Já havia amanhecido quando Joe acordou, apertando os olhos por causa da luz que entrava pelas janelas, estranhando o lugar.
Ele estava na cama de Demi!
Virou-se então para procurá-la, mas descobriu que estava sozinho. Os lençóis revirados e o cheiro almiscarado de sexo eram os únicos sinais de que ele não havia simplesmente imaginado a noite tórrida a que ele e Demi haviam se entregado.
Onde será que ela estava? Ele bocejou. Com os bebês?
Joe curvou os lábios num sorriso, estendeu os braços acima da cabeça e se espreguiçou lentamente antes de levantar da cama e recolocar seu jeans e camisa. Ia procurá-la e trazê-la de volta para a cama.
Ele a encontrou no andar debaixo, na cozinha, de costas para ele, fitando a rua deserta. Ela devia ter acabado de amamentar os gêmeos, pois estava tomando um bom copo d'água e não pareceu ouvi-lo se aproximar.
— Demi? — disse ele suavemente.
Ela apertou os dedos em torno do copo como se pudesse extrair alguma coragem de sua superfície lisa e fria, mas não disse nada. Ainda não. Ela não confiava em si mesma para isso.
Joe interpretou seu silêncio como timidez. É claro que ela estava tímida, depois de tudo o que havia acontecido entre eles. Tinha sido... incrível.
Ele foi até ela silenciosamente, pisando sobre os ladrilhos com os pés descalços, e enterrou o rosto em seu pescoço, inalando o doce perfume, deleitando-se na deliciosa sensação do contato de seus cabelos sedosos contra a própria pele.
— Volte para a cama — murmurou ele, sentindo seu membro crescer.
Ela enrijeceu.
— Eu não estou cansada.
— Ótimo. — Depois acrescentou numa voz mais grave: — Nem eu.
Os ombros de Demi, porém, permaneceram duros, e seu corpo ereto e implacável como uma sentinela, determinado a não relaxar nem mesmo por uma fração de segundo, ciente do poder de Joe. Bastaria um toque para que toda sua resolução fosse por água abaixo.
— Acho que vou tomar uma chuveirada e me vestir — disse ela.
Aquilo decididamente não parecia um convite sensual.
— Demi?
Ela sabia que não poderia continuar de costas para ele, olhando pela janela, que precisava encará-lo, mas estava tendo muita dificuldade em tirar toda a emoção e desejo de seu rosto para não parecer frágil diante de Joe. Recusava-se a bancar a vulnerável novamente. O que ela estava prestes a fazer era a única maneira possível de seguir adiante.
Ela se virou com o mesmo sorriso estampado no rosto que teria usado para oferecer uma xícara de café a um dos passageiros da Evolo e disse:
— Não vale a pena voltar para a cama.
Ele lhe deu uma última chance. Aquilo talvez se devesse apenas ao pudor. Demi podia estar procurando alguma espécie de aprovação depois de ter se abandonado daquela maneira em seus braços. Ele podia lidar com aquilo.
— Demi — disse ele suavemente. —Preciosa.
Aquilo deveria ter sido suficiente. Havia todo um mundo de promessas sensuais naquelas palavras, no modo suave como ele dizia seu nome, diferente de qualquer outro mortal era capaz de fazer.
Se as circunstâncias fossem outras, ela teria facilmente se deixado envolver em seu abraço quente e se entregado a seus beijos ávidos. Teria permitido que ele a reconduzisse ao andar de cima sem dizer uma palavra para não perturbar nem as crianças nem as babás, tentando disfarçar os sorrisos cúmplices e a excitação em seus corações pelo que estava prestes a acontecer.
O coração de Joe, porém, não estaria ardendo de paixão como o seu, lembrou Demi. Sua excitação estava localizada num lugar muito mais elementar, e ela não podia perder isso de vista. Tinha de esquecer os próprios sonhos, esperanças e desejos de que um dia ele talvez viesse a amá-la com a mesma paixão que ela sentia arder em seu coração por ele. Isso não aconteceria.
Joe não fazia amor, nem jamais fingira fazê-lo. Ele amava seus filhos, cada dia mais, porém aquele sentimento jamais se estenderia a ela.
Talvez ela não devesse esperar por nada daquilo, afinal, ele nunca havia lhe prometido coisa alguma. Ela não podia culpar Joe pelas suas expectativas.
Demi sabia que estaria perdida se permitisse que aquele relacionamento se aprofundasse com base no sexo, pois isso era o que acontecia com as mulheres. Ao contrário dos homens, elas usavam o sexo para expressar seu amor e muitas vezes saíam machucadas. Se ela o fizesse, estaria colocando em risco não apenas a si mesma, mas toda a estabilidade emocional de que os gêmeos necessitavam.
Será que ela conseguiria negar a si mesma aquilo que tanto desejava? Ter Joe em seus braços todas as noites, proporcionando-lhe o prazer que só ele era capaz de fazê-la sentir? Aquilo era tentador, mas muito perigoso.
Se ela se permitisse retomar seu relacionamento com ele estaria apenas se colocando em perigo e assumindo sua antiga postura de alguém necessitado que pisava em ovos, tentando não alterar seu estado de espírito. Não havia mais lugar para aquilo na sua vida.
Estava perfeitamente claro para ela que Joe havia perdido o respeito por ela. Ela própria tinha perdido o respeito por si mesma. Por que então alguém em sã consciência retomaria aquele tipo de atitude?
A alternativa era fingir. Fingir que o sexo era apenas sexo e que ela não o amava. Fingir que não gostava dele. Mas ela gostava. Nunca tinha deixado de amá-lo e não ia viver uma mentira. Que exemplo estaria dando a Andreas e Alexius se o fizesse?
Então diga-lhe. Nada de joguinhos estúpidos. Joe é um homem inteligente e aceitará o que você lhe disser. Terá de aceitar.
— Ontem à noite...
— Ah, ne... Ontem à noite — repetiu ele. — Ontem à noite.
Ela conseguiu manter o sorriso, afinal, aquela não era uma discussão, mas uma tentativa de obter uma solução para uma questão muito problemática da vida de ambos.
— Foi um erro — disse ela. Joe estreitou os olhos.
— Um erro?
— Que não deve ser repetido — prosseguiu ela, com muito esforço. — Nós não podemos continuar a dormir juntos, Joe.
O primeiro impulso de Joe foi murmurar que ele não pretendia mesmo dormir, uma vez que não podia acreditar que ela estivesse falando sério. As mulheres nunca o rechaçavam e Demi sempre havia se derretido sob seus dedos experientes. Algo em seus olhos cor de violeta, porém, o alertou de que dessa vez era diferente.
Sua boca endureceu.
Não era possível!
Seu desejo o aconselhava a levar a mão até o braço desnudo de Demi, sabendo que bastaria um toque para fazer com que ela se desmanchasse, mas um sentimento muito mais feroz de orgulho o deteve.
Ela, por acaso, estava achando que ele ia implorar? Ele? Implorar! Sua boca se curvou num i sorriso cruel. Muito bem. Ele se afastaria e esperaria para ver quanto tempo Demi conseguiria manter sua oposição àquilo que ambos queriam! Logo ela estaria implorando para que ele a tomasse novamente para si!
Mas os dias foram passando e Joe se deu conta de que Demi não só não ia implorar, como também não parecia aborrecida, e se viu imerso numa confusão pouco habitual.
Ela continuava sendo educada e gentil com ele e uma mãe exemplar com os bebês. Fazia até mesmo considerações inteligentes sobre a política internacional. Se ele a estivesse entrevistando para um emprego, estaria realmente muito impressionado, mas esse não era definitivamente o caso. Ele a queria de volta em sua cama! E a queria agora!
— Demi — disse ele, certa manhã, na mesa do café, antes de seguir para a Embaixada grega, para tratar do projeto de uma nova biblioteca para o edifício.
Demi desviou os olhos de seu iogurte, e enrijeceu ao fitá-lo. Joe estava usando um terno de linho cor de creme. Pequenas gotas d'água ainda cintilavam como jóias em seus cabelos cor de ébano. Demi chegou a pensar que jamais o havia visto tão deslumbrante.
— Sim?
— Isto não pode continuar assim!
— Do que você está falando?
— Não banque a inocente comigo, minha linda! — Ele pousou sua xícara de café com força sobre o pires. — Ou será que é esse exatamente seu jogo? Ver até onde consegue aumentar meu desejo por você?
Demi engoliu em seco. Percebeu que seus dedos estavam tremendo e torceu para que ele não percebesse.
— Eu não estou jogando com você, Joe — disse ela sinceramente. — Já lhe disse como eu achava que deveria ser a nossa relação e não mudei de opinião a esse respeito. — Ela deu de ombros. — Sinto muito.
Ele teve vontade de esmurrar a mesa e lhe dizer que ela não sentia muito coisa alguma! Que ela não precisava sentir muito já que aquela situação podia ser docemente revertida a qualquer momento. Viu, porém, a calma em seu olhar inabalável e compreendeu, com uma dor no coração, que ela estava falando a verdade.
Ele passou o dia pensando obsessivamente nela, de uma maneira completamente nova para ele. Teve mesmo que pedir várias vezes ao embaixador para que repetisse o que havia dito e se viu completamente indiferente às constantes cruzadas de pernas da primeira-secretária, revelando um trecho de pele desnuda acima das meias. Sua boca, na verdade, se curvou de repugnância de tal forma que ele ficou satisfeito quando a viu puxar a barra da saia e se recompor.
Foi jantar com um amigo, mas passou a refeição inteira distraído, imaginando se Demi ia querer saber onde ele estivera quando chegasse em casa, mas, para sua surpresa e fúria, ela não perguntou.
Ele a encontrou no quarto das crianças, conversando alegremente com uma das babás quando ele entrou com uma expressão sombria que só se amenizou ao tomar Andreas nos braços.
Continua ...
Vou soltar o último capítulo hoje amores. Ele sai as 16:00 horas e as 20:00 horas vou soltar a sinopse da próxima fic.
Cadê o outro??? Cadê??!
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