O sol da Toscana brilhava sobre a carroceria lustrosa de um carro esporte preto que esperava do lado de fora do aeroporto.
Joseph, que sempre preferia dirigir seus carros, pedira que o veículo fosse deixado ali com antecedência por um membro de sua equipe. Abriu a porta e esperou que Demi se acomodasse antes de se dirigir para o assento do motorista.
— Aí vem um fotógrafo. E onde há um, haverá outros — explicou, com um suspiro exasperado.
Joe tinha razão. Precisou manobrar o carro com cuidado em volta das figuras que surgiam de todos os cantos, tentando fazê-lo ir mais devagar. Todos estavam desesperados e curiosos para saber o que ele ia fazer.
— São como formigas — disse, fechando os vidros escuros que impediam que os outros lá fora os vissem.
Demi ficou contente por ninguém poder vê-la, mas, enquanto o carro afastava seus perseguidores e chegava à rodovia principal, desejou poder olhar para fora.
Apertando um dos botões no braço da poltrona, baixou a janela do seu lado.
— Por que não usa o ar-condicionado? — disse Joe, enquanto o vidro baixava lenta e silenciosamente, deixando o ar quente e seco penetrar.
— Eu queria olhar para fora — explicou Demi. — Isso é lindo. — Respirou o ar forte do campo italiano.
— É difícil não adorar este lugar — falou Joe, com uma voz carregada de ironia.
Dirigia o carro com segurança e calma, e Demetria considerou seu silêncio estranhamente agradável.
Só o conhecera como um artista que tinha mãos talentosas. Nesse momento, suas mãos também demonstravam suas qualidades de bom motorista. Era difícil afastar os olhos dele.
Apesar da paisagem lá fora chamar sua atenção, Demetria não conseguia deixar de fitar o homem que retornara à sua vida tão de repente. Sua personalidade vibrante preenchia o interior do veículo e o corpo de Demi reagia à proximidade dele. Era impossível ignorar Joseph Jonas.
Por fim, ele saiu da estrada principal e prosseguiu ao longo de quilômetros de terras férteis de fazendas dos dois lados do caminho, seguidos de murros de pedra. A estrada começou a ficar mais íngreme, e Demi avistou um vilarejo do lado da colina em frente.
— É para lá que vamos. O outro lado do vale é ainda mais bonito.
As palavras de Joseph revelaram ser a pura verdade. As muretas de pedra de cada lado do campo de repente se tornaram mais altas, até que o carro percorreu caminhos sombreados. Casas muito antigas se erguiam ali, impedindo a entrada do sol.
Gerânios apareciam em todos os cantos, alegrando as residências da estrada, mas a subida em declive era difícil. Por fim, Joseph parou o carro.
— Chegamos — anunciou com simplicidade.
Demi se aprumou no assento. Estavam parados em frente a grandes portões de ferro. Enquanto Joe digitava uma senha no interfone, ela tentou assimilar tudo que via. Essa parte da estrada estava mergulhada nas sombras e ficava ainda mais sinistra com as trepadeiras enormes que subiam pelo muro. Parecia á entrada de um cemitério.
Demi já andava com o moral baixo, e agora se sentia péssima, voltando a se recostar no assento. Só quando os portões automáticos se abriram ousou esperar algo melhor de novo.
Sua primeira impressão do mundo de Joseph foi de suntuosidade. Um caminho largo e comprido estava ladeado por árvores copadas. Demi distinguiu vinhedos que cercavam toda a propriedade em linhas paralelas. Ao final de cada fileira havia roseiras brancas e cor-de-rosa alegrando o ambiente.
— É lindo. Absolutamente lindo — murmurou. — Veja como as folhas das árvores já estão ficando vermelhas!
— Sim... — resmungou Joe, como se notasse pela primeira vez que o outono anunciava sua chegada. — É por causa das noites frias e do sol fraco nessa época do ano.
Demi lhe lançou um olhar de esguelha. Ele olhou em volta e tornou a se focalizar no caminho à frente. Desapontada, ela tentou recuperar a animação que sentira assim que vira o cenário. Uma infinidade de castanheiros surgia na propriedade dos Jonas, mas havia também pinheiros e ciprestes que pareciam sentinelas lembrando-a que essa era a verdadeira Toscana. Seguiram na direção de uma grande Villa encarrapitada em uma rocha. Pedras douradas e telhas avermelhadas davam-lhe um brilho alaranjado sob a luz do sol da tarde. Enquanto o carro avançava, era óbvio que se dirigia para a rocha e a entrada da casa.
Demiprendeu o fôlego.
— Céus... Essa é sua casa?
— Está impressionada? — Joe pareceu surpreso.
— Claro que estou. Nunca vi nada parecido antes. O sul da França foi minha única viagem fora da Inglaterra. — Demi torcia o pescoço, remexendo-se no assento para poder ver tudo. — Chegou a construir o ateliê que queria?
Joe balançou a cabeça.
— Ainda não. Será traumática a mudança do prédio que usei por tanto tempo. Não dá para ver daqui. Está na parte extrema da propriedade, porque eu queria ficar o mais longe possível do barulho.
A resposta tensa fez Demi pensar. Era como se esse novo e estranho Joseph tentasse afastá-la da melhor parte de seu mundo. O ressentimento a fez dar uma resposta seca.
— Creio que com isso quer dizer que não recebe qualquer pessoa em seus domínios particulares?
— Vou lá para ficar sozinho. — A resposta pareceu uma chicotada. — Meus dias normais de trabalho já são recheados de pessoas e de problemas. Meu ateliê é meu refúgio. A menos que queira convidar alguém para ir até lá.
O carro se aproximava da entrada da Villa. Não poderia haver contraste maior entre o pequeno ateliê na França e esse conjunto harmonioso de prédios. A Villa antiga original fora ampliada ao longo dos séculos. No momento, era um lugar mágico feito de telhas, torres e terraços. O carro se deteve em um pátio cercado por dezenas de janelas, cada uma com gerânios vermelhos. Era uma despedida maravilhosa do verão, porém Demi já não estava com ânimo para apreciar o cenário.
— Já que se sente assim, Joseph, fico surpresa que tenha me deixado entrar em seu mundo secreto de artista, me convidando para posar em Jolie Fleur.
— Naquela ocasião, admirava você mais do que admiro agora.
Antes que Demi tivesse tempo de pensar em uma resposta para esse comentário desagradável, Joe desceu do veículo e deu a volta para abrir a porta dela. Demi ergueu o rosto primeiramente para sua figura alta que combinava com o lar ancestral e que a deixava intimidada diante de sua própria insignificância. Quando a criadagem circundou o caro e começou a retirar a bagagem, Demi teve a prova definitiva de que o estilo de vida de Joseph Jonas era muito diferente do seu. E isso era demais para absorver de uma só vez.
Colocou um pé no pátio coberto por pedrinhas, e hesitou.
— Este lugar é enorme!
Joe não estava com vontade de falar nada. Pegou-a pela mão e a fez deixar o carro. O toque firme e quente de seus dedos de início foi confortador, mas seu olhar sombrio á deixou; nervosa. Alarmada, Demi sentiu uma sensação que era familiar percorrendo seu corpo da cabeça aos pés. Reconheceu o que era. Desejo. Tentou se afastar, mas Joe não a largou.
— Tenho certeza de que uma garota esperta como você logo irá se acostumar. Agora vamos comer. Vou levá-la a seus aposentos enquanto meus empregados tomam conta de tudo. Mais tarde, faremos um passeio pela propriedade... No caso de você não estar cansada.
O fato de ele mencionar comida provocou um aperto no estômago de Demi, que a fez ficar tonta.
As coisas estavam acontecendo depressa demais. Joe podia pensar que fora generoso fazendo-a escolher entre uma vida sozinha de luta na Inglaterra ou uma prisão dourada na Itália. Na verdade, ela não tivera escolha.
A altura dos muros que cercavam o terreno, o tamanho da casa e da propriedade era incrível. Somando-se a isso havia os portões, e ela se sentia um pássaro dentro de uma gaiola. A ideia a deixou ainda mais zonza, porém, antes que pudesse resolver se sua situação era boa ou má, uma sensação ainda pior a dominou.
— Demetria? O que é? Sente-se bem? — A voz de Joe parecia vir de longe enquanto ele se virava para fitá-la.
Ela tentou respirar devagar e profundamente. Às vezes isso retardava o inevitável.
Mas não funcionou.
— Tem um banheiro aqui perto? — murmurou, engolindo com força as palavras saindo de sua garganta com grande dificuldade.
Erguendo-a nos braços, Joe a carregou pela casa. Com meia dúzia de passadas largas, chegou a uma porta no vestíbulo. Carregou-a para dentro de um escritório que, apesar de elegante, era muito simples, e dali abriu outra porta que dava para um banheiro. Ali a depositou no chão com cuidado.
— Essa é uma das vantagens de se trabalhar em casa — murmurou ele, enquanto Demi corria como uma flecha até a privada.
A que ponto eu cheguei, pensava ela. Estou tendo meu enjoo diário em um banheiro estranho e em um país estranho. Sua vergonha não podia ser maior. Para um homem tão sofisticado quanto Joe, esse seu comportamento devia ser o fim do mundo.
Quando o enjoo passou, ela lutou para se recompor.
Às suas costas, alguém abriu uma torneira. Enquanto sua visão clareava e os objetos entravam em foco de novo, pôde ver como o banheiro era luxuoso. As paredes e o chão eram de mármore verde, as peças, de porcelana, e todas as torneiras eram douradas. Então percebeu um par de sapatos pretos lustrosos ao seu lado. Começou a levantar a cabeça, passando pelas calças com vinco impecável, e percebeu que ele viera salvá-la de novo com um copo com água.
— Si-sinto muito, Joseph...
Fraca e melancólica demais para se aprumar, Demi esvaziou o copo, ainda sentada no chão do banheiro.
— Pensei que o enjoo fosse sempre matinal — disse ele com calma.
— Eu também. Mas as últimas semanas me demonstraram outra coisa. O enjoo pode acontecer a qualquer hora do dia ou da noite.
— Vou pedir que meu médico, lhe dê alguma coisa.
— Não... Prefiro que não. — Demi balançou a cabeça, sentindo a garganta seca. — O máximo que ingiro é uma aspirina desde que soube sobre o bebê. Não quero começar a tomar remédios.
— Tem certeza? — Joe observou seu rosto com atenção.
Apesar da sensação de que fora virada do avesso física e mentalmente, ela aquiesceu com um gesto de cabeça.
— Que bom. Também não gosto de tomar muitos remédios. — Ele acenou em um sinal de aprovação e tomou-lhe o copo das mãos. — Parece exausta. Descanse enquanto pode. Vou levá-la para seu quarto agora mesmo. Chamarei meu médico... — Ele já digitava um número no celular, porém Demi segurou-lhe a mão.
— Não há necessidade, de verdade. Já me sinto bem melhor. Provavelmente foi a viagem que me cansou, e o fato de não ter comido nada depois do café da manhã.
Ele resmungou alguma coisa em italiano, e depois deu um, tapinha amigável no seu ombro.
— Desculpe... Deveria ter insistido para que comesse mais. E estará muito cansada para visitas hoje, assim que se instalar no seu quarto. Direi para o médico vir amanhã cedo. Uma mera formalidade, você compreende, conforme já lhe disse. Só deverá comer e beber de maneira saudável... No melhor estilo italiano, é claro... Enquanto estiver carregando o herdeiro dos Jonas.
De algum modo, essas palavras a fizeram se sentir melhor e pior ao mesmo tempo.
Tudo estava sendo retirado de suas mãos. Sua opinião não era pedida para nada.
Enquanto o bebê crescia em seu ventre, Joseph cuidava de todos os detalhes, por menores que fossem. Demi sabia que deveria se alegrar com tanta ajuda.
Entretanto, as últimas horas haviam trazido muitas emoções de uma só vez. O longo dia estressante, a viagem e seus hormônios em tumulto a arrastavam para o pior dos desesperos. Afastando da testa os cabelos empastados de suor, não conseguiu mais se conter.
— Jamais quis que isso acontecesse — murmurou.
Joe suspirou.
— Mas aconteceu.
Passando as mãos pela cintura de Demi, ele a ergueu do chão com cuidado.
Demi se sentiu tão fraca e zonza que precisou se apoiar nele. Esperava vê-lo se afastar de maneira instintiva diante desse gesto de intimidade. Afinal, estivera furioso desde que haviam se reencontrado nessa manhã. Entretanto, em vez de afastá-la, Joe permaneceu firme. A tensão o fazia retesar os músculos, porém segurou-a pelo ombro, o que era um gesto de apoio. Demi refletiu que era o único apoio com o que poderia contar, portanto agradeceu por isso. Fechou os olhos e tentou esquecer tudo, a não ser o bebê.
— Depois de tudo que tem acontecido como posso pôr minhas ideias em ordem, Joseph? Disse que quer melhorar a reputação de sua família, mas, se o bebê chegar antes do tempo, todos saberão que precisamos nos casar!
— Deixe que eu cuide disso.
— Como?
Ela ergueu os olhos para ele enquanto Joseph, com o queixo erguido e determinado, a fazia deixar o escritório de volta para o vestíbulo.
— Minha equipe de Relações Publica é a melhor do país. Manchetes de jornais vêm e
vão, mas a House of Jonas deve prosseguir para sempre.
Sua voz soou tão estranha que Demi teve receio de perguntar o que ele queria dizer. Mas, como se lesse sua mente, Joe apertou sua mão. Foi um gesto cheio de calor e delicadeza que não era acompanhado pela expressão fria em seu rosto e sua voz, e a sensação boa duraram apenas alguns instantes. Logo em seguida, ele a soltou, e a conduziu para a suntuosa escadaria de mármore.
— Deixe que eu cuide disso — repetiu com firmeza.
Continua ...
Oi Oi amores.
Demorei mais cheguei para postar.
Espero que gostem amores e não se esqueçam que a partir de amanhã teremos postagens todos os dias no blog com Encanto na Toscana e Bound By Honor
É agora q começa a historia de verdade, me segura Jesus
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