Capítulo 5


Na manhã seguinte, Demi acordou com o som de uma ducha e a voz de Joe cantando em grego. Ele parecia feliz, pensou melancolicamente — e por que não estaria? Abriu os olhos e ficou fitando o lustre que pendia acima daquela cama enorme como um dossel de diamantes. 
Ele havia lhe descrito o novo prédio que estava construindo, durante o jantar da noite anterior, que teria um enorme jardim na cobertura. Queria que aquele fosse o primeiro de muitos projetos semelhantes. Sua idéia era levar um pouco de verde a lugares cinzentos. Joe queria um mundo que não brigasse com a natureza. Sua voz profunda soara tão impetuosa que Demi se viu tomada de admiração e inveja. Era como se ele estivesse lhe descrevendo um paraíso do qual ela nunca faria parte. 
A água parou de jorrar e, pouco depois, ele entrou no quarto, completamente nu, secando o cabelo escuro com uma pequena toalha. Seu corpo firme brilhava. Ombros largos, quadris estreitos e pernas peludas. Ele parecia completamente à vontade em sua nudez, mas também, com um físico daqueles, quem não estaria? Joe nadava todos os dias, independente de onde estivesse. Ele havia lhe contado, certa vez, que aquilo era algo que ele havia trazido da Grécia consigo — o desejo de sentir a água contra a pele e a deliciosa liberdade que advinha disso. 
Ele olhou para ela em meio aos lençóis emaranhados, curvando a boca num pequeno sorriso. 
— Kherete — disse ele suavemente. 
— Olá — murmurou ela, espantada por ainda ficar tímida quando ele a olhava daquela maneira, apesar de Joe conhecer seu corpo melhor que qualquer outro homem. — Estou com tanta preguiça que não sou capaz de me mover daqui. 
— Ver você deitada assim me dá até vontade de ficar. 
Fácil dizer. 
— Mas você não pode. 
Ele colocou uma cueca preta que aderiu deliciosamente à sua pele. 
— Infelizmente não. Terei de comparecer a uma série de reuniões assim que aterrissar nos Estados Unidos. — Ele deu de ombros, mas seus olhos negros brilharam de expectativa. — Estamos prestes a fechar um ótimo negócio. 
— E você certamente será convidado para festas maravilhosas em Nova York. 
Ela não havia querido dizer aquilo em voz alta, mas as palavras pareceram saltar de sua boca. 
Houve uma pequena pausa e então ele ergueu levemente as sobrancelhas escuras. 
— Isso também — concordou ele. Demi sabia que estava pisando em território perigoso. Que Joe, mais do que a maioria dos homens, compartimentava a sua vida, e que ela pertencia claramente à seção inglesa. Seu interesse, porém, não precisaria necessariamente ser interpretado como ciúme ou possessividade. Afinal, tinha o direito de saber alguma coisa sobre a vida dele: 
— E você vai? 
— Às festas? — Ele vestiu uma camisa de seda cor de marfim e começou a abotoá-la. — Às vezes, como a maioria das pessoas, quando não estou muito ocupado. Por que não iria? — Depois tirou uma calça escura do armário. — E você, Demi, o que faz quando seu amante grego não está na cidade? 
Aquela era uma pergunta significativa, uma vez que Joe jamais se interessara por nada semelhante antes, ou estaria ele simplesmente sendo educado? Seu orgulho a fez enfeitar uma vida que seguramente pareceria muito comum aos olhos dele. Imagine como ele reagiria se ela lhe contasse que passava grande parte de seu tempo livre pensando nele! Nem mesmo o supermercado era um lugar seguro, pois ela freqüentemente se flagrava de olho nas prateleiras em busca da marca de azeite que a família dele produzia na Grécia. 
— Oh, muitas coisas. — Ela afastou uma mecha de cabelo dos olhos. — Vou ao cinema, às vezes ao teatro. 
— Com suas amigas, naturalmente — interrompeu ele, enquanto puxava o zíper da calça. 
Algo no tom desdenhoso dele a ofendeu. Quem ele pensava que era? Não lhe oferecia, nem prometia nada, e esperava que ela se enfiasse numa caixa escura quando ele ia embora e permanecesse lá, esperando avidamente pela sua volta? 
— Nem sempre. Eu tenho amigos dos dois sexos. Joe fixou seus olhos negros brilhantes nela e disparou: 
— Homens? 
Houve uma pausa. Será que ele achava que eles ainda estavam na Idade Média? 
— Naturalmente. 
— Você se encontra com outros homens? Demi sentou na cama. Seu cabelo cobria os seios nus. 
— Não são encontros. — protestou ela. Quis dizer, não como os que tenho com você, mas isso soaria falso. Eles não saíam juntos, apenas se encontravam para fazer um ótimo sexo sempre que ele estava na cidade. — São apenas amigos que me fazem companhia ocasionalmente. Sabe como é. 
Ele apertou os olhos, num lampejo de algo que beirava a crueldade. 
— Não, eu não sei. Isso não faz nenhum sentido para mim, preciosaNo meu entendimento, homens e mulheres só têm uma coisa em mente. É da natureza humana. 
Sua voz sedosa pareceu quase... ameaçadora, primitiva. 
Demi franziu a testa, surpresa pela expressão de acusação estampada nos olhos dele. 
— O que você está insinuando, Joe? — perguntou ela, um pouco hesitante. — Que eu faço sexo com outros homens quando você não está aqui? 
— E você faz? 
Ela sentiu um desânimo que logo se transformou em mágoa e então raiva. Era difícil manter a própria dignidade quando se estava completamente nua, por isso Demi puxou o lençol e se enrolou nele. Ao levantar da cama, ela se deu conta de que suas mãos estavam tremendo. 
— Eu não acredito que você esteja me perguntando uma coisa dessas, como se eu fosse algum tipo de... vagabunda! 
Sua respiração estava quente e ofegante. Ele ainda a olhou por um momento antes de cruzar o quarto, dirigindo-se a ela, mas Demi o deteve com um gesto. 
— Com que tipo de mulher você costuma se envolver, para pensar uma coisa dessas a meu respeito? 
O pedido de desculpas veio com certa dificuldade, uma vez que Joe raramente reconhecia que estava errado. 
— Reconheço que foi uma pergunta infeliz. Eu nunca deveria ter dito uma coisa dessas. 
— Não devia mesmo. 
Ele estendeu a mão na direção da dela, percebendo o esforço que ela estava fazendo para não perdoá-lo rápido demais. Demi finalmente cedeu e, com um suspiro relutante, permitiu que ele levasse a sua mão até os lábios e beijasse a ponta de cada um de seus dedos. 
— Perdoe-me — murmurou ele contra a pele que ainda trazia o odor da longa noite de sexo que eles haviam compartilhado. — Perdoe-me, preciosa. 
Ela teve vontade de perdoá-lo, ao mesmo tempo em que quis mandá-lo para o inferno. Hesitando entre o desejo e o desespero, Demi fechou os olhos, querendo ser suficientemente forte para se livrar daquela doce tortura que ele lhe infligia. 
Quando os abriu outra vez, encontrou os olhos dele sobre ela repletos de uma promessa erótica. 
Ela se sentia completamente perdida quando ele a olhava daquela maneira. Talvez ela fosse fraca demais, ou Joe forte demais. Talvez as duas coisas. 
Oh, Joe. 
— Você me perdoa? 
Ela deu de ombros, agradecendo a Deus por ele não ter conseguido ler seus pensamentos. Não queria terminar tudo com ele, mas também não ia permitir que ele a fizesse de gato e sapato. 
— Vou pensar no assunto. — Ela assumiu uma expressão séria. — Mas, por favor, nunca mais me acuse de uma coisa dessas outra vez. É injusto e ultrapassado.

Continua ...
Amores o capítulo de amanhã sai as 11 horas. Já está programado aqui no blog

Um comentário:

  1. A demi tinha que deixar ele mesmo que doesse,para ver se o Joe se tocava e parava de tratar ela mesmo com "carinho" como um pedaço de carne,beijos.

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Espero que tenham gostado do capítulo :*