem consciência, que recebia presentes por suas habilidades sexuais. Mas essa é a versão limpa, Demi.
— Não pode ser.
— Sim, pode. Presumo que saiba o que é uma prostituta.
Ela piscou.
— Sim
— Não fui o alegre sedutor de mulheres solitárias. Era pago para estar lá. Na cama delas. No armário. Era um prostituto, Demi, pago pelo sexo. Vendi meu corpo pelo preço mais alto e fiz o que quer que mandassem, quisesse ou não.
— Não pode... Não pode ter sido. Isso não.
— Pensa que estou exagerando? Não estou. Fui tirado das ruas aos 16 anos por uma mulher chamada Claudia. Era bem mais velha, rica. Procurando um pouco de diversão. Não comia fazia quatro dias. Procurava trabalho, mas mal conseguia ficar em pé. A primeira coisa que ela fez foi me comprar uma refeição. E depois disso, como podia negar o que quer que ela quisesse? Estava faminto por comida, por um toque, por uma cama limpa, então fui e recebi o dinheiro dela, satisfeito. Mas era seu bichinho de estimação, Demi. Aprendi a obedecer a todos os comandos dela, a ser seu amante de fantasia. Mas não era tudo o que queria. Pretendia ganhar dinheiro comigo também. E tinha contatos, outras mulheres que conhecia e que estavam dispostas a pagar para ter um homem jovem em suas camas, que fizesse tudo o que desejassem. Ela me ensinou inglês, me ensinou a dançar, arte e cultura, e tudo o que eu precisava saber para ser uma companhia agradável. Fui treinado. Como um animal.
Demi engoliu, o estômago apertado.
— Quer que eu pare, não quer?
Ela acenou. Não queria saber. Porque, até um momento atrás, ele tinha sido uma fantasia. E agora era real demais. Só ouvir o que Joe havia vivido a fazia se sentir suja. Como ele deveria se sentir?
— Pena, você me desafiou, agora lide com as consequências. Quer falar sobre o meu passado, então precisa saber como realmente foi. Recebi dinheiro por sexo. Fiz o que as mulheres queriam e fiz bem. Também ouvi quando falavam. As esposas de homens ricos sabem muito sobre dinheiro. Sobre investimentos. Descobri como fazer o dinheiro que ganhava crescer. É difícil abandonar um estilo de vida assim, quando fazia centenas de dólares por uma hora de trabalho. Mas finalmente entendi que o custo era muito alto e não me vendo mais. Não estou mais disponível. Não sou um animalzinho de estimação. Sou um homem e tenho minhas próprias vontades.
Ela acenou devagar e se afastou dele andando de costas, interrompendo a corrente que a prendia. Virou-se então e voltou para o salão de baile, mantendo a cabeça baixa enquanto atravessava a multidão.
Sentia-se doente. Todo o corpo tremia. Como tinha sido fácil usar o passado dele para julgá-lo. Sentir-se superior a ele. Agora se sentia como se despedaçada por dentro, como se tivesse sido obrigada a ver o que ele tinha sofrido, e nada a protegia daquele pavor.
Joe era um homem orgulhoso, e tivera seu orgulho pisoteado durante aquela parte de sua vida. Fora obrigado a pertencer a outras pessoas. Sofria por ele. E sua visão dele mudou. Não o playboy mundano, mas o menino transformado em vítima. Dezesseis anos e precisando desesperadamente de tantas coisas. De amor e educação, comida e abrigo. E lhe deram uma versão vazia daquelas coisas e o prenderam a ela. Mas agora o via como era, pelo que era. Imaginara-o um homem educado, suave e mulherengo. Como o homem que recebia presentes com um sorriso e deixava as amantes satisfeitas e saciadas. Não havia percebido. Jamais teria sido capaz de pensar que ele se vendera. Vendera seu corpo.
E sim, aquilo a perturbava. Mas também a fazia sentir uma espécie estranha de ligação com ele. Porque tivera uma prova de como era ser considerada um objeto, de como era horrível e apavorante ter alguém tentando tomar posse do seu corpo contra sua vontade. Apenas ele o fizera de novo e de novo. Submetera-se àquilo para sobreviver. E o sofrimento dela aumentou, fazendo-a se sentir exposta demais.
De qualquer maneira, ele não a queria e não o culpava. Insultara-o além do limite, da razão. Tratara-o como um prostituto e agora conhecendo seu passado, sabia que ele tinha todo o direito de odiá-la.
Apertou o botão do elevador, entrou e se encostou na parede enquanto subia. Talvez devesse procurar outro quarto. Mas não podia fazer isso, porque se fossem apanhados dormindo separados todos ficariam sabendo, e precisavam manter a farsa até apresentar a proposta a Barrows. Estava presa no inferno que haviam fabricado.
Saiu do elevador em seu andar e foi até o quarto. Passou o cartão e a fechadura não abriu. Tentou de novo. Nada.
— Ah, coisa idiota, idiota!
Passou de novo e de novo. Então chutou a porta. Depois puxou o cabelo, encostou o rosto na parede e lutou para não chorar. Um segundo elevador parou e Joe saiu, furioso em direção a Demi, os olhos escuros presos nos dela. Arrancou a gravata e a jogou no chão enquanto andava até parar, a mão na parede ao lado dela. Debruçou-se com os lábios a um sussurro dos dela.
— Não me deixe mais assim.
— Ou o quê?
Passou um braço pela cintura de Demi e a puxou contra ele. Abaixou a mão da parede e traçou a linha dos lábios dela com a ponta do polegar.
— Você sabe meus segredos agora.
Ela acenou.
— Violou sua regra. Não confirme nem negue.
— Sim. E vou violar outra.
— Qual é?
— Eu quero. E não me permito querer.
— Você não se permite querer sexo?
— Não. Nunca tive uma amante, Demi, Isso a deixa chocada?
— Mas... Mas você disse. Não compreendo.
— Tive sexo, nunca uma amante. Tive clientes. Nunca estive com uma mulher da minha escolha e o que fazia no quarto era controlado por ela. Aprendi a ser apenas um corpo. Eu me separava completamente do que estava acontecendo. Encontrava uma fantasia que me permitisse funcionar e era isto: não precisava pensar, não precisava sentir. Não era meu corpo então, eu não vivia nele.
— Elas sempre lhe disseram o que fazer?
Ele balançou a cabeça.
— Sou especialista em linguagem corporal. Sei o que querem. Do que precisam. Mas não sei o que eu quero. Nunca me fiz tal pergunta.
— E. E agora?
— Quero você. — Ergueu os olhos para os dela. — Nos meus termos. Se quiser um arranjo, podemos fazer. Você na minha cama, até o negócio com Barrows estar fechado. No fim, quando nos separarmos, talvez, se for do seu agrado, você terá uma parcela um pouco maior do produto. — Ela balançou a cabeça. — Não, não vou deixar você me comprar. Se me quiser. Se me quiser, então talvez. No entanto, quero ser mais do que uma conveniência. Mais do que um homem que pensou que podia ter facilmente por causa da nossa situação. Não quero ser alguém a quem se acha no direito de ter.
Mas ela não podia aceitar que ele achasse que era dono dela também
— Minha confissão a fez mudar de ideia? — Soltou-a.
Ela mordeu o lábio.
— Podia dizer que sim, mas seria uma mentira.
— Entre. — Passou o cartão e, claro, a luz verde acendeu e libertou a fechadura.
Ela o seguiu para dentro do quarto. O coração batia com força, as pernas tremiam. Porque não sabia com o que havia concordado. Seu corpo doía. Queria, apesar do que sua mente pensava.
Joe desabotoou o colarinho, depois os punhos da camisa e se virou para ela. Estava escuro no quarto, apenas o abajur aceso ao lado da cama, e tudo era uma sombra com um brilho fraco que fazia o cenário parecer irreal.
— Se decidir que me quer, haverá regras.
— Que regras?
— Aprenderá a me dar prazer. Aprenderá o que quero. E me dará. Seu objetivo básico será meu prazer. Nunca tive uma amante Demi, e agora que decidi tomar uma será nos meus termos.
— E quanto ao meu prazer?
E pensou que o que quer que Joe fizesse, lhe daria prazer. Um homem como ele, bem versado em sexo e sem saber como ter prazer. Ela também não sabia como lhe dar prazer. E estava totalmente confusa. Por um lado, estava atraída por ele. E isso provavelmente lhe prejudicava o julgamento. Dar a ele quando todos haviam apenas tomado. Porque compreendia o quanto era desesperadamente solitário quando as pessoas apenas a usavam. E para ele tinha sido muito pior. Uma vida de solidão nas ruas, solidão na cama de estranhas. Solidão no topo do sucesso. E como era importante escolher a própria amante. Parte dela estava aliviada por estar acontecendo daquela maneira. Não no calor do momento, mas numa pausa para conversar. Com uma resposta definitiva de ambos os lados. Fazia-a se sentir poderosa, no controle. E imaginava que Joe sentia o mesmo. Talvez pudessem ajudar um ao outro a se sentirem um pouco menos solitários.
Além disso, receber instruções apenas a ajudaria. Afinal, queria a experiência, um pouco de treinamento para não ter tanto medo de fazer a coisa errada. Se seguisse ordens, não estragaria tudo. Quase disse que nunca tivera um amante também, mas decidiu ficar calada. Não havia lugar para a bagagem dos dois. E tinha a impressão de que ele se recusaria.
— E o que quer de uma amante?
Ele começou a andar de um lado para o outro, as mãos presas às costas, os movimentos elegantes, perigoso como um tigre.
— Quer mesmo saber? Não vou amenizar a verdade. Se quiser realmente, está concordando em me tomar. Todo eu. Como sou.
— Diga-me primeiro, então decidirei.
— O prazer da minha amante é importante para mim. Não tenho interesse em tomar e não dar nada de volta. — Como havia sido feito com ele, pensou. — Espero que aprenda do que gosto. A dar sem perguntar. Seguirá minhas instruções.
— E se eu não gostar do que me pedir?
Ele parou de andar e lhe encontrou o olhar.
— O prazer da minha amante é importante para mim — repetiu. — Sempre se lembre disso.
Olharam um para o outro. Com os olhos presos nos dele, soube que com ele, jamais se sentiria vulnerável ou em desvantagem
Era um homem com um desejo, um homem tão cativado pelo que existia entre eles quanto ela. Um homem sobre o qual exercia poder pela necessidade que tinha dela.
— E se eu disser não?
— Então, nada acontece. Depois do que me ocorreu, jamais teria uma amante que não me quisesse. Que não me desejasse a ponto da loucura. Como desejo você.
E naquele momento, ela se sentiu forte. Pela primeira vez, apenas ser ela, ter um homem a olhando daquele jeito a fez se sentir poderosa. Capaz de lhe conceder todo o controle, e ser recompensada. Uma coisa era certa, fisicamente Joe jamais a feriria. E emocionalmente, era seu inimigo. Não havia possibilidade de uma ligação emocional. Perfeito.
Sua escolha estava feita.
— Concordo com seus termos.

Continua ...




5 comentários:

  1. Preciso da continuacao!!! Vc é perfeita escrevendo eu amei!!!!
    posta logo por favor por favor ahhhhhhh é ótima a sua história!!!

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  2. Estou triste que vai ficar sem computador, por que eu realmente estou amando demais essa fic <3
    Mais vou suportar :)
    Esses capítulos foram divonicos de tão perfeitos que foram :)
    Só preciso que ela continue
    Fabíola Barboza

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Espero que tenham gostado do capítulo :*