Capítulo 20 Bônus do fds



Aquilo estava se aproximando perigosamente de um flerte. Demi se levantou e deu um passo para trás, nervosa, como se tivesse se aproximado demais de um despenhadeiro. 
— De qualquer jeito, nós não temos uma babá.  
— Betty disse que poderia ficar com as crianças de bom grado. 
Demi gostava e confiava na governanta. Ela também era mãe e adorava os gêmeos. Além disso, já fazia realmente muito tempo desde que ela havia saído pela última vez, ainda mais para uma festa. 
Oh, está bem — disse ela. — Eu vou. 
Algo a que até então ela havia estado indiferente de repente se tornou motivo de excitação quando Demi começou a se arrumar. Talvez porque estivesse se sentindo bem consigo mesma por não ter permitido que ele a manipulasse, Mas ela não podia baixar a guarda em relação a Joe. Achara que mantendo distância dele seu desejo diminuiria, mas não havia nada mais longe da verdade. Ela ainda o desejava com todas suas forças e sabia que ele também, mas algo mudara. Eles haviam gerado aquelas duas vidas e o significado emocional daquilo era extremamente profundo. Eles tinham de manter um relacionamento civilizado pensando no futuro. Joe possuía todo o instrumental necessário para feri-la outra vez de maneiras que ela nem sequer podia imaginar, e não ia permitir que isso acontecesse. Não agora. Ela não podia se dar ao luxo de desabar tendo dois belos bebês que precisavam tanto dela. Lembre-se disso da próxima vez que ele a tentar, então! 
Betty assumiu os cuidados com os bebês para que os dois pudessem ir à festa. Ela era uma governanta esplêndida e uma babá inigualável. Mulher madura, já com seus 50 anos, ela incentivou Demi a se divertir e não se preocupar com as crianças. 
— Pelo amor de Deus! — disse ela firmemente. — Vocês vão estar logo ali ao lado se eu precisar de ajuda! 
A primavera estava no ar e Demi escolheu seu vestido favorito de antes da gravidez. Ela sempre se sentira bem com ele e descobriu, encantada, que ele ainda lhe servia. O tecido azul aderia suavemente a seus quadris e ia até os tornozelos, cobrindo, graças a Deus, suas pernas brancas por causa do inverno. Ela calçou então um par de sandálias igualmente azuis que havia comprado em Roma, o que deu um toque charmoso em seu visual. Demi deixou os cabelos recém-lavados soltos e borrifou um perfume de  rosas. 
Joe estava esperando por ela na sala de vistas, debruçado sobre a janela. Ele se virou ao ouvir seus passos se aproximando e estreitou os olhos negros ao vê-la. 
Os cabelos sedosos caíam como uma cascata sobre seus ombros, presos apenas por duas presilhas que o impediam de cobrir parte do rosto. Os olhos cor de violeta estavam escuros e arregalados. Ele se sentiu tomado por um profundo desejo. 
— Você está linda — disse ele suavemente. 
— Você não deveria parecer tão surpreso. 
— Talvez eu realmente esteja. Já faz muito tempo desde a última vez em que eu a vi vestida assim. 
— Já faz muito tempo que eu não vou a uma festa. 
Suas palavras casuais, porém, mascaravam o que Demi estava realmente sentindo. Aquilo parecia um encontro, uma coisa de casal, algo que eles não eram. A última vez em que ela se vestira daquele jeito fora naquela noite fatídica em que ele tinha sido tão crítico sobre o esforço que ela fizera para agradá-lo. Lembre-se disso para não se deixar levar pelos olhos negros dele, pela maneira como eles a estão acariciando agora, como se quisessem arrastá-la consigo e violentá-la. 
— Acho melhor eu ir dar uma olhada nos gêmeos — disse ela hesitante. 
— Demi, eu acabei de olhar. Eles estão bem. Betty também. Agora relaxe. 
Relaxar? Isso equivaleria a se deixar levar diretamente para a zona de perigo. Relaxar significava baixar a guarda, olhar para Joe e achá-lo irresistível, vestindo aquela camisa e calça escuras combinando com seu cabelo cor de ébano e os olhos brilhantes. Ela foi pegar o xale, mas ele a deteve. 
— Permita-me — disse ele, cobrindo cuidadosamente seus ombros desnudos. 
Demi estremeceu e ficou se perguntando se ele havia percebido. Joe era um verdadeiro especialista quando se tratava de mulheres. Será que ele compreendia o quão perturbador poderia ser um simples gesto como aquele, especialmente para alguém que estava ansiando por um contato físico há tanto tempo, a ponto mesmo de fazer seu corpo doer? E agora? Será que ele estava roçando os dedos deliberadamente sobre sua clavícula, deixando-a consciente do quanto eles estavam próximos aos seus seios e de como seria fácil para ele começar a afagá-los? E não era isso mesmo o que ela queria? Tremer de paixão e desejo novamente? Mas tudo aquilo era passado. Tinha de ser. 
Seu rubor só a estava deixando ainda mais embaraçada. Ela se afastou de Joe, tentando conter o desejo. 
— Vamos, então — disse ela, hesitante. 
— Sim, vamos — repetiu ele, com um leve sorriso curvando os cantos de sua boca, como um jogador de pôquer que tivesse uma carta na manga. 
A janela iluminada da grande casa ao lado deixava entrever uma festa animada com mulheres minúsculas que pareciam pássaros exóticos do paraíso em seus vestidos caros e suas jóias, e homens com ternos escuros. 
Foi a própria Caroline quem abriu a porta, quase, pensou Demi, como se estivesse esperando por eles. Será que ela já estava ficando paranóica? Ainda que ela estivesse interessada em Joe, aquilo não era da sua conta. Não podia decidir que não o queria para si e se opor quando alguém efetivamente o fizesse. Ainda que Caroline fosse uma mulher casada, não era sua função agir como a consciência dele. O modo como a loira havia grudado nele deixava bem claro que Joe era seu convidado favorito. Demi não podia censurá-la. Ela mesma já se comportara assim no passado, tendo sido mais uma na longa fila de mulheres dóceis arrebatadas por aquele bilionário grego deslumbrante. Ele dominava o ambiente e se destacava entre os outros homens, como se fosse iluminado por algum fogo interior. Atraía o olhar de todos como um ímã. Demi viu as pessoas se aproximando dele, tanto homens quanto mulheres, mas especialmente mulheres, tentando ouvir o que ele dizia, como se alguma força para além de seu controle os compelisse a fazê-lo. 
— Ele é adorável — disse uma mulher que estivera perto dele, observando-o. 
— E mesmo — disse Demi. 
— Você deve ser a mãe das crianças, não é? 
— Isso mesmo. 
— Mas vocês não são casados? 
Demi se virou para olhar melhor para a mulher. Será que ela não se importava que aquela pergunta pouco sutil pudesse ser ofensiva? É claro que não. 
— Você parece saber muita coisa a meu respeito — respondeu Demi num tom provocante. 
— Sou a irmã de Caroline. Ela me falou de você. Disse que havia um novo casal morando na casa ao lado. 
A mulher forçou um sorriso que não alcançou seus olhos brilhantes, como se estivesse tentando esclarecer algo de uma vez por todas. 
— Mas você não é a esposa dele, é? 
— Não — respondeu Demi, perguntando-se se teria feito alguma diferença se a resposta fosse outra. 
Talvez aquele tipo de mulher considerasse que qualquer homem estava no páreo, contanto que fosse suficientemente atraente. Ela tomou um gole de champanhe, esperando dissolver o nó de angústia em sua garganta. 
De algum modo, porém, a irmã de Caroline a havia ajudado a reforçar sua convicção de que ela estava fazendo o melhor ao se manter física e emocionalmente distante de Joe. Se eles ainda fossem amantes, ela estaria soltando fogo pelas ventas ao ver a vizinha sorrindo como se já estivesse se imaginando com ele em sua cama. Onde, afinal, estava o pobre do marido dela! Tomou uma taça de champanhe e mordiscou alguns palitos de cenoura, forçando-se a conversar com outros convidados. Só porque estava toda perturbada por causa de Joe, não significava que ela não podia ser uma boa companhia numa festa. Encontrou mais uma mãe que morava do outro lado do parque que foi muito gentil com ela, terminando por combinar um encontro futuro para um café. 
Demi estava conversando com um pianista bastante arrojado, vindo do Uruguai, com as sobrancelhas mais escuras que ela já havia visto, quando sentiu um tapinha em seu ombro. Virou-se e encontrou Joe olhando-a, impaciente. 
— Está pronta para ir embora? — perguntou ele. 
Ela estava gostando muito da conversa sobre música clássica e teve vontade de lhe dizer que queria ficar para aprender um pouco mais, porém ambos já estavam fora de casa há duas horas, e ela estava ansiosa para rever os gêmeos. 
— Acho que sim. 
Demi sorriu para o pianista. 
— Gostei muito de conversar com você — disse ela. 
— Eu também — murmurou ele com um sorriso pesaroso. — É uma pena que você tenha que partir tão cedo. 
O ar estava frio do lado de fora. Eles haviam dado apenas alguns passos para fora do portão quando Joe a segurou pelo cotovelo, assustando-a tanto com o contato físico inesperado quanto com a hostilidade evidente em seus olhos negros. 
— Sabia que as pessoas dizem que ele flerta até mesmo com o piano?! — acusou ele, com uma expressão severa iluminada pelos holofotes de segurança. 
— De quem você está falando? — perguntou ela, genuinamente confusa. 
— Rodriguez. O homem de quem você não conseguia tirar os olhos! 
— As pessoas costumam olhar umas para as outras quando estão conversando, Joe! 
— É mesmo, preciosa— disse ele suavemente. — Então por que é que você sempre desvia o olhar timidamente quando fala comigo! 
— Eu não faço isso. 
— Mentirosa — zombou ele. — Você faz sim, e sabe por quê? 
— Não. 
Subitamente, sua luta desesperada por manter a compostura pareceu definitivamente perdida diante do forte poder afrodisíaco do toque dele. 
— Porque você sabe que se permitir a si mesma olhar um pouco mais demoradamente para mim, vai acabar se lembrando de como é ter meus lábios colados nos seus. A minha boca no seu corpo. Vai se lembrar de como era se deitar nua em meus braços, com seu corpo saciado. 
Mas não o seu coração, pensou ela, que sempre continuava faminto, à espera de algo mais. 
— Joe... 
— E perceberá que já está farta de viver apenas de lembranças. Que quer tudo isso de volta. Admita, Demi, admita que ainda me quer! 
— Joe... 
Demi pronunciou o nome dele tentando esboçar um protesto, dizer-lhe que eles deviam parar com aquilo, mas ela não devia ter sido muito convincente, pois a mão de Joe já estava segurando seu outro cotovelo e puxando-a na sua direção como se ela não fosse mais consistente que um novelo de lã. 
E ela estava permitindo. Joe a estava manipulando como se ela fosse uma marionete, mas ela já não parecia ligar. Como poderia se importar com o que quer que fosse quando todos seus sentidos estavam borbulhando como uma garrafa de champanhe agitada, prestes a estourar, cuja rolha tivesse sido finalmente aberta? 
Já fazia muito tempo desde que ela estivera em seus braços daquela maneira pela última vez. Não como naquele dia, em seu pequeno apartamento, logo depois de ter dado à luz, quando se sentira insegura e desajeitada. Esta noite, vestida com sua roupa de festa, de salto alto, toda perfumada e arrumada, ela estava se sentindo uma mulher de verdade, e não havia nenhuma dúvida sobre a autenticidade daquele espécime superior de homem que a estava puxando ainda mais para perto. 
E ao olhar para Joe ela pôde sentir a força dos músculos de seu corpo poderoso e a intensificação de seu desejo. 
— Você estava interessada nele? — inquiriu ele rispidamente. — Estava? 
— Não... 
Sua voz desapareceu assim que ele colou sua boca à de Demi, num beijo que mais pareceu um castigo do que uma manifestação de desejo, e, embora soubesse que não deveria corresponder, ela simplesmente não pôde se conter. 
Joe estava excitado, passando as mãos pelos cabelos dela como se nunca os tivesse tocado antes, roçando sua coxa insistentemente na dela, fazendo-a tremer e gemer de prazer. 
— Demi... 
Ela ergueu as mãos enquanto o beijava com um fervor de alguém que nunca havia sido beijada antes, passando os braços sinuosamente ao redor de seu pescoço, com se não pudesse ter o suficiente dele. Pressionou então seu corpo contra o de Joe e se sentiu derreter, presa de um desejo insuportável. Por que ela não deveria desejá-lo? 
Quando foi, afinal, que ela realmente havia deixado de querê-lo? Demi gemeu baixinho quando ele espalmou as mãos sobre suas nádegas, fazendo-a desejar que ele a tocasse ainda mais intimamente. Afinal de contas, eles eram dois adultos que... 
— Srta. Lovato! 
Uma voz a despertou de seu idílio. Aturdida, Demi ergueu a cabeça quando Joe parou bruscamente de beijá-la e viu Betty, no alto da escada que levava à porta principal de sua casa, com uma expressão preocupada. 
— Srta. Lovato, pode entrar, por favor? O bebê está doente! 


2 comentários:

  1. bem na hora...aí Jesus...pelo menos eles se beijaram !!
    tomara que não tenha acontecido nada demais com o bebê !
    tá perfeito !!
    posta logoooo
    beijos

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  2. COMO TU PARA AIIIII. posta logo, bjos amo essa fic

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Espero que tenham gostado do capítulo :*