Capítulo 19 Maratona


Demi balançou a cabeça.  
— O passatempo de minha mãe era me exibir — respondeu com simplicidade. — Muito mais tarde, quando papai morreu e ela ficou sem dinheiro para as despesas, percebeu o que meus professores diziam o tempo todo. Eu não era uma pessoa talentosa em especial. Então foi preciso trabalhar, e eu só estava qualificada para fazer limpeza.  
— Então você teve que abandonar a luz dos refletores?  
— Foi um alívio! Jamais gostei de aparecer em público. E, quanto mais velha ficava, menos engraçadinha era para esses concursos.  
— Acho você muito bonita — murmurou Joe  
Michelle tratou de mudar de assunto.  
— Disse que vai contratar um professor para mim? De italiano?  
— Sim. E, quanto mais cedo aprender meu idioma, melhor. Às vezes me atrapalho com a língua inglesa, e quando estou aqui na Villa tenho muitas coisas para resolver, e não terei tempo para lhe ensinar nada.  
Isso foi um choque para Demi. Entendeu claramente o que seria um casamento de conveniência com Joe. Ele imporia todas as regras. O futuro dela seria feito de longos períodos solitários nessa enorme VillaMas ele parecia não perceber o quanto se sentia angustiada. Estava magoada, porém precisava ocultar a dor por causa do bebê.   
Tentou rir, sem sucesso. Então sorriu de leve e Joe a reconduziu para o interior da suíte.  
— Venha... Agora quero lhe mostrar um lugar especial. O lugar mais próximo ao coração de um italiano... A cozinha.  
E havia mesmo uma cozinha nos aposentos de Joe com um equipamento brilhante e moderno. Demi notou que parecia uma cozinha de exposição. Era tudo perfeito demaisNão se via um grão de poeira ou uma manchinha. Nada de ímãs de geladeira, potes com flores ou latas de biscoitos.  
Ela visitara a enorme cozinha no térreo que era conservada pela criadagem, porém parecia nunca ter sido usada, e Demi se perguntou por quê. Assustou-se ao pensar que era uma cozinha sem alma, assim como grande parte dos aposentos da Villa.  
Os últimos raios do sol desapareceram enquanto completava o passeio. Cansada, Demi acompanhou Joe de volta à sala. Ele acendeu algumas luzes, mas o contraste com as sombras da noite a deixou zonza.  
Percebendo algo errado, ele se aproximou, vendo-a apertar as têmporas com as mãos.  
— Está exausta— murmurou.  
— Estou bem. Apenas um pouco tonta. Vai passar.  
— Mas, e o bebê?  
Havia reprovação em sua voz. Demi mordeu o lábio. Estava muito acostumada a lidar com o cansaço desde o início da gravidez. Devia se difícil para uma pessoa privilegiada como Joe compreender que os pobres precisam "levar o barco" mesmo quando estão no extremo de suas forças.  
— Gravidez não é doença, Joseph. O médico disse que devo continuar com minha vida normal.  
Ele não se impressionou.  
— Essa é a opinião de seu médico, mas de agora em diante será aconselhada pelo meu médico, que virá amanhã cedo para examiná-la. — Franziu a testa. — Tem certeza de que está bem? Sua suíte fica do outro lado da VillaUma boa caminhada daqui até lá.  
— Estou ótima. Só preciso de alguns minutos para me recompor, e algo para beber, se você tiver para me oferecer.  
— É claro. — Joe a guiou até várias poltronas junto a uma grande e antiga lareira. Acomodou Demi ali, sempre com um olhar preocupado. — Se não pode tomar café, o que lhe apetece? — perguntou, agachando-se para acender o fogo com os gravetos que já estavam arrumados ali.   
Michelle lembrou que sempre que tentava fazer isso sujava todo o chão. Joe apenas riscou um fósforo, e a lareira foi acesa sem problemas.  
— Água mineral seria ótima.  
— Não prefere algo quente, já que está esfriando?   
Demi sorriu.  
— Sim, chá, mas nunca consegui encontrar um bom chá na França durante o verão.  
— Ah, mas agora está na Villa Jonas.  
Limpando as mãos, Joe se levantou e admirou as chamas.  
— Adquiri o gosto por chá quando fui para o colégio interno na Inglaterra. Precisei tomar isso... Era o chá ou ficar com sede. A cozinha aqui sempre tem um bom sortimento de tudo que as visitas desejam. Que mistura prefere?  
Demi estava exausta, porém não pôde deixar de rir.  
— Sua cozinha tem o estoque de um supermercado?  
— Não posso lhe oferecer um supermercado completo — brincou ele -, mas temos chá da China, índia, e de outros lugares mais exóticos. Então... O que prefere?  
— Não faço a menor ideia. — Demi começava a se sentir melhor. Esticou os braços e deixou as mãos caírem sobre a poltrona que ocupara.  
Depois, fez-se silêncio, apenas quebrado pelo barulho das achas de lenha na lareira.   
Nesse instante ela soube exatamente o que desejava. E, a julgar pelo olhar de Alessandro, ele também sabia.  
— Decida por mim sobre o chá — murmurou Demi.  
Ele aquiesceu com um gesto de cabeça. Hesitou um instante... E depois se dirigiu até um aparelho de telefone meio escondido no assento da janela.  
Minutos depois de falar com a cozinha, uma bandeja com bebidas e mais comida foi entregue.  
— Seus criados o alimentam sem parar! — observou ela, assim que ficaram a sós de novo.  
— Tentam, mas prefiro qualidade á quantidade — replicou Joe, servindo o chá e passando a xícara para Demi.  
São gentilezas como essas que o tornam diferente dos outros homens, pensou enquanto aceitava. A xícara de porcelana Royal Worcester tilintou quando ela mexeu o leite com uma colher de prata. Quando fitou a pequena travessa com docinhos e biscoitos, as guloseimas a fizeram esquecer que já havia comido, e muito bem.  
— Sirva-se — encorajou Joe, preparando para si uma bebida. — Não seja tímida.  
Ela escolheu um biscoito de limão em forma de triângulo, do tamanho de uma unha, e outro de amêndoas.  
— Sirva-se mais — insistiu ele. — Tudo está aí para ser comido.  
— Oh, mas é muita tentação — respondeu Demi, com um olhar guloso para um merengue em miniatura que ocultava um morango silvestre.  
— Exijo que muitos ingredientes sejam produzidos nas minhas terras — explicou Joe com orgulho. — Assim, cada mordida faz bem.  
Cinco minutos depois, haviam consumido tudo, e as pálpebras de Demi se fechavam diante do calor gostoso que vinha da lareira em frente à poltrona que ocupava.  
— Já parece estar melhor — falou Joe com satisfação.   
Suas palavras a fizeram despertar e Michelle se aprumou de supetão. Joe estava de pé ao seu lado, e ergueu uma mão.  
— Vá com calma... Não há pressa. Quer outra xícara de chá?  
— Sim... Por favor.  
Ela estendeu a mão para o bule ao mesmo tempo em que ele e seus dedos se encontraram... Primeiro por acidente, depois com uma leve pressão proposital.  
Isso só podia significar uma coisa, mas Demi tinha medo de se mover e acabar com a fantasia. Fora uma coincidência, sem dúvida. Os dois haviam tentado pegar o bule ao mesmo tempo. Mas então Joe inclinou a cabeça para ela...  
Os impulsos que Demi reprimira o dia todo a fizeram procurar o calor de seus braços. Com um gesto rápido, Joe a enlaçou. Tocou sua face, e Demi estremeceu. Beijaram-se com um furor maior do que ela pudera imaginar.

Continua ...
Amores a cada uma hora vai sair capítulo novo ok?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Espero que tenham gostado do capítulo :*