Capítulo 10



— Você me ouviu, Joe? Eu disse... 
— Neeu ouvi. 
Ele se flagrou pensando em Notus, o grande vento do sul da Grécia, que trazia consigo as tempestades do verão e do outono. Um bebê de uma mulher que não significava nada para ele! 
Sua expressão, porém, continuava indecifrável. 
Olhando-a nos olhos apenas com uma pergunta implacável estampada neles, ele disse: 
— Tem certeza? 
Por um momento, ela pensou em chamar sua atenção para o volume de sua barriga, mas então se lembrou de que tinha ido até lá porque achara que aquela era a coisa certa a fazer. Não ia permitir que ele a fizesse se sentir culpada. Joe podia não ter planejado nada daquilo, mas ela também não o fizera. 
— Tenho. Eu fiz um teste e o médico me confirmou que eles... 
Ela engoliu em seco quando ele jogou a cabeça para cima. 
— Sim, eles — disse ela baixinho, respondendo à pergunta que flamejava nos olhos negros. 
— São gêmeos. Eu estou esperando gêmeos, Joe. O nascimento está previsto para janeiro — disse ela com voz rouca. 
Gêmeos. Aquela palavra caiu em sua consciência como uma pedra que tivesse sido atirada na água de uma altura muito grande. Joe sentiu um misto de raiva e dor tão fortes que chegou a ficar sem fôlego. 
Gêmeos. 
Fortes e indesejadas emoções se apoderaram dele, tentando conduzi-lo de volta a uma infância que ele tinha enterrado bem fundo e esquecido. 
Uma mãe que o havia abandonado. Um pai que nunca estivera presente. Um irmão a quem ele estaria ligado para sempre, quisesse ou não. Um irmão com quem ele havia brigado. Dois homens que tinham permitido que o tempo aumentasse a distância que se criara entre eles. 
Aquela era a salvação de Demi, uma vez que, em se tratando de gêmeos, não havia dúvida a respeito da paternidade das crianças. Se bem que, por alguma estranha razão, aquela pergunta sequer tinha lhe ocorrido. Será que o intenso desejo que Demi sempre demonstrava cada vez que o encontrava o havia convencido de que ela não tinha nenhum outro amante; ou seria apenas sua arrogância natural que lhe garantira que ela ainda levaria muito tempo até permitir que outro homem a tocasse como ele havia feito? 
Aquela imagem o perturbou. 
Gêmeos. 
Ele a encarou. 
— Você está mesmo certa disso? 
Será que ele achava que ela o estava testando? Dizendo a si mesma que era o choque que o estava fazendo interrogá-la daquela maneira, Demi assentiu. 
— Sim. Há procedimentos muito sofisticados hoje em dia para comprovar isso. É possível fazer um teste entre... 
— Já chega! — disse ele, silenciando-a com um gesto autoritário. 
Joe precisava de tempo para pensar. Foi até uma das grandes janelas de onde se podiam ver as incontáveis luzes que iluminavam o céu de Nova York, a cidade que ele havia escolhido para viver. 
O que um homem deveria fazer numa situação como essa? 
Finalmente, ele se virou na direção de Demi. Ela parecia frágil. Seus lindos cabelos estavam presos apenas por uma fita e a roupa que ela estava usando decididamente não havia sido escolhida para impressioná-lo. Notou que os braços dela estavam arrepiados e se deu conta de que ela não devia estar acostumada ao ar-condicionado. 
— Diga alguma coisa! — disse Demi, com urgência, não suportando mais o silêncio dele. 
— O que você quer que eu diga, preciosa! Que nós vamos viver felizes para sempre e que eu vou casar com você? — Ele riu. — Porque eu não tenho nenhuma intenção de fazer isso. 
Ela ficou magoada, mas não reagiu. Tinha decidido que ia tratar daquilo como uma adulta, não importando o que ele lhe dissesse ou fizesse. 
Manteve, portanto, uma expressão tão tranqüila quanto possível, contendo a tentação de lhe dizer: Eu não me casaria com você nem se você fosse o último homem sobre a Terra! Chegou mesmo a balançar a cabeça e sorrir suavemente. Afinal de contas, ela chegara a pensar que ele ia questionar a paternidade das crianças, o que, sem dúvida, teria sido um insulto bem maior do que se recusar a casar com ela. 
— Casamento? Oh, meu Deus, não é por isso que eu estou aqui — disse ela tranqüilamente. 
— Verdade? — perguntou ele, erguendo as sobrancelhas de ébano numa incredulidade ligeiramente velada. — Então por que você está aqui? 
— Por mais estranho que possa parecer, Joe, eu não tenho prazer algum em pegar um vôo de tão longe para ser recebida com insultos e acusações. Estou aqui porque, sendo o pai das crianças, achei que você tinha o direito de saber. 
O modo como ela dissera a palavra pai, fazendo a coisa toda soar muito mais real, fez Joe perder o controle e soltar um palavrão em grego. Se sua sobrevivência não dependesse de suas mãos, ele talvez tivesse chegado a esmurrar a parede. 
— Pois agora você já me disse. Escolheu uma maneira muito cara e demorada de fazer isso. Por que você veio até aqui para me contar? Não pensou em me ligar? 
Seria demais confessar que ela queria ver a expressão dele quando lhe contasse. 
Joe poderia pensar que ela estava esperando um final feliz em que ele a tomaria nos braços, lhe diria o quanto sentira a sua falta e confidenciaria que o fato de ela estar esperando os filhos dele parecia um sonho transformado em realidade, o que não deixava de ser verdade. Ela realmente havia alimentado essa esperança, lá no fundo de sua mente, ainda que aquilo desafiasse toda e qualquer lógica. Sonhou que aquele homem que tinha tudo pudesse compreender que nada daquilo importava quando comparado com o milagre daquelas duas novas vidas que eles haviam gerado. A expressão impassível no belo rosto de Joe, porém, não deixava dúvidas. Ela havia querido uma resposta à sua pergunta silenciosa e ela estava ali, explícita. 
Demi começou a levantar lentamente, com o coração apertado. 
— Onde você pensa que vai? — inquiriu ele. 
— Para casa. Na verdade, para o hotel. Já fiz o que vim fazer aqui. 
Seus olhos negros se estreitaram. 
— Mas nós não decidimos nada. 
— Não há nada a decidir, Joe. Você agora está ciente dos fatos e a minha consciência está tranqüila. 
— Bem, mas a minha não está! — esbravejou ele, passando a mão nos cabelos. — Eu vou pagar! — anunciou ele. 
Demi compreendeu mal o que ele dissera e, abalada, teve de se apoiar na cadeira para não perder o equilíbrio. 
— Pagar! Do que você está falando? 
— O que você acha? Do seu sustento. Do das crianças... — A palavra ficou engasgada em sua garganta. — Você vai precisar de dinheiro para se sustentar até elas nascerem. Suponho que a partir de um determinado momento você não poderá voar, não é? 
Demi chegou a abrir a boca para lhe contar que havia perdido o emprego por ter infringido as regras da companhia, mas não quis bancar a vítima. De agora em diante, ela precisava ser forte independente, não só por si, mas, principalmente, pelos seus filhos. Filhos. Demi estremeceu. Se a idéia de gêmeos havia sido um choque para Joe, imagine para ela. 
Ele já estava acostumado à idéia, enquanto ela era apenas uma principiante naquele assunto. Como ela ia conseguir dar conta daquela situação? 
— Eu não vim lhe pedir dinheiro — disse ela. 
— Pode ser, mas eu sou um homem bem-sucedido, nós dois sabemos disso. Quero que você aceite a minha oferta. Na verdade, insisto que o faça. 
Ao olhá-lo nos olhos, Demi compreendeu que ele precisava lhe dar alguma coisa concreta, como dinheiro. Dessa forma, ele lavaria as suas mãos e se sentiria isento de toda e qualquer responsabilidade, uma vez que não expressara o menor desejo de fazer parte da vida das crianças. Ela balançou a cabeça. 
— Você não está em condições de insistir em nada, Joe — disse ela. 
Era irônico que Demi, fisicamente vulnerável, como estava agora, lhe parecesse mais forte e determinada do que jamais fora antes. Talvez ela estivesse mesmo o tempo todo à procura disso, apesar de seus protestos — algo para conseguir amarrá-lo. 
— Mas isso aqui não é um confronto de vontades, Demi — disse ele suavemente. — Estamos tentando fazer o melhor a partir de uma situação ruim. Você mora num apartamento minúsculo, que já é pequeno demais para uma só pessoa. Como espera dar conta, não apenas de um, mas de dois bebês lá? 
Demi ficou olhando para ele, incrédula, lutando para não se descontrolar. Ficou pensando no tom que ele usara para se referir ao seu apartamento. Ela se esforçara tanto para impressioná-lo e tudo o que Joe havia sentido não passara de desprezo! Será que não sabia que nem todo mundo era tão rico quanto ele? O que a incomodava, porém, era sua falta de discernimento. Como podia ter se equivocado tanto a respeito de um homem? Como pôde achar que estava apaixonada por um homem que tinha um coração de pedra contrastando com o calor de seu corpo? 
Ela esfregou os braços e olhou fixamente para ele. 
— Vou dar um jeito — disse ela, com a voz baixa, mas sem perder a dignidade. — Posso não ser rica, mas certamente vou dar todo o meu amor a esses bebês, Joe. Eu não quero nada de você. Consegue entender isso? 
As palavras inflamadas de Demi o atingiram. Ela havia dito que os amaria, mas ele sabia muito bem que o simples fato de ser mãe não era garantia de que uma mulher viesse a amar seus filhos. Será que ela ia manter sua posição quando se desse conta de que ele realmente não estava disposto a casar com ela? 
— Entendo perfeitamente — disse ele. — Mas quer você aceite ou não, eu vou lhe dar esse dinheiro. Abrirei uma conta para você. O que você decidir fazer com o dinheiro é problema seu. Em troca, peço apenas que me mantenha informado do progresso da gravidez, fui claro? 
— Está querendo dizer que quer se envolver? Ele endureceu seu coração ao olhar para aqueles olhos cor de violeta. 
— Estava me referindo a um relatório — disse ele, como se estivesse falando de um de seus projetos. — Quero saber quando eles... — Joe teve que engolir em seco, apesar de sua determinação de não sentir nada. — Quero ser avisado quando você for dar à luz. Fará isso por mim? 
— Sim. 
A palavra não foi mais que um pequeno suspiro perdido em meio ao enorme escritório. Demi se levantou. Se não estivesse se sentindo tão emotiva e fisicamente vulnerável, ela teria ido embora calmamente à procura do metrô mais próximo, mas não estava em condições de fazê-lo. 
— Eu gostaria de ir embora agora — disse, em voz baixa. 
Antes que fizesse algo imperdoável como desabar em lágrimas na frente dele. 
Joe notou o tremor em seus lábios. Houve uma época em que ele poderia tê-los beijado, mas não agora. Sabia o que ela devia estar esperando dele, mas não era capaz de sentir qualquer espécie de compromisso emocional em relação àquelas crianças. Sabia também, por experiência própria, que era muito melhor não prometer nada do que não cumprir com a palavra, pois já havia sentido a dor do abandono na própria pele. 
— Meu motorista está a sua espera. Eu a levarei até ele.

3 comentários:

  1. Quando eu penso que o Joe é um babaca ele vem e consegue ser mais babaca ainda, se fosse a demi dava um tapa na cara dele e mandava ele enfiar esse dinheiro no toba

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  2. COMO JA ACABOU O CAPÍTULO? CADÊ O RESTO QUERO MAIS. AMANHÃ É VESPERA DE NATAL MARATONA N IA SER ND MAL

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  3. eita....Demi até que foi forte !!
    São gêmeos...vish...To ansiosa para mais kkk...tá tudo perfeito !! beijos

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Espero que tenham gostado do capítulo :*