Capítulo 62 Maratona 3/5


O rosto de Joe era uma máscara de fúria enquanto olhava para o russo. Nick girava as facas em suas mãos uma e outra vez, seus olhos cintilando no corpo de Gianna tremendo no chão. Cesare tinha parado de balbuciar. Esta noite poderia muito bem acabar com todos nós nos afogando em nosso próprio sangue. 
— Solte ela, Vitali, — Joe rosnou. 
Vitali agarrou minha garganta. — Eu acho que não. 
Eu mal podia respirar, e tudo que conseguia pensar era que eu poderia perder todos que eu amava esta noite. Eu esperava que eles me matassem primeiro. Eu não podia suportar a ideia de assistir todos morrerem. 
— Você pegou uma coisa que nos pertence, Vitiello, e agora eu tenho algo que pertence a você. — Vitali lambeu minha bochecha e eu quase vomitei. — Eu quero saber onde está. 
Joe deu um passo pra frente, e então congelou quando Vitali levantou a faca para o meu pescoço novamente. — Coloque suas armas para baixo ou eu vou cortar a garganta dela. 
Vitali foi estúpido por pensar que Joe faria isso, mas então eu assisti com horror quando Joe baixou as armas no chão. 
— Sua esposa tem um gosto delicioso. Eu me pergunto se ela tem um gosto delicioso em todos os lugares. — Ele me virou para que eu estivesse de frente para ele. Seu mau hálito bateu no meu rosto. Do canto do meu olho eu podia ver Joe me assistindo, mas eu queria que ele ficasse afastado. Eu não queria que ele visse isso. Os lábios de Vitali chegaram mais perto. Eu tinha certeza que ia vomitar. 
Eu tentei me inclinar para trás e ele riu maldosamente, agarrando meu quadril, mas eu quase não notei, porque quando eu virei, senti o canivete cavar a minha bunda. Quando Vitali arrastou a língua sobre meu queixo, eu escorreguei minha mão no meu bolso de trás, puxei a faca, e rasguei a sua coxa com a lâmina. 
Ele gritou, tropeçando para trás e então o mundo desabou. Joe praticamente voou pela sala e me puxou contra ele enquanto cortava a garganta de Vitali de uma orelha à outra. A cabeça do homem inclinou para trás, o sangue jorrando, e ele tombou. Balas atravessavam o ar, mas não havia gritos. O chão estava escorregadio com sangue e somente o aperto firme de Joe no meu braço me manteve de pé. Ele deve ter deixado cair a faca em algum momento, porque estava atirando bala após bala com uma arma preta lustrosa com um silenciador na ponta. Eu peguei uma arma caída em uma poça de sangue. Ela estava escorregadia na minha mão, mas me fez sentir bem. De repente, Romero estava lá também. Meus olhos tentaram encontrar Gianna, mas ela não estava mais no chão. 
Joe baleou outro inimigo e estendeu a mão para a arma do cara morto quando a sua ficou sem balas. Nessa hora, um dos mafiosos russos à nossa direita apontou a sua própria arma para Joe. Gritei tentando avisar, e ao mesmo tempo me joguei para frente e apontei a arma que tinha em mãos para o rapaz e disparei. Eu nem sequer pensei. Tinha jurado a mim mesma que não iria assistir ninguém que eu amava morrer esta noite, mesmo que isso significasse que eu ia morrer primeiro. 
A bala que ele tinha disparado acertou o meu ombro e o mundo explodiu em dor. Acertei o cara na cabeça e ele caiu no chão, morto. Joe me puxou para o lado, mas minha visão ficou preta. 
Quando eu voltei para os meus sentidos novamente, Joe estava me segurando em seus braços. Um silêncio se instalou ao nosso redor, todos se lamentando por alguém. Levei um momento para perceber que era por mim, e em seguida a dor me cortou e eu gostaria de ter ficado inconsciente, mas precisava saber se todos estavam bem. — Você está bem? — eu resmunguei. 
Joe tremeu contra mim. — Sim, — ele disse. — Mas você não. — Ele estava pressionando meu ombro pra baixo. Isso provavelmente explicava a dor. A parte de trás e da frente da minha camisa estava encharcada com um líquido quente. 
— E quanto a GiannaLily e Fabi? — eu sussurrei, mesmo quando a escuridão quis me reclamar novamente. 
— Todos bem, — Gianna disse de algum lugar. Ela parecia muito distante, ou talvez tenha sido minha imaginação. Joe deslizou as mãos debaixo de mim e me levantou. Gritei de dor, lágrimas escaparam dos meus olhos. O hall de entrada estava lotado pelos nossos homens. 
— Vou levá-la para o hospital, — disse Joe. 
— Joe, — Nick disse em advertência. — Deixe o médico lidar com isso. Ele está cuidando dos nossos negócios há anos. 
— Não, — Joe rosnou. — Demi precisa de cuidados adequados. Ela perdeu muito sangue. — Eu podia ver alguns dos homens de Joe olhando de relance para nós antes de fingir que estavam ocupados outra vez. Ele era o Capo. Ele não podia mostrar fraqueza, nem mesmo por minha causa. 
— Eu posso fazer uma transfusão de sangue, — disse uma voz profunda e suave. O médico. Ele tinha mais de sessenta anos, com cabelos brancos e um rosto amável. 
O aperto de Joe em mim aumentou. Agarrei-o pelo braço. — Está tudo bem, Joe. Deixe que ele cuide de mim. Eu não quero que você me leve a um hospital. É muito perigoso. 
Os olhos de Joe mostraram hesitação, mas então, lentamente, ele assentiu. — Siga-me! — Ele me levou para a escada, mas eu perdi a consciência mais uma vez. 
*** 
Eu acordei em uma cama macia, me sentindo dolorida e atordoada. Meus olhos se abriram. Gianna estava deitada ao meu lado, dormindo. Uma luz entrava pela janela, por isso várias horas devem ter passado. Havia um enorme hematoma na testa dela, mas eu acho que eu devia parecer pior. Nós estávamos sozinhas e decepção me encheu. Eu tentei me sentar e fui recompensada com uma dor latejante e feroz no ombro. Olhando para baixo, encontrei meu braço e ombro envolvidos com ataduras. 
Gianna se agitou, e então ela me deu um sorriso de alívio. — Você está acordada. 
— Sim, — eu sussurrei. Minha boca parecia cheia de algodão. 
— Joe ficou aqui ao seu lado na cama quase a noite toda, mas Nick o obrigou a sair para ajudá-lo a pegar os mafiosos russos. 
— Eles conseguiram? 
— Sim, eles estão tentando extrair informações deles. 
Meus lábios torceram, mas eu não senti pena por eles. — Como você está? 
— Melhor do que você, — disse Gianna, então ela fechou os olhos. — Me desculpe por ter discutido com você ontem. Eu teria me odiado para sempre se aquilo fosse a última coisa que eu tivesse dito a você. 
Eu balancei minha cabeça. — Está tudo bem. 
Ela pulou da cama. — É melhor eu dizer a Joe que você está acordada, ou ele vai arrancar minha cabeça fora. 
Ela desapareceu e um par de minutos depois, Joe entrou. Ele parou na porta, sua expressão ilegível enquanto deixava seu olhar percorrer meu corpo. Em seguida, ele se aproximou da cama e deu um beijo na minha testa. — Você precisa de morfina? 
Meu ombro parecia que estava pegando fogo. — Sim. 
Joe se virou para a mesa de cabeceira e pegou uma seringa. Ele pegou meu braço e deslizou a agulha na dobra do cotovelo. Quando terminou, ele jogou a seringa no lixo, mas não largou a minha mão. Liguei nossos dedos. — Perdemos alguém? 
— Poucos. Cesare e alguns soldados, — disse ele, e depois fez uma pausa. — E Umberto. 
— Eu sei. Eu o vi levar um tiro. — Meu estômago se agitou violentamente. Isso ainda parecia surreal. Eu teria que escrever uma carta para a esposa de Umberto, mas precisava ter a cabeça clara para fazer isso. 
— O que esse cara, Vitali, quis dizer com você ter algo que pertencia a ele? 
Os lábios de Joe contraíram. — Nós interceptamos uma das suas entregas de drogas. Mas isso não é importante agora.

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