Demi gostaria de se sentir aliviada com as palavras de Joseph. Entretanto, ficou ainda mais confusa.
Todo o desastre acontecera justamente porque confiara nele antes. Sabendo o que sabia agora, seria ingenuidade acreditar que ele resolveria alguma coisa. E, quanto a se casarem...!
Demi estava abalada... Física, mental e emocionalmente... E já não sabia no que pensar. Fora uma nova experiência após a outra, e no momento mal tinha forças ou vontade para colocar um pé na frente do outro. Quando uma empregada se aproximou correndo e sorrindo, fazendo uma pergunta em italiano que ela não entendeu, foi á gota d'água.
Demi prorrompeu em lágrimas.
Joe dispensou a empregada com um gesto de cabeça.
Esperou que ficassem a sós de novo para perguntar:
— O que houve Demetria? — quis saber, com voz fria e controlada.
— Eu n-não consegui entender o que ela dizia... Não falou em inglês... — despejou, entre soluços.
— E por que deveria falar em inglês? — Joe arqueou as sobrancelhas. — Agora que você está na Itália, vai precisar aprender nossa língua. Mas, não se preocupe. Vou lhe arranjar alguém que a ensine — concluiu, afastando o problema com um aceno displicente.
A última coisa que Demi desejava nesse momento eram aulas de italiano. Já achava muito difícil se comunicar em inglês com o novo e estranho Joseph. A ideia de precisar treinar com um professor estrangeiro a fez recordar o pavor que passara com as aulas de matemática na escola... Continuou a chorar, com um longo e paciente suspiro, Joe encontrou o lenço que já lhe dera antes e o colocou em sua mão.
— Você não pode me ensinar? — perguntou Demi assuando o nariz.
Ele afastou a sugestão.
— Não passo muito tempo aqui. Como já lhe disse, a Villa Jonas é meu refúgio quando quero descansar dos negócios. Costumo ficar longe daqui por longos períodos.
— Então ficarei sozinha na maior parte do tempo?
— Existem lugares piores para se ficar — lembrou-o, com um olhar severo que pareceu fazer o sol sumir, e que abrangeu o vestíbulo. O lugar estava repleto de antiguidades e móveis de estilo... Um oásis silencioso de calma. — Por exemplo, sua rua cheia de paparazzi é bem pior.
Demi não precisou pensar muito para perceber o tom de ameaça por trás das palavras. Se não gosta daqui, pode voltar para sua casa. Ela tentou desafiá-lo com um olhar, mas foi impossível. Seus olhos estavam vermelhos e inchados demais para intimidar qualquer pessoa. E a luz dourada que se filtrava das janelas que descortinavam um pátio interno deixava Joe ainda mais distante e aristocrático.
Seus olhos estavam envoltos em mistério, reforçando a sensação de que poderia erguer muralhas para afastar Demi a qualquer momento que desejasse... Tentar se, opor a qualquer decisão que ele tomasse seria como dar nó em ponta de faca.
Demi nada podia fazer a não ser segui-lo em silêncio, enquanto Joe a conduzia escadas acima para uma das alas de hóspedes da Villa.
A infância de Joe lhe ensinara que emoções era uma fraqueza. Até onde sabia, homens fortes não podiam se dar ao luxo de tê-las. Essa se tornara sua realidade.
Seus verdadeiros sentimentos estavam enterrados tão profundamente que mal sabia que existiam. Entretanto, Demi quase conseguira o impossível.
Por várias vezes, tentara dizer a ela o que pensava exatamente sobre cavadoras de ouro que manipulavam as circunstâncias a seu favor. Então Demi erguia os olhos castanhos e límpidos para ele, e as palavras morriam nos seus lábios. Céus, a garota era uma atriz. Ele fora completamente conquistado no verão pela sua simplicidade, mas não aconteceria de novo.
Enquanto conduzia Demi por estátuas e pinturas valiosíssimas a caminho da suíte que lhe fora destinada, Joe tentou se concentrar no ambiente que os circundava.
Quando ela comentou como tudo ali era belo, ele anotou mentalmente que Demi tinha razão. Percebeu há quanto tempo não admirava a velha casa.
A Villa Jonas podia ser considerada o lar de Joe... Embora, diante de seu passado tempestuoso, "lar" fosse uma palavra aconchegante demais para descrevê-la.
As visitas que ali apareciam o deixavam pouco à vontade. Era como se, expor sem roupa aos olhos dos outros.
Fora difícil para ele trazer Demi ali, mas sentira que era o mínimo que poderia fazer. Não se podia esperar que ela, sozinha, criasse a criança.
Joseph disse a si mesmo que devia se alegrar pelo fato de ela ter aceitado com obediência. Ele não era uma pessoa agressiva por natureza, e não gostava de forçar ninguém a nada. As lembranças dos deliciosos dias de verão que haviam compartilhado continuavam vivas, e Joseph desejava mantê-la assim.
Demi se entregara com tanta naturalidade e abandono. Tudo nela era tão convidativo... Em especial seu corpo, pensou, sentindo um súbito desejo.
Lançou-lhe um olhar de esguelha enquanto caminhavam pela galeria do segundo andar.
— Está com uma aparência melhor, Demetria.
— Bem, esses enjoos vêm e vão.
Como a fidelidade das mulheres, o pensou, lutando para não permitir que as lembranças o dominassem. Nesse dia, Demi estava mais bonita do que nunca, os seios delineados pelo top justo. A ideia de acariciar a pele macia o invadiu e ele quase ergueu a mão. Tratou de se controlar e percebeu que esse exercício seria muito difícil no futuro.
Cada vez que passavam por um dos criados, Demi era cumprimentada com respeito como se fosse da realeza.
Apesar do dia longo e exasperador, Joe se viu sorrindo diante da reação dela.
A cada vez que era cumprimentada, Demi ficava radiante por se sentir aceita. E ele gostava disso, apesar das circunstâncias. Afinal, agradar as mulheres era um de seus passatempos prediletos.
Sua expressão ficou sombria apenas uma vez enquanto a conduzia pela galeria para sua suíte. Foi quando sentiu o celular vibrar no seu bolso; tratou de desligá-lo sem atender.
Recentemente eleito o mais importante empresário do mundo, Joe sabia que conquistara isso sendo impiedoso.
A tribo dos Jonas não acreditara que um italiano pudesse despedir os próprios parentes, mas fora isso mesmo que ele fizera, pois era um bando de sanguessugas e preguiçosos. O mínimo que poderia fazer pela família depois disso, disseram os parentes ofendidos, seria se casar com uma boa moça da Toscana... E isso significava casamento com uma de suas primas. Esperava-se que Joe tivesse um bambini, assegurasse o futuro da House of Jonas e mantivesse todos empregados pelo resto da vida.
As narinas de Joe tremeram ao pensar nisso. Jamais recebera ordens de alguém, e não iria começar agora. Nada devia à sua numerosa família. E, quando se lembrava do modo como seu próprio pai sempre o tratara...
— Joseph? Você está bem?
Ele emergiu de seu pesadelo particular, e murmurou:
— Quê?
Fitou Demi e, ao ver seu sorriso apreensivo, lembrou-se do motivo que o fizera trazê -la ao seu santuário.
Minha família quer um herdeiro para manter o império. É isso aí, pensou com amargura.
Então deu de ombros.
— Muito bem, Demetria, estava pensando no trabalho, é isso.
— Oh, sei o que quer dizer — replicou ela com simpatia. Sua reação fora tão sincera que Joe riu.
E depois não conseguiu mais parar de rir. Era a primeira vez em semanas que ria. Os dois se entreolharam, compartilhando suas angústias. Por um breve segundo, a magia do entendimento os uniu.
Demi arregalou os olhos, mas sua própria risada morreu antes de começar. Sua expressão revelou a Joe que trabalho era a última coisa que tinha em mente nesse momento.
O desejo voltou a dominá-lo, ameaçando destruir sua máscara de indiferença e civilidade... Queria beijá-la ate perder o fôlego ali mesmo na galeria, deslizar a mão pela pele macia, carregá-la para a cama e fazer amor com ela durante toda a noite...
Isso não vai resolver nada! Disse a si mesmo com brusquidão.
Usar o sexo para bloquear mais lembranças dolorosas nunca o ajudara no passado.
Mas, mesmo sentindo a necessidade de percorrer o caminho mais fácil, Joe começou a perceber uma nova e chocante verdade. Pela primeira vez na sua vida, admitia a si mesmo que sexo nunca apagaria sua dor.
Desejava alguém que levasse embora a sensação de vazio em seu íntimo.
Presa pelo olhar dele, Demi não conseguiu se mover. Os olhos de Joe se moviam sobre seu corpo, deixado-a em fogo da cabeça aos pés. E ele sabia usar esse olhar.
O toque de seus dedos não a teria afetado tanto Joe a admirava nesse instante como se fosse um objeto de valor. E ela o desejava. Porém, o tempo todo sabia, por experiência própria, que, se permitisse algo mais, não teria como voltar...
Uma mecha de cabelos se libertou do rabo de cavalo que ela usava. Com um gesto lento e calculado, Joseph estendeu a mão e colocou os fios sedosos atrás da orelha de Demetria.
— Continuam parecendo seda — murmurou, inclinando-se para frente de modo que ela captou o desejo em sua voz. Quando falou de novo, soou doce e calmo como um riacho no verão: — Estava curioso... Pensei que a gravidez fosse ocasionar dezenas de mudanças no seu corpo.
Seu olhar, como sempre, era intenso. Demi o sentia com a mesma força do hálito quente em sua pele.
No instante seguinte, percebeu que iria beijá-la.
A antecipação ocupava o ar como uma descarga elétrica. Irresistivelmente atraída para ele, Demi fechou os olhos, aguardando pelo toque de seus lábios. Cansaço, ressentimento, solidão...
Ela se esqueceu de tudo isso. O beijo seria celestial. Ouvia o som do próprio coração pulsando nos ouvidos e a deixando zonza.
Então sentiu que Joe hesitava como se algo fora da bolha mágica de silêncio que se formara tivesse chamado sua atenção. Nesse exato segundo, ouviu-se uma saudação formal ecoando pela galeria. Era uma empregada, subindo às pressas com uma mensagem para o dono da casa. Em resposta, ele riu, e o encanto se quebrou. Demi teve que ficar de lado e observar Joe e a criada sorrindo e conversando em italiano. As palavras nada significavam para ela, que se sentiu dolorosamente isolada!
Tendo cumprido sua missão, a empregada foi embora tão depressa quanto chegara.
Parecia que toda a criadagem da Villa julgava a coisa mais natural do mundo Joe trazer garotas ali... O que, concluiu Demi, devia mesmo acontecer o tempo todo.
— Seus aposentos estão prontos — anunciou Joe, de maneira formal...
Haviam voltado a ser estranhos.
Quando alcançaram o fim do corredor, ele abriu uma grande porta de carvalho.
— Bem-vinda a sua suíte, Demetria. Tenho certeza de que será feliz aqui.
Ela teve a súbita sensação de ser apenas mais uma garota na lista constante de convidadas de Joe. Seu rosto se contorceu com cinismo... Mas só até ver por trás da porta que Joe mantinha aberta. Todas as dúvidas desapareceram da mente de Demi no instante em que ele deu um passo para o lado a fim de que ela entrasse.
Demi não esperara nada mais do que um simples quarto talvez com um banheiro anexo. O que encontrou foi um cômodo enorme e bem iluminado pelo sol com poltronas confortáveis, uma mesa... E isso apenas na saleta. Do outro lado, uma porta de vidro deixava ver parte de uma cama enorme com colunas, e uma sacada que levava para uma das torres da Villa a alguns metros de distância. Joe a conduziu até essa porta, e a abriu.
Demi cruzou a soleira, mas parou depois de dar alguns passos.
— Vá. O que está esperando? — o incentivou.
Demi estava ocupada demais admirando o cenário à frente, e não respondeu logo.
A suíte descortinava barrancos abaixo da Villa, dando a impressão de que se estava no topo do mundo.
— A vista... É de tirar o fôlego! — murmurou ela.
— Cuidado... Estamos no alto. — Joseph a segurou, quando Demi se debruçou para frente.
Ele tinha razão. A posição da Villa no topo da colina significava que o solo estava a muitos metros de distância. Demi tomou cuidado para não olhar diretamente para baixo... Seria demais para seu estômago delicado. Em vez disso, fitou os bosques com castanheiros no vale. O outono já pintava as folhas de dourado.
— Está com frio?
— Não, estou bem, Joseph.
Continua ...
Eita esses dois kkk
ResponderExcluirAmeeeeeii
Posta logoo
Está perfeito
Beijos
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah já quero outro
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