Capítulo 21


Eles ouviram o som de uma tosse terrível, que soava como um latido de cachorro, antes mesmo de colocar os pés dentro de casa. 
— Qual dos dois? — perguntou Demi desesperadamente. 
Como se isso fizesse alguma diferença! 
— Alexius, eu acho! — respondeu Betty. 
Demi estremeceu. Ninguém sabia diferenciá-los como ela e Joe. Como eles podiam ter saído deixando duas crianças tão pequenas aos cuidados de outras pessoas? 
— O que aconteceu? 
— Ele começou a tossir assim há meia hora e está ficando cada vez pior. Acho que é crupe. Meus filhos também tiveram. 
— Crupe? 
Demi tinha uma vaga lembrança de que aquilo se tratava de uma doença respiratória. Joe subiu as escadas correndo, seguido das duas mulheres. A culpa terrível de Demi só fez aumentar enquanto ela corria em direção ao quarto dos seus filhos. 
— É Alexius — disse ele. 
Seus olhos negros congelaram ao encontrar os dela. Demi mordeu o seu lábio inferior. 
— Vou ligar para o médico — disse, virando-se depois para Betty. — Quero que me conte exatamente o que foi que você notou. 
O médico chegou rápido. Era surpreendentemente jovem, mal parecendo ter idade para ser formado, mas examinou o bebê com mãos suaves e confiantes. 
— Sua governanta está certa. É crupe — disse ele. — O bom e velho crupe. 
— Crupe? E que diabos é isso? — exigiu Joe. 
— Uma inflamação da via aérea superior. É uma doença bastante comum em bebês nesta época do ano. Ele tem um irmão gêmeo, não é? Acho melhor dar uma olhada nele também. 
— E qual é o tratamento?—perguntou Demi com voz trêmula. — Ele vai ter de ser internado? 
— Isso não será necessário, SrtaLovato. — O médico sorriu. — O tratamento é um tanto antiquado também. É preciso passar a noite acordado com eles numa atmosfera úmida. Um banheiro cheio de vapor seria perfeito. Vocês podem se alternar para levá-lo. 
Joe encarou o médico. 
— Está me dizendo que o único tratamento existente para isso em pleno século XXI é vapor! — repetiu ele incrédulo. 
— Apenas faça o que o médico está dizendo, está bem, Joe? — implorou Demi. 
Ele assentiu, percebendo o tom implacável sob seu apelo. 
— Nepreciosa — disse ele suavemente. 
— Eu o farei agora mesmo. 
O médico disse que Andreas não tinha nada e aconselhou Demi a mantê-los separados por alguns dias. 
— Passarei aqui amanhã de manhã, bem cedo — prometeu ele. — Vocês têm uma longa noite pela frente. 
Demi levou o filho para o banheiro. O vapor era tão intenso que ela precisou de alguns segundos para acostumar os olhos. A figura alta e morena de Joe surgiu ao seu lado. Ela nunca havia ficado tão feliz por ver alguém em toda sua vida. 
— Deixe-me pegá-lo — disse ele. 
Demi estremeceu quando seu bebê começou a respirar como um asmático. 
— Eu quero ficar com ele. Oh, Joe, nós não devíamos ter ido à festa. 
— Pelo amor de Deus! — disse ele por entre os dentes. — Ele estava bem quando nós fomos embora, você sabe isso, do contrário, não teria aceitado ir. Eu não vou permitir que você se culpe, Demi. Você é uma ótima mãe para os nossos filhos — disse ele enfaticamente. 
— Nada disso importa agora — murmurou à beira das lágrimas, sabendo, porém, que não podia ceder a elas. — A única coisa que importa é que ele melhore. 
— Ele vai melhorar. 
— Vai mesmo? — disse Demi ao ouvir a respiração acelerada e pesada daqueles pequeninos pulmões, sentindo-se como se alguém estivesse enfiando uma faca em seu peito. 
— É claro que sim — disse Joe, com uma convicção que ele na verdade não sentia, uma vez que aquilo era algo que estava completamente fora de seu controle. 
Ele teria ficado muito mais tranqüilo se o médico receitasse um remédio ou uma injeção para seu filho em vez daquela situação bizarra em que ele e Demi tinham de se alternar no banheiro com o bebê tossindo daquela maneira e renovando constantemente a água quente para que o vapor se elevasse em grandes nuvens quentes em torno deles. 
Ambos estavam desorientados pela atmosfera nebulosa e o temor subjacente. Os minutos nunca passaram tão devagar. Finalmente, porém, os primeiros 5 minutos foram se transformando em 10, e então em 60, até que a primeira hora se passou, e com ela também um pouco da irritação de seu filho. 
Demi passou do estado de quase não respirar, ela própria, temendo não perceber qualquer mudança em Alexius, ao de sentir a tensão abandonar seu corpo. 
Seria apenas sua imaginação, ou o bebê estava realmente respirando com menos dificuldade quando os primeiros raios de sol despontaram lá fora? 
— E pensar que eu cheguei a achar a vida na Grécia primitiva — murmurou Joe quando a respiração asmática do bebê deu lugar aos sons mais constantes característicos do sono e eles se olharam, sabendo instintivamente que o perigo havia passado. — Vapor — disse ele, balançando a cabeça e sorrindo. 
— Oh, Joe — disse Demi e, para seu horror, começou a chorar, incapaz de conter as lágrimas que caíam sobre a cabeça de Alexius. 
Joe, porém, as secou com a ponta dos dedos, na mesma velocidade em que elas foram caindo. 
— Sshh. 
Emocionada, ela olhou para as pontas dos dedos dele, molhadas, e sentiu um enorme alívio. 
— Está tudo bem — disse ele com voz embargada. 
O médico veio pela manhã e examinou Alexius, saudando-os depois com um amplo sorriso. 
— Essa é a melhor coisa no tratamento de bebês — disse ele alegremente. — Eles nos matam de preocupação e depois se restabelecem num piscar de olhos. 
Depois que o médico foi embora, Joe se virou para Demi com uma expressão grave devido ao medo do que poderia ter acontecido. 
— Vou contratar duas babás para ficarem no quarto com os bebês à noite — disse ele. 
— Mas eu mesma quero tomar conta deles — sussurrou ela. 
— Demi, eu não vou aceitar nenhum tipo de argumento, portanto, pode ir tirando essa expressão zangada do rosto. — Ele assumiu uma expressão mais severa e seu sotaque ficou ainda mais pronunciado. —Você não pode, literalmente, ficar com os bebês dia e noite. Vai acabar adoecendo de tão esgotada. De que adiantaria? 
Demi não tinha como contrariar a lógica dele, mas sentia que o controle da situação estava escapando por entre seus dedos. Ela havia se esforçado tanto para aprender a cuidar dos gêmeos e agora...             
Nos dias seguintes, ela se sentiu como se estivesse funcionando no piloto automático, com uma força e uma energia que ela não sabia que tinha. As babás eram cuidadosas e eficientes. Alexius foi melhorando com o passar dos dias, e Andreas não foi afetado, mas Demi não pareceu capaz de se convencer disso. 
Era como um pesadelo recorrente. Ela acordava de hora em hora e se sentava na cama, tomada de um temor de que algo terrível estivesse por acontecer. Corria então para o quarto dos bebês e encontrava as babás vigiando seus dois anjinhos, olhando-a como se ela estivesse levemente... louca. 
Isso se repetiu até a tarde em que o médico os visitou e a confrontou, juntamente com Joe, na sala de estar. 
— Sente-se — ordenou Joe. 
— Mas... 
— Eu disse, sente. 
— Demi, você precisa desacelerar — disse o médico calmamente. —Não vai conseguir cuidar dos seus bebês se ficar esgotada. 
— Eu estou tentando. 
O médico balançou a cabeça. 
— Não quero que você fique rondando o quarto das crianças à noite. Só vai levantar quando tiver de amamentá-los. A privação de sono é uma forma de tortura. Você precisa dormir. 
— Mas eu não posso, doutor. 
— Por que não? 
— Porque... 
Ela encolheu os ombros, ciente de que Joe a estava avaliando como se ela fosse um espécime raro num tubo de ensaio. 
O pior é que era assim mesmo que ela estava se sentindo — um espécime estranho sem definição. 
— Eu não sei — disse ela em voz baixa.

4 comentários:

  1. Essa fic é maravilhosa.
    Amo ela é acabei de começar a ler.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Q q ta acontecendo? a Demi ta estranha. Mas tô amando

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  4. esses dois ❤️
    eita...tomara que a Demi se acalme e dorma e relaxa ( com o Joe kkk)
    tá tudo perfeito !!
    To amando, posta logooo
    beijos

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Espero que tenham gostado do capítulo :*