Alguém a estava observando. Demi podia sentir fisicamente o
poder negro de olhos desconhecidos sobre ela. Nada parecido com os olhares levemente condescendentes que teve de agüentar a noite toda dos grandes e bons cidadãos que estavam ali, naquele ambiente sofisticado para apoiar, e, muito mais importante, para serem vistos apoiando, uma instituição de caridade da moda.
Ela pôde sentir a intensidade do olhar nas suas costas cobertas de seda. Sentir o desprezo frio e cortante.
Era desconfortável, sinistro.
Sentiu um calafrio.
Era a sua imaginação. Tinha de ser!
Irritada consigo mesma, com o cansaço que estava tornando-a vítima de fantasias, fez o que pôde para ignorá-lo. Estava cansada demais, só isso. Obviamente estava na hora de ir embora.
Na capacidade de substituta do Editor Social, bem como na de seu próprio título recém-adquirido de Editora de Moda, anotara os títulos e nomes mais dignos de nota, bem como detalhes importantes em relação ao que as mulheres exibiam ao desfilar. Neil, seu fotógrafo, tinha as fotos. Ela o encontraria onde quer que ele estivesse e o avisaria para encerrar o dia.
Estava tão cansada que suas pernas mal conseguiam suportar o próprio peso. Se as coisas na Lifestyle continuassem como estavam, acabaria representando todos os departamentos e trabalhando sem parar oito dias por semana. Editores experientes estavam indo embora em levas. Ratos abandonando um navio afundando, como dizia seu pai cada vez que uma carta de demissão chegava à sua mesa.
Os sons da alta sociedade se divertindo a deixaram com uma dor de cabeça de rachar, e ela não via a hora de voltar para a paz e tranqüilidade do seu apartamento. O problema era que se sentia um peixe fora d’água, e sabia disso. Talvez essa fosse a razão pela qual uma sensação paranóica de olhos rancorosos observando todos os seus movimentos parecia persegui-la. Estava transportando seus próprios sentimentos íntimos para uma entidade inexistente.
Claro que não havia ninguém observando-a, desdenhando-a. Por
que alguém haveria de fazê-lo?
Elegante no seu vestido preto, ela endireitou as costas e dirigiu-se para o generoso bufe. Encontrou Neil, como suspeitava, devorando canapés como se não comesse há dias.
— Estou indo embora — ela disse, recusando, com um aceno, sua oferta de vinho. — Temos tudo o que precisamos. — No íntimo, questionava se os números em queda da circulação seriam melhorados pelo artigo que sairia no próximo número da revista.
Os olhos castanhos de Neil examinaram o seu rosto pálido.
— Você parece exausta. Talvez fosse melhor arrumar um emprego decente! — Ele abandonou a comida pelo copo de vinho tinto. — Agüenta um instante e eu lhe dou uma carona até em casa. Presumo que esteja convidado para a sua festa de noivado, amanhã à noite.
— É claro. Quanto mais gente, melhor.
Demi sorriu, o primeiro sorriso autêntico da noite. Foi tomada por um calor reconfortante, que substituiu a desconfortável sensação de estar sendo observada.
O querido Ben. Daria o melhor de si para ser uma boa esposa para ele. Apesar de não haver uma grande paixão entre eles, encaravam isso como um bônus, pois evitavam, dessa forma, altos e baixos na relação. Eles tinham conversado e concordaram a respeito — aceitaram de bom grado, até. Um casamento forte e seguro, afeição e respeito de ambos os lados era tudo que eles queriam. Não tinha certeza a respeito de Ben, mas supunha que ele era pragmático demais para nutrir fortes emoções. E quanto a ela, bem, os acontecimentos de cinco anos atrás tinham destruído seu conceito de amor passional. Nunca mais sentiria algo tão profundo por alguém como sentira pelo espanhol. Seu casamento com Ben era até uma bênção, pois quanto mais fortes as emoções, mais forte a dor.
De maneira enervante, a sensação de estar sendo observada voltou com força total. Ela odiava isso. Sentia-se amedrontada. A sensação submergia todos os pensamentos reconfortantes sobre Ben e a vida que planejavam juntos.
Queria dar o fora dali. Ir para casa descansar um pouco antes que a imaginação tomasse conta dela.
— Deixe a carona para lá — disse com esforço. — Eu pego um táxi. Até mais.
Foi um esforço ainda maior virar-se. E foi impossível conter o seu espanto quando o viu. Olhos negros e frios observando-a.
Bem do jeito que se lembrava dele, mas com algumas mudanças de tirar o fôlego. Uma elegância altiva que o fazia parecer ter mais de vinte e sete anos, o terno escuro e perfeitamente cortado contribuía para o efeito intimidante, irradiando aquela auto-confiança de um homem totalmente à vontade consigo mesmo.
As belas feições estavam arrogantemente frias, os olhos negros apertados e intensos enquanto ele roubava a cor de suas faces.
— Joe!
O nome dele escapou-lhe por entre os dentes e um torpor invadiu-a quando ele a cumprimentou com um aceno impessoal da cabeça, girou nos calcanhares dos sapatos de couro pretos, feitos à mão e imaculados, e caminhou para longe dela, passando pela multidão elegantemente vestida por estilistas, como se não quisesse se sujar com nenhum contato verbal.
Sophie estava estirada no sofá da sala de estar do pequeno apartamento que elas dividiam perto de Clapham Common. Seu rosto atraente irradiava aquele brilho invejável, quando olhou para Demi, que acabara de chegar.
— Nossa, você está péssima! — Ela endireitou-se no sofá. — O que aconteceu? O Neil lhe passou mais uma cantada? Será que eu devo ligar para o Ben e pedir para ir lá dar uns trancos nele?
A boca de Demi se contraiu. Como sempre, Sophie estava por fora, e ela precisava colocar o acontecimento principal da noite — o fato de ter visto o homem que outrora acreditara ser o amor de sua vida — em perspectiva.
— Não, nada do gênero, graças a Deus! — Ela deixou a bolsa cair ao chão e se ajeitou na poltrona. — Essas festas de caridade da alta sociedade são um saco.
— É tudo culpa sua — Sophie disse com indiferença. — Você nunca deveria ter deixado convencerem você a se juntar à equipe. Eles também me pressionaram, lembra, mas me mantive fiel à minha carreira escolhida, a fisioterapia.
Demi deu de ombros e retirou os sapatos com os pés. Era uma história antiga. Ela não cursara uma universidade. Quando voltou da Espanha, cedera aos apelos do pai para que ela reconsiderasse os seus planos para o futuro.
A editora passava por dificuldades. Estavam em processo de redução de custos, vendendo ou cancelando os enfadonhos títulos periféricos, concentrando no carro-chefe, Lifestyle. Todos tinham que apertar os cintos. Cada um tinha que fazer a sua parte e toneladas de outros clichês. Era o seu dever se juntar à equipe editorial — a preço de banana — e fazer tudo que pudesse para ajudar a reverter a situação.
Na época estava por demais esgotada emocionalmente para insistir no que queria, sem condições de decidir o que realmente queria.
— Você tem razão — respondeu.
Enquanto Demi retirava a leva de grampos que mantinham o seu longo cabelo louro afastado do rosto, pensava se deveria contar para sua velha amiga que vira Joseph Jonas. Nesse momento notou uma garrafa de champanha e as duas taças na mesa de centro. Virou-se para Sophie com a sobrancelha levantada.
Sophie ficou corada e depois deu uma risadinha:
— James me pediu em casamento. E eu aceitei.
Esquecendo o cansaço que a dominava, Demi abraçou apertadamente a amiga, sentando-se sobre as pernas no sofá ao seu lado.
— Nem me lembro quando foi a última vez que recebi uma notícia tão boa!
Fazia um ano que Sophie namorava o jovem e atraente clínico
geral, e estava loucamente apaixonada.
— Estou tão feliz! Conte-me mais!
— Ele está se juntando a um consultório em West Country, bem bonitinho e rural.
Ela pegou a garrafa na mesinha e continuou:
— Ele foi chamado pelo hospital, acredita nisso? De modo que você vai ter que comemorar comigo. Eu não quero ficar bêbada sozinha!
A rolha ricocheteou pela pequena sala.
— Vamos ter que procurar uma casa por lá — Sophie contou, animada. — Eu já posso me ver como a esposa de um médico do interior. Vou ter muitos bebês, fazer parte das atividades da igreja, e usar saias de lã axadrezadas e aqueles coletes verdes acolchoados. E chapéus! Com penas de faisão!
— Imagem mais esdrúxula é impossível.
Demi sorriu, aceitando a taça de champanha, mas, no íntimo, rejeitava com veemência o desejo de que estivesse, ela também, excitada com os próprios planos de casamento, pois seria impróprio para a ocasião. Ela e Ben não curtiam altos romantismos e efêmeros vôos mágicos de emoção. Companheirismo, apoio mútuo, a isso se resumia seu futuro matrimônio.
— E quando vai ser o grande dia? — Ela bloqueou rapidamente uma nova e indesejada pontada de inveja.
— Em três meses. Serei uma noiva de verão.
Vixi Joe foi atrás de demi para balançar as estruturas da moça, eu acho que vai ocorrer várias tretas kkkk
ResponderExcluirNão vai rolar o casamento ja to vendo kkk Joe pelo jeito ta bem puto.
ResponderExcluirÉ Demi acho q cê n vai casar n
ResponderExcluirDemi querida acho melhor a senhorita cancelar esse cassamento.
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