Capítulo 23


Nesse momento, sentindo a brisa fria da manhã seguinte, percebeu com toda a clareza como seria sua vida com ele.  
Oh, o que fui fazer?  
Ela deixou a cama cambaleando e fitou o próprio reflexo no grande espelho de alfaiate do outro lado do quarto.  
Concordara com um casamento de conveniência no qual toda a conveniência seria de Joe.  
Caminhou até as janelas sentindo o sol da Toscana como se fosse mel que escorresse pela sua pele. O céu ainda mantinha o tom rosado do alvorecer. Demi imaginou quantas gerações de maridos aristocratas haviam instalado suas esposas nesse paraíso solitário ao longo dos séculos. Pensou nas aulas de História que tanto amara no colégio.   
Não estou só. Estarei seguindo uma longa tradição, refletiu, tentando se encaixar na situação que vivia.  
Joe sugerira que ela podia dar as costas para sua generosidade e ir embora.   
Isso apenas significa que ele não me compreende, refletiu Demi. Cruzou os braços sobre o peito e fitou o jardim iluminado pelo sol matinal. Sua vida fora difícil até conhecer Joe. Perdê-lo e voltar para a Inglaterra como mãe solteira seria impossível. Jamais conseguiria condenar uma criancinha ao tipo de infância que ela própria tivera. O pobre pequeno merecia tudo que pudesse lhe proporcionar. E, se isso significava se unir legalmente a Joe, então era isso que precisava fazer.   
O artista jovial que ela amara não existia. No seu lugar, estava um homem de negócios com um coração de pedra. Os dois se chamavam Joseph Jonas, porém o cruel era o verdadeiro, e o outro, afável, um disfarce usado para satisfazer seus próprios caprichos. Na noite anterior, pudera entender melhor seu caráter. Desse dia em diante ele iria considerar que fazer sexo com ela era seu direito e dever.  
Uma onda de constrangimento e vergonha a dominou.  
Já fora ruim ter-se deixado levar, porém, quando encontrasse Joe de novo, teria que encará-lo sabendo que ele tinha tamanha falta de consideração por ela que não permitira que passasse a noite toda na sua cama. Oh, é claro que abordaria o assunto com charme e tato, mas no íntimo, Demi sabia que Joe era um daqueles homens que devia pendurar um cartaz na porta do quarto: "Só por uma noite".  
Assim pensando, Demi foi até o banheiro de sua suíte. Era um verdadeiro conto de fadas espelhado, mas ela não conseguiu encarar a própria imagem refletida.  
O que andara pensado ao se entregar a um homem como Joseph Jonas? A resposta era fácil. Ficara cega e não vira seu caráter real. Joe nunca se interessaria em transformar a paixão original em um amor duradouro ou qualquer tipo de amor. Por que faria isso? Devia encontrar todos os dias mulheres muito mais elegantes e bonitas do que ela.  
Poderei me tornar sua esposa no nome, mas jamais passarei de uma aventura de uma noite, refletiu com amargura.  
Quando haviam se conhecido, Joe só estivera pensando em se divertir. E encontrara diversão. Para ele isso seria tudo... Mas Demi agora sabia que o custo seria um coração em frangalhos. O seu coração.  
Apesar da determinação de Joe de encarar o casamento apenas como uma conveniência, sua mente divagava sempre voltando para Demi. O edifício Jonas em Florença estava repleto de lembranças de sua casa. A sala de reuniões, o refeitório, os corredores do andar executivo exibiam aquarelas e fotografias da VillaE, em um lugar de honra na parede atrás de sua escrivaninha, encontrava-se emoldurada uma pintura grande que fizera de Demi na borda da piscina de Jolie Fleur, usando apenas sua memória.  
Para ser honesto, era o melhor trabalho artístico que já fizera, mas se recusava a admitir... Mesmo para si próprio. Quanto mais olhava para a tela, mais repudiava sua situação. Fora desajeitado e descuidado. E seu relacionamento com ela estava carregado de emoções... Um mundo diferente do modo frio e calculista como costumava conduzir sua vida e seus negócios. E isso estava tendo um efeito negativo sobre ele, percebeu, quando o representante de um dos museus da cidade precisou tossir duas vezes para fazê-lo desprender a atenção do quadro.  
— E agora está noivo! — exclamou o cliente idoso para provocá-lo. — O que sua noiva, dirá entrando aqui e vendo essa pintura na sua parede?  
Sem afastar os olhos do quadro, Joe se levantou e cruzou o escritório com largas passadas. Depois, parou a poucos centímetros de distância da pintura cujo modelo com curvas voluptuosas carregava, no momento, o seu filho.  
— Essa pintura é o retrato de minha noiva, mas ela não tem o menor interesse em vir aqui. Entretanto, o senhor tem razão. Esse quadro distrai demais. — Com gesto brusco, virou a tela para a parede.  
O rumor das hélices do helicóptero fez a criadagem da Villa Jonas entrar em polvorosa. Demi se precipitou pela galeria do segundo andar, a fim de saber qual o motivo para tanta agitação. Chegou a tempo de ver o helicóptero com o logotipo de a House of Jonas descer passando pelas janelas. Quando ela chegou ao térreo, o veículo já estava no pátio interno da Villa.  
— Joseph! — gritou Demi, da soleira da porta. — Pensei que ficaria ausente por muito tempo!  
— Dá para perceber. — Ele examinou o relógio de pulso e depois fitou Demi. — Não viu a lista de instruções que deixei? Deveria estar descansando a esta hora.  
— E estava... Até que você chegou. Quando ouvi um helicóptero em cima do telhado, fiquei assustada...  
Ele estalou os dedos em um gesto de irritação.  
— Dannazione! Falei com o pessoal da segurança. Deveriam tê-la avisado de minha chegada.  
Demi balançou a cabeça.  
— Você também os mandou manterem a casa um oásis de serenidade por causa do bebê, lembra? A segurança pode ter avisado os criados, mas eles jamais perturbariam minha sesta. Devem ter ficado assustados e com medo do que você faria se me acordassem. E esperavam que você desse o exemplo e me deixasse dormir também sem chegar com tanto espalhafato — finalizou com ênfase.  
Ele fez uma careta.  
— Entendi a indireta... De qualquer modo, não acontecerá de novo. Ficarei aqui na Villa por certo tempo. Decidi tirar umas férias curtas.  
A notícia deixou Demi confusa, mas ela tentou ver o lado positivo. Enquanto Joe tirava umas férias, ela saberia onde ele estava.  
Seu humor começou a melhorar enquanto percebia que poderia haver outra vantagem também. Sem precisar se preocupar com os negócios, Joe poderia relaxar. E então o artista tranquilo e simples que ela conhecera em primeiro lugar poderia ressurgir em sua vida e encantá-la de novo...  
— Oh, que bom... Poderá passar algum tempo no seu ateliê pintando! — exclamou com alívio.  
Ele a silenciou com um olhar.  
— O que a faz pensar que terei tempo para isso? Tenho muito que fazer... Organizar tudo a tempo para a chegada do meu herdeiro. Quanto a você, deve voltar para a cama. Monsieur Mareei estará aqui dentro de... — consultou seu relógio de ouro. — quarenta e oito minutos, e desejará estar bem desperta para discutir modelos de seu vestido de noiva, certo?  
Depositou um beijo na fronte de Demi, que suspeitou ser um gesto para ser visto pelos criados que observavam a cena e sorriam.  
— Mas... Não acha que os preparativos para a chegada do bebê devem ser um esforço conjunto? — retrucou, lançando um olhar de esguelha para os criados. Eles á deixavam nervosa, apesar de suas expressões benevolentes.  
Joe deu um, tapinha amigável em seu braço.  
— E é. Seu corpo está fazendo todo o serviço pesado, e quero garantir que o resto corra tranquilamente.  
Assim dizendo, caminhou para seu escritório. Demi foi deixada sozinha e subiu as escadas de volta para o quarto.  
Não teve chance de voltar a dormir. Dentro de minutos, começaram a chegar automóveis, e portas foram abertas e fechadas sem parar.  
Eram pessoas que desejavam falar com Joe sobre diversos assuntos. Uma dessas visitas era para a própria Demi: um estilista famoso, Monsieur Mareei.  
Mais tarde, depois que Monsieur Mareei tirou suas medidas e lhe mostrou seu portfólio de vestidos de noiva para celebridades, uma empregada trouxe a programação para o dia seguinte. Estava repleta de visitas: nutricionistas e especialistas de todos os tipos dariam consultas para Demi. Ela não fazia ideia do por quê.  
Joe se sentia tão confiante que tomava as decisões ele próprio sem pedir sua opinião.  
Cansada e frustrada, Demi se sentia um simples repositório para o bebê. Não haveria lugar para ela na vida de Joe  depois que a criança nascesse. Tinha certeza disso. A única coisa que podia pensar era em como viver bem à margem. Como fora cega!   
Quanto mais pensava a respeito, mais percebia que perdera o Alessandro que amara no início. E isso acontecera no momento em que ele a deixara na França. Não podia enfrentar a vida de casada caminhando sobre ovos, à espera de ser posta de lado outra vez. E essa programação era o fim do mundo.  
Desculpando-se rapidamente com o estilista do vestido noiva e o deixando a falar sozinho, correu ao encontro Joe. Jamais se sentira tão determinada a fazer alguma coisa. Ele acha que resolve tudo por mim durante a gravidez e que é dono de minha vida e de meu corpo! Refletiu com raiva. Precisava defender sua causa... Antes que ele a distraísse com seus olhos profundos e seu charme.  
Aqueles olhos... Ela tratou de afastar o pensamento. Seus passos se tornaram mais vagarosos e hesitantes enquanto uma imagem de Joseph surgia em sua mente. Então cerrou os dentes e continuou a andar com renovado ânimo. Sem Joe, sua vida era vazia de muitas maneiras... E ela se ressentia com isso. Demi desejava ser independente, porém seus dias eram nada sem ele. Quanto mais pensava em ser uma esposa só no nome, mais se sentia enredada.  
Uma raiva justificada a deixou com medo e magoada ao mesmo tempo. Quando descobriu Joe  na biblioteca da Villaconversando com o marceneiro que faria o berço, estava prestes a explodir. Ouvindo os já conhecidos passos delicados de Demi, ele se virou com um sorriso que teria derretido um bloco de gelo, mas que não teve nenhum efeito em Demi. Ela o confrontou com as mãos nos quadris.  
— Procurei você por todos os cantos!  
Ele ficou surpreso com a agressividade em sua voz, e respondeu:  
— Bem, agora me encontrou. O que houve?  
— Não posso continuar vivendo assim nem mais um minuto! Você entra de novo na minha vida como um furacão e me arrasta para viver atrás desses muros altos. Todos os meus movimentos são monitorados, porém mesmo assim você não quer se comprometer de verdade comigo. Bem, este pode ser seu reino particular, mas não significa que pode mandar em cada segundo da minha vida!  
Joe arregalou os olhos.  
— Está me dizendo que não gosta de viver aqui?  
Com gestos calmos, foi buscar um copo com água para ela, que revidou:  
— É só nisso que pode pensar agora? Em água?  
— Outros no meu lugar poderiam lhe dar umas palmadas porque está se tornando uma menina mimada, porém procuro ser mais digno.  
— Eu? Mimada? — Demi estava estupefata. — Como pode ter a coragem de me acusar disso quando é você que só faz o que quer!  
— Estou sempre disposto a negociar — retrucou-o, com toda a tranquilidade.  
— Quem é você, Joseph? — perguntou Demi, exasperada. — Sem dúvida não o homem que conheci na França! O que aconteceu com o sujeito divertido e amável que me seduziu no verão?  
Ele a fitou intensamente e depois murmurou:  
— Tornou-se pai. Levo muito a sério meus deveres e responsabilidades. E você deveria fazer ô mesmo, Demi. A época de diversão acabou.  
— Grande casamento nós teremos! — a comentou, com ironia.  
— Isso depende de você.  
— Quer dizer que tenho escolha, Joe?  
— Sempre há uma escolha — falou ele com frieza. — Pode terminar tudo agora mesmo. Se, acha que não serei um bom pai e que você se sairá bem sozinha, não a impedirei.  
Demi o fitou. Joe  pouco se importava com ela; sua vida desmoronara e ele ali permanecia impassível.  
— Não posso — murmurou por fim. — Sabe disso tão bem quanto eu, Joe. Do seu jeito egoísta, deseja esse bebê também. E eu quero ficar perto dele. Isso me acorrenta a você.  
— Sabia que isso iria acontecer no momento em que permiti que você entrasse na minha vida! — gritou ele. — Aconteceu o mesmo com...  
Deteve-se. Ia dizer aconteceu o mesmo com meu pai, mas já não tinha certeza se Demi seria tão má quanto sua mãe fora.  
— Foi o mesmo com quem, Joseph? — insistiu Michelle. — Com suas outras namoradas? Bem, não posso fazer comparações com outros homens, porque você foi o único para mim até hoje. — O sofrimento trazia lágrimas aos seus olhos, mas prosseguiu: — E, se a vida com você será assim, então é melhor ir embora! — Virou-se e caminhou às cegas para a porta, esbarrando em cadeiras e poltronas no desespero de fugir.  
Desejava que Joe se comprometesse com ela, que a tomasse nos braços, mas ele nada fez.  
Correu pelo vestíbulo e saiu da Villarespirando o ar fresco. A raiva e a frustração que a dominavam escaparam enquanto sorvia o ar nos pulmões.  
Continuou a correr pela propriedade sem se importar para onde ia.

4 comentários:

  1. Não acredito que você parou nessa parte,tá querendo me matar do coração mesmo né,você tá muito má ultimamente

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  2. Gente como vc para aí na do babado. VOOOOOLTA

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  3. Eita Demi revoltada
    Está tudo maravilhoso !!!
    Posta logooo ❤️
    Beijos

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  4. Gente q bafão,arrasou Demi
    Mo sacanagem dele,isso ai Demi mostra pra ele q ele nao manda em vc,esfrega na cara dele
    Se fosse eu ja tinha perdido a paciencia
    Quero mais quero mais to amando mtt
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    Xoxo

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Espero que tenham gostado do capítulo :*