Trincando os dentes para suportar a raiva crescente — não ciúme, é claro que não — ele andou de um lado para o outro no recinto estreito. Demi finalmente decidira casar com aquele pobre coitado do Clayton porque via nele um ganha-pão? Provavelmente. Pela cara do lugar, ela não estava indo muito bem financeiramente. Sem dúvida alguma, o nepotismo fora responsável por ela finalmente acabar na revista.
Apesar do noivado, ela dispensaria Clayton. Fazer sexo sem amor não seria problema para ela, seria? Conhecia seus antecedentes. Mesmo tendo recém completado dezoito anos. Demi cobiçara sexo, e quando ele se comportou de maneira nobre, por amor e respeito, ela procurou o primeiro macho disposto: Clayton.
Praguejou silenciosamente. Lembranças daquela noite ainda assombravam seus sonhos. Mas ela seria sua, agora. Tinha certeza.
Rejeitando a energia inquieta que o forçava a caminhar pelo carpete barato, sentou-se na poltrona. Fechou os olhos saboreando a vitória que estava por vir, o ato final e definitivo de tirá-la da sua cabeça, libertando-o para finalmente encontrar prazer, satisfação e contentamento com outra mulher que seria digna de compartilhar o resto de sua vida, dar-lhe filhos.
Demi Lovato não rejeitaria sua proposta de jeito nenhum. Com a Lifestyle novamente prosperando — e ele poderia tornar isso possível — ela poderia depender novamente do papai extremoso para doações gordas, e não teria de se preocupar em trabalhar para seu sustento.
Ele gostava do café preto, forte e sem açúcar, recordou-se enquanto colocava uma única xícara e pires de cerâmica ao lado do bule na bandeja. Suas mãos tremiam.
— Coragem — disse baixinho, ao mesmo tempo em que respirou fundo ao sair da cozinha. — Vamos acabar logo com isso.
Talvez estivesse sendo egoísta em deixar a Lifestyle afundar, mas como Ben observara, ninguém iria morrer de fome. A equipe encontraria outros empregos e Maggie, sua principal preocupação, receberia uma aposentadoria.
O outro modo, vender o corpo para Joe usar até que estivesse cansado da brincadeira, lhe causaria danos irreparáveis. E sabia que não seria muito melhor para Joe. Neste exato momento, ele achava que o sabor da vingança seria doce, ela sabia disso. Mas em algum lugar, debaixo da máscara fria e linda que ele usava, tinha de haver algum vestígio de decência. Acabaria se odiando pelo que fizera.
Será que acabaria?
Não se portara com decência cinco anos atrás, se portara? Pensar na mulher com quem ele estava fez com que seu estômago se revirasse. E, no entanto, ele a culpava pelo que acontecera e estava disposto a puni-la!
Parou no ato de abrir a porta da cozinha com o pé, a testa enrugando-se. Sua vaidade seria tão grande que ele não conseguia suportar a idéia de uma mulher — qualquer mulher — dispensá-lo, mesmo que já tivesse uma substituta?
Ou será que era possível haver uma explicação inocente para o modo como ele e aquela criatura gloriosa com quem estava se comportaram?
Inconscientemente, sacudiu a cabeça. Ela viu o que viu, não foi? É claro que, agora, sabendo quem ele realmente era, a situação ficava diferente. Ele não tinha por que explorar mulheres ricas em troca de alguma gratificação financeira.
Sua cabeça estava confusa. Não conseguia pensar direito!
Com um pequeno empurrão, passou pela porta. Sua respiração ficou presa na garganta. Ele estava refestelado na poltrona de molas quebradas, os olhos fechados. Estava tão bonito, e, por incrível que pareça, tão vulnerável, que naquele momento tudo retomou com força total. Toda a profundidade do amor que outrora sentira por ele. Que ainda sentia...?
O cabelo fino na nuca de Demi se eriçou, ao mesmo tempo em que o coração parecia crescer-lhe no peito, e uma dor acre-doce roubou o seu fôlego. Então, como se alertado pelo seu arquejar, Joe abriu os olhos. Naquele instante desprotegido, de encontro aos seus olhos, alma com alma, ela parou de lutar com o inevitável e disse, com a voz trêmula:
— Eu farei o que você quer.
Porque finalmente percebeu que não poderia suportar perdê-lo, não de novo.
Os olhos fixos no repentino enrubescer do rosto dela, Joe se pôs de pé. Uma onda quente e insistente percorreu seu corpo teso. Ela era dele! Em algum momento duvidara? Não sabia que a sirigaita preguiçosa e avarenta sempre escolheria a opção que lhe parecesse mais fácil?
O único sinal de confirmação a que se permitiu foi uma leve inclinação da cabeça. Pegando um cartão no bolso interno, ele escreveu rapidamente no verso.
— O número do meu celular. O endereço do meu hotel. Esteja lá amanhã à noite, às oito. Discutiremos nosso itinerário no jantar.
Casualmente, jogou o cartão de visita alongado na bandeja de café que ela preparara, e virou-se, lembrando-se fervorosamente de que não era mais o idiota apatetado e ansioso que fora outrora, reprimindo com firmeza o instinto primordial de tomá-la em seus braços e exigir um pouco do que lhe era devido. Sentir a doçura dos lábios dela debaixo dos seus, sentir a resposta acalorada do seu lindo corpo. Isto poderia esperar. Não havia porque revelar o desejo que daria a Demi poder sobre ele.
Observando Joe caminhar até a porta, os olhos de Demi estavam fixos nos ombros largos e na nuca de sua cabeça escura, orgulhosamente erguida. Queria chamá-lo de volta, dizer-lhe que ainda o amava — pensava que o amor cessara, mas agora sabia que isso não era verdade — e explicar exatamente por que agira daquela forma anos atrás.
Mas foi impedida pela arrogância dele, pela insensibilidade e pela abrupta e quase desdenhosa aceitação de sua própria submissão. Para ele, isso era o seu direito, a vingança de um homem duro. Receberia quaisquer manifestações de amor com um desgosto cínico.
Quando a porta se fechou atrás de Joe, ela enfiou a mão fechada entre os dentes e sentiu as lágrimas escorrerem escaldantes pelo rosto.
Deixando a reunião editorial regular das segundas-feiras, Demi foi abordada pela secretária de seu pai.
— Ele quer vê-la no seu escritório, agora. E não se preocupe — ela sorriu ao ver a expressão desolada no rosto da mulher mais jovem. — Ele está de ótimo humor hoje!
Não era o humor do pai que a preocupava, pensou Demi distraída enquanto se dirigia para o escritório dele. Era todo o resto!
Contar para Sophie sobre o noivado rompido, na noite passada, já fora um pesadelo. Claro que ela enfeitou o máximo possível a coisa, explicando que ver Joe novamente a fez perceber que ainda sentia algo por ele, e que casar-se com Ben nestas circunstâncias não seria justo ou certo. Ela pulou a parte da chantagem simplesmente porque, desde a conversa com Ben, compreendera que salvar a revista não era o motivo pelo qual cedera. Enfim, salvar a revista era irrelevante.
Desde que Joe saíra, atormentava-se em dúvidas. Durante todo o dia olhara para o número do seu celular até que os algarismos se tornassem borrões diante dos olhos, tentando decidir se ligava para ele e lhe dizia que mudara de idéia ou se mantinha sua resposta.
Se ele tivesse mostrado alguma emoção, apenas sorrido, ela poderia estar pensando de modo diferente. Se ele tivesse tomado suas mãos, como sempre o fizera no passado, e tivesse encostado os lábios quentes lentamente sobre as costas delas, antes de virá-las e dar um prolongado beijo em cada palma, Demi estaria extasiada.
Quando mudara de idéia e concordara com o que ele pedira, sentira como se eles tivessem apenas que se tocar para que toda a antiga magia tomasse conta deles novamente. Mas Joe não a tocara e ela fora uma idiota em pensar que tudo poderia voltar a ser como antes, porque nada daquilo fora real.
Da forma como as coisas aconteceram, sentia-se insultada. E idiota.
O número do celular dele estava impresso permanentemente no seu cérebro. Ligaria no instante que voltasse para o próprio escritório, e, assim esperava, disfarçaria a dor na voz ao avisá-lo de que mudara de idéia.
Seu pai estava admirando a vista da janela quando Demi entrou em sua sala. Ele virou-se para ela um sorriso raro no rosto marcado e anunciou:
— Você já pode esvaziar a sua mesa, hoje mesmo. Diante das circunstâncias, não há porque você cumprir o aviso prévio. Raffacani já cuidou de tudo.
— Você falou com ele?
Demi titubeou à procura de uma das cadeiras que ficavam em frente à mesa grande.
— Ele acabou de ir embora. Exigiu uma reunião de emergência dos executivos logo de manhã cedo.
Seu tom era de admiração.
— Não é de perder tempo. Eu gosto disso. É um bom presságio.
Para quem? Demi se perguntou, abatida, ao se sentar e observar o pai acomodar-se na cadeira do outro lado da mesa, os olhos frios contemplando as feições pálidas do rosto dela, como se a estivesse vendo, realmente vendo, pela primeira vez.
— Eu não fazia idéia de que vocês já se conheciam. Raffacani me explicou tudo. Como vocês se conheceram na Espanha, como ele perdeu contato com você, e o seu acordo de passarem algum tempo juntos em Andaluzia.
Ele se permitiu mais um breve sorriso.
— Jogue cuidadosamente as suas cartas, convença-o de que será a esposa perfeita, e estará feita para toda a vida. Entenda bem. Arthur ficou arrasado já que Ben fora jogado para escanteio. O noivado de vocês provavelmente foi o mais curto da história. Mas, já que o pacote do Raffacani inclui investimento pesado, reestruturação de pessoal nos níveis editoriais mais altos, ele logo aceitou.
Ele lhe lançou um olhar ponderado.
— Eu imagino que esse pacote de ajuda esteja atrelado a você. Eu não quero saber dos detalhes, mas posso dizer-lhe uma coisa: você finalmente compensou-me por não ter sido o filho que eu sempre quis. Boa menina!
Finalmente conseguira a sua aprovação! Demi engoliu as lágrimas que ameaçavam rolar. Mas a que preço? Não adiantava dizer que tinha aprendido a conviver com a indiferença dele. Por toda a vida desejara seu carinho, sua aprovação e o reconhecimento de que, apesar de não ser um menino, era sangue do seu sangue, sua filha. Era uma necessidade da qual não conseguiu se livrar, e levou um tempo para respirar fundo. E para ser justa, racionalizou, ele não sabia da história toda.
Finalmente, parecia decidida: a ligação para Joe não seria feita. Não podia ser feita, não agora. Ele retiraria o pacote de ajuda. Seu pai a culparia e, mais do que isso, a odiaria!
Mais uma vez, o pequeno vestido preto estava fazendo valer cada centavo que pagara por ele, foi o pensamento admitidamente ridículo de Demi ao pagar o táxi e entrar no saguão de um dos hotéis mais exclusivos de Londres.
Qualquer coisa para tirar da sua cabeça a humilhação que estava por vir.
Tomara banho e se vestira no automático, prendendo o cabelo na nuca e adornando as orelhas com brincos de pérolas. Economizando na maquiagem, ela observou o resultado final com a satisfação triste de saber que parecia segura, distante e intocável. Parecia a “Rainha do Gelo”, Sophie teria brincado caso ainda não estivesse chateada demais para falar com Demi.
— Eu sempre considerei você minha irmã caçula! — Sophie sussurrara no outro dia. — E minha melhor amiga, e ia ser ótimo tê-la na família de verdade. E não se esqueça de que fui eu quem colocou a idéia na cabeça do Ben. Fui eu que lhe disse para pedi-la em casamento, para que nós permanecêssemos uma família agradável e aconchegante.
Demi não sabia disso. Mas fazia sentido. Ben teria considerado a fundo o que sua irmã gêmea lhe dissera, e teria decidido pela prudência.
Ele não possuía uma única gota de romantismo ou espírito de aventura no corpo, e se quisesse casar em algum ponto da vida, começar uma família, poderia muito bem ser com a filha do sócio de seu pai. Gostavam muito um do outro, sempre foi assim, conheciam-se a fundo. E após o lamentável incidente com o garçom espanhol, ela nunca mais saíra da linha, nunca mais namorara. O que poderia ser melhor?
Suspirou profundamente. Conhecia como a mente dele funcionava e podia imaginar a conversa íntima que ele tivera consigo mesmo.
E agora perdera Sophie, sua melhor amiga, e Ben também. Os três nunca mais seriam tão unidos. E quando Joe acabasse com ela, e a jogasse fora como a um saquinho de chá usado, não teria nada e nem ninguém.
Sem orgulho, ou amor próprio. Sem emprego. E tudo o que passara se devia a um instante de pura loucura, ao considerar que ela e Joe poderiam recapturar o que outrora tiveram. A atitude dele ao aceitar sua submissão a trouxera de volta à sanidade.
De posse do número do quarto dele, pegou um dos elevadores. Enrijecendo a coluna, respirou fundo quando parou no andar desejado. Corresponderia a todas as variações do humor dele. Se ele conseguia ser duro e desdenhoso, ela também podia ser breve a ponto de ser rude, se era assim que ele queria. Manter a distância emocional era sua única autodefesa. Da segunda vez era praticamente impossível se recuperar de um coração partido.
A riqueza de Joelhe concedera o poder de se vingar, mas isso não queria dizer que tiraria alguma satisfação disso tudo. Se Joe queria que ela fizesse sexo com ele — fazer amor não chegava perto de descrever o que estava em jogo naquele trato sórdido — então iria cumprir a sua parte no acordo infernal. Mas ele não ia gostar de fazer sexo com um pedaço de madeira indiferente.
Esta seria a sua vingança!
Caraca Lary, agora as coisa vão ficar maravilhosas, demi querendo se vingar também? Ôh senhor vou morrer aqui de tanta emoção hahaha
ResponderExcluirEita. Gostei de ver o capítulo foi longo kkkk esperando a vingança da Demi.
ResponderExcluirDois vingadores kkkkkk posta mais
ResponderExcluirOMG ela quer se vingar também ? MDS isso vai ser o máximo.
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