Capítulo 25 Último


Olhou de novo. O aquecedor estava no meio do cômodo.  
Não havia tempo para pensar. Joe derrubou a porta batendo nela com o ombro diversas vezes, e recuou ante o ambiente abafado que o recebeu.  
A chama na pequena lamparina estremeceu com a lufada de ar fresco. E Joe viu Demi, caída junto à caixa de lembranças. Respirando fundo, ele entrou e a puxou para fora do ateliê.  
O choque de ser agarrada de repente, combinada com o ar frio da noite, a fez despertar com um gemido.  
— Oh... Minha cabeça...  
— Idiota! — exclamou Joe, esfregando as têmporas com as palmas das mãos.   
— Espere aí... — Recordando a discussão que haviam tido na biblioteca, Demi recuperou a consciência. — Não comece a me insultar...  
— Estava falando de mim mesmo, Demi. Deixei que fugisse e pensei que a perdera...  
Apertou-a de encontro ao peito com tanta força que Demi quase sufocou novamente.  
— Oh, Demi...  
Ela estava confusa, mas pouco se importava. Joe estava ali, abraçado-a, e para ela só havia outra coisa mais importante no mundo.   
— O bebê... — gemeu.  
— Não, Demi. No momento estou preocupado com você! — A intensidade na voz de Joe os fez ficar imóveis.  
Fitaram-se com os rostos muito pálidos. Entretanto, ele relutava em demonstrar tantas emoções, e mudou de assunto:  
— Quero dizer... O que queria dizer era... Você precisa estar bem, Demi, para que nosso... Seu... Bebê... Quero dizer, meu herdeiro... Tenha chance de sobreviver.   
Demi estudou seu semblante, tentando encontrar um laivo de ternura por trás da fachada de pedra.  
Ainda procurando não demonstrar emoção, Joe resolveu dar uma lição de moral.  
— Será que não pensou que essa velha lamparina e o aquecedor poderiam absorver todo o oxigênio do ateliê? Poderia ter morrido!  
Prendeu o fôlego, e sua expressão mudou de repente. Seus olhos ficaram escuros de medo diante de tal possibilidade.  
E Demi ficou olhando enquanto outra ideia ainda pior contorcia as feições viris.  
— Ou foi isso mesmo que você pretendia? Depois do jeito como deixou a biblioteca?  
Dessa vez, ele não conseguiu esconder o pânico na voz.   
Por um longo tempo, Demi não pôde responder. Fechou os olhos, incapaz de suportar o olhar horrorizado de Joe. Como ele podia pensar em tal coisa? As lágrimas não conseguiam afastar a dor de cabeça, e estava com a garganta seca. Por fim moveu o rosto, primeiramente para a esquerda, depois para a direita.  
— Nunca. — Essa única palavra ecoou em meio ao ar frio que os circundava. — Queria vê-lo de novo e ter nosso filho.  
Joe ficou calado por um longo tempo. Por fim, fitou-a com uma expressão diferente.  
— Depois de tudo que lhe fiz? Depois de trazê-la para um lugar estranho onde nem mesmo fala sua língua?  
— Você só fez isso porque se importa com nosso bebê... De um modo como ninguém se importou com você quando era pequeno.  
Ele franziu a testa.  
— Encontrou os recortes de jornais?   
Demi aquiesceu com um gesto de cabeça.  
— E não é tudo, Joe. Li parte da correspondência guardada também. Fiz mal, mas não consegui evitar. Sinto muito.  
— Não se desculpe. Já li muita coisa que não devia também... — consolou ele.  
— Não, quis dizer que lamento você ter passado por tanto sofrimento — interrompeu Demi, lembrando-se das cartas frias e impessoais do pai dele. — Agora sei por que se interessa tanto pelo nosso filho.  
Ela o fitou, tentando ler além de sua expressão de dor.  
— Tudo que vi foi um garotinho confuso que era tratado como um objeto. Seu pai e sua mãe, as duas pessoas em quem você mais deveria confiar no mundo, só pensavam em si mesmos e na publicidade.  
Ele sorriu.  
— Então percebe por que gosto tanto de escapar do olho da mídia e vir para cá, para a Villa Jonas.  
Demi aproveitou a oportunidade para dizer:  
— Então, já que gosta tanto, deveria passar mais tempo aqui, não acha?  
— Você deveria ser a última pessoa a me encorajar. — Joe riu sem alegria. — Por que uma mulher tão boa gostaria de passar mais tempo com um homem que teve pais adúlteros e egoístas? Está nos genes.  
— Está nos genes? — Demi caiu na gargalhada.  
— Sim, nenhum deles dois nasceu para ser fiel — retrucou Joe.  
Demi semicerrou os olhos.  
— Você está trabalhado muito para dar felicidade ao bebê, e isso demonstra o quanto é generoso e o torna completamente diferente de seus pais. Garanto que faço o máximo para não parecer com minha mãe; ela era mandona e hipocondríaca. Foi por isso que detestei quando você me viu passar mal. Gosto de guardar meus problemas para mim.  
Joe passou um braço pelos seus ombros. Mantê-la aquecida era tão gostoso.  
— Foi um prazer providenciar as coisas para o bebê. Sou responsável por você e quero ajudar.  
A preocupação em sua voz era tão sincera que a fez sorrir.  
— Obrigada, mas não se preocupe comigo. O problema é meu! Detesto que me vejam enjoada. Minha mãe adorava exibir seus males reais ou imaginários... — Parou de sorrir enquanto afagava o ventre, como era seu hábito nos últimos tempos.  
— Joe...  
— O que foi?  
Demi segurou as mãos dele sem conseguir falar, e Joe pegou o celular imediatamente.  
— Tudo bem... Vou chamar uma ambulância...  
— Não precisa! Não é isso! — Arrancou o celular das mãos dele e as colocou sobre seu ventre. — Aí! Sentiu?  
Joe resolvera que agiria com surpresa quando Demi sentisse o bebê pela primeira vez, e pensou que teria dificuldade, mas não teve. Voltou a ficar muito emocionado.  
— É... O bebê... Nosso bebê — murmurou encantado. — Tenho vontade de carregá-la nos braços até a casa, mas creio que não vai permitir que a mimasse.  
— Daqui em diante, pode me mimar quanto quiser — respondeu ela. — Não vou reclamar.  
— Sério? Depois de tudo que fiz a você?  
— Depois de tudo que fez por mim — corrigiu ela, acariciando-o no rosto.  
Joe fechou os olhos e deslizou a mão pelo ventre de Demi, onde se abrigava seu filho.  
— Meus pais foram um terrível alerta para mim, mas eu exagerei me protegendo demais. Meus pais viviam para si mesmos com egoísmo e em busca de celebridade. Davam muito valor a coisas que para mim sempre pareceram vazias e superficiais. — Suspirou fundo e prosseguiu: — Cresci determinado a agir de maneira diferente em tudo. Entretanto, existe algo que tenho em comum com meu pai. Ambos produzimos um herdeiro sem querer. A diferença é que irei me responsabilizar totalmente pela minha criança. Quanto a você, cara mia, eu terei sucesso onde meu pai falhou.  
Falou com tanta autoridade que Demi não teve dúvida que assim seria.  
— Por isso minha gravidez é tão importante para você — murmurou.  
Desejava dizer a Joe o quanto estava feliz, mas não era o momento. Sua própria satisfação não tinha a menor importância diante da oportunidade de Joe abrir seu coração.  
— Não quero conflitos e frustração para o meu filho. Quero que tudo seja perfeito para ele ou para ela— disse Joe, com firmeza.  
Demi lembrou-se do modo como obrigara o piloto a aterrissar o helicóptero em Jolie Fleur no lugar correto.  
— Creio que ser pai e mãe exige abnegação — retrucou, com diplomacia. — Quero que nosso bebê seja feliz, mas não perfeito. Nada é perfeito. Ele ou ela terá pai e mãe que o amarão o tempo todo, e muito espaço para brincar e correr. Esse já é um começo maravilhoso que muitas crianças no mundo não têm chance de usufruir. Eu, por exemplo, gostaria desde menina ter podido viver minha própria vida e tomado minhas decisões. Mas fui obrigada a corresponder às expectativas de minha mãe o tempo todo.  
Joe sorriu com compreensão e a beijou. Circundou a cintura de Demi com os braços e a puxou para si em um abraço apertado.  
— Daqui por diante, assim será para você, Demi... Terá a chance de ser quem quiser. Farei de tudo para que nunca mais se sinta posta de lado ou que fique solitária, ou que seja abandonada. E uma promessa.  
A expressão nos olhos de Joe revelou para Demi que ela estava salva e segura, agora e sempre. Joe a ergueu nos braços com facilidade e delicadeza para levá-la para casa, e a beijou de novo com uma ternura que jamais demonstrara antes.  
— Acredito em você — murmurou Demi, aconchegando-se a ele.  

Fim 
Hey amores espero que tenham gostado dessa adaptação. Agora vou postar só Bound By Honor e talvez depois venha com uma fic minha mesmo ok? Beijos 

Um comentário:

Espero que tenham gostado do capítulo :*