Capítulo 6


Demi colocou sua mão debaixo do braço de Ben.  
— Presumo que já saibam da novidade?  
Estava a par de que Honor já sabia. Estava presente quando Sophie desligou o telefone depois de falar com a mãe. Viu o sua boca torcer, o leve dar de ombros acompanhando o levantar dos olhos.  
Honor levantou os ombros pesados em um gesto de resignação:  
— É claro. Mas será que conseguirei vê-la como a esposa de um humilde clínico geral do interior? — Ela fez um esforço para sorrir. — Só o tempo dirá.  
— Ela está muito feliz — Demi disse gentilmente.   
No fundo, sabia que Honor, sua futura sogra, era uma esnobe, mas tinha boas intenções. Demi nunca iria esquecer a cordialidade meio constrangida com que a mulher mais velha a recebera naquelas férias de escola, há muito distantes, após a morte da mãe.  
Mesmo sendo muito jovem na época, ela instintivamente soube que Honor não tinha palavras para consolar aquela criança órfã e recorria a incitações volumosas:  
— Agora, gêmeos, procurem algo alegre para fazer com a pequena Demi. Nada de ficar largada dentro de casa, entediada e infeliz. Existem muitas coisas para se fazer em Londres. Cinemas, parques...  
Quebrando o silêncio que se instalou depois de seu último comentário — embora a razão pela qual a família não apreciasse o casamento de Sophie com um sujeito como James fosse um mistério para Demi — esta perguntou:  
— Onde está papai?  
Mais uma vez a estranha sensação de desconforto. Arthur Clayton olhou primeiro para o filho e depois para a esposa. Ele se manifestou pela primeira vez desde que Demi se juntou a eles:  
— Ele está com o nosso patrocinador principal no escritório. Não deve demorar muito. Não é o ideal, principalmente numa comemoração em família e tudo o mais. Mas aparentemente o seu tempo no Reino Unido é extremamente limitado.  
— E nós já fofocamos muito — Honor disse, para reforçar. — Está na hora de circular. Vamos, Arthur! Você pode fazer o seu discurso tão logo o pai de Demi apareça. E suponho que ele próprio vá querer dizer algumas palavras para marcar a ocasião. Todo mundo aqui já sabe, é claro, mas nós temos de oficializar o noivado.  
Sorrindo forçadamente, ela arrastou o marido para a sala de visitas principal, e Demi perguntou:  
— Tem alguma coisa errada, não tem Ben? A princípio, pensei que seus pais estivessem descontentes com os planos de casamento de Sophie. Mas não é isso, é?  
— Problemas com a receita de publicidade — ele confessou, mantendo o tom de voz baixo, preocupado em ser escutado. — Mas nada para você se desgastar. Esse vestido é novo? Parece ter custado uma fortuna. — Ele mudou de assunto, não querendo continuar a discuti-lo ali, franzindo ligeiramente a testa ao olhar para o elegante traje: um vestido de gaze longo, em camadas cor de café com leite, enfeitado com espirais de lantejoulas no mesmo tom, o corpete encimado por alças finas também cobertas de lantejoulas.  
Seus dedos afastaram-se do braço dele enquanto esperava o surto de raiva injustificado passar. Ele sempre fora ultra-cuidadoso com dinheiro, sabia disso, e ao invés de irritá-la, ela sempre achara esta característica ligeiramente divertida. Não esperava que ele fosse mudar, é claro que não, mas teria sido legal se ele elogiasse a sua aparência antes de reclamar do custo do vestido.  
Considerando a sua reação absurda — eles não tinham o tipo de relação que exigisse elogios piegas — lançou-lhe um ligeiro sorriso de cumplicidade:  
— Eu aluguei para esta noite, mas não conte para ninguém.  
Ela aceitou a recompensa do sorriso dele, a mão quente que escorregou ao redor da sua cintura fina, com um ligeiro curvar dos lábios. Mas havia mais:  
— Não tente me poupar, Ben. Se estamos com problemas de dinheiro, eu mereço saber.  
Os números eram departamento dele, não dela. Ele não interferia com as decisões editoriais dela. Mas isto era diferente.  
Ben curvou os ombros, constrangido, e por um instante Demi achou que ele não ia se abrir com ela. Depois, Ben lançou-lhe um olhar de canto de olho.  
— Não queríamos preocupá-la. Afinal, pode ser que o seu pai consiga convencê-lo.  
— Quem?  
— O manda-chuva da Trading International. Ele ameaçou retirar a publicidade da empresa.  
— E isso é sério?  
— Pode apostar que é. Roupas de couro de alta costura, a coleção de jóias Los Ciasicos, vinhos, queijos gourmet, hotéis e apartamentos de luxo ao redor do mundo. Retire tudo isso e estaremos num mato sem cachorro.  
— Ruim mesmo — constatou Demi, e mordeu o lábio inferior. Será que ela não deveria ter previsto isso? Que grande anunciante iria se prender a uma revista cujos números de circulação vinham sofrendo uma queda lenta e aparentemente inalterada? — Quais são as chances de papai convencê-lo?  
Ben deu de ombros.  
— Só Deus sabe! — Ele a afastou da janela. — Eu não deveria ter contado. Não deixe que isso estrague a sua noite, Demi. Se a coisa for de mal a pior e a Lifestyle afundar, nós estaremos bem. Com as minhas qualificações e a sua experiência encontraremos outro trabalho. Pense nisso, enquanto circulamos entre os convidados.  
Sorrindo, conversando e fazendo o possível para fingir que estava tudo bem no seu mundo, Demi se sentia vazia por dentro e constantemente desviava o olhar para o escritório, onde seu pai estava tentando persuadir um calejado magnata dos negócios a não dar o tiro de misericórdia. Muitos dos convidados hoje faziam parte da equipe da Lifestyle. A esta altura, no mês seguinte, eles poderiam estar todos desempregados, e seu pai e Arthur Clayton teriam de encarar o amargo fracasso.  
Como Ben podia esperar que ela afastasse tudo aquilo da sua cabeça e se consolasse com o fato de que eles estariam bem?  
Ele não podia ser tão egoísta, podia? Ela sacudiu a cabeça numa negação instintiva. É claro que não. Só dissera aquilo para animá-la, não querendo que aquela noite especial fosse estragada.  
Quando aceitou a taça de champanha que puseram em sua mão, viu o pai, que finalmente saíra do escritório, e seu coração bateu mais forte.  
Era impossível dizer pela sua expressão se obtivera sucesso, ou não. Como sempre, seu pai não exteriorizava os sentimentos.  
O silêncio se abateu no local, como se apenas a presença daquele homem assim o comandasse. Quando ele falou, contando da sua felicidade, do fortalecimento das duas famílias, as palavras entraram por um ouvido e saíram pelo outro. E quando Ben colocou o anel de brilhantes no seu dedo, o rosto dela doía de tanto sorrir, e os aplausos, o coro de exclamações embevecidas, os copos erguidos em brindes alegres, passaram pela sua consciência sem deixar qualquer marca.  
Tudo que via eram as feições sérias do pai, seus ombros rígidos. Ele estava logo além do grupo falante que circundava Ben e Demi. Uma inclinação de sua cabeça fez com que ela se desculpasse e caminhasse até ele.  
Pegando a taça de champanha de seus dedos, ele disse:  
— Precisamos de você no escritório.  
— De mim?  
Demi notou o estreitamento de sua boca fina em resposta ao que consideraria um questionamento idiota à sua declaração perfeitamente clara, e para evitar a resposta sarcástica que, por experiência, já sabia estar à sua espera, perguntou rapidamente:  
— Como é que foi? Ben me contou dos problemas.  
O que poderia o manda-chuva querer com ela? Uma garantia de que tinha uma pilha de artigos fascinantes na sua caixa de entrada? O tipo de coisa que garantiria um grande aumento no número de leitores? Até parece! Qualquer idéia remotamente sensacional ou controversa era imediatamente descartada em reuniões editoriais pelos sócios.  
Driblando sua pergunta, Gerald Lovato comentou calmamente:  
— Como eu disse, parece que precisam de você. Até onde eu sei, tudo que pode fazer é não piorar as coisas. Não deve demorar muito, e depois você pode voltar para aproveitar o resto da sua noite.  
Está bem, pensou Demi resignadamente, e foi atender ao chamado. Com as mãos na porta do escritório, ela parou por um instante se preparando para fazer o discurso da sua vida. Se conseguisse fazer com que as futuras decisões editoriais parecessem revolucionárias, talvez pudesse virar o jogo a favor deles, embora “revolucionárias” não descrevessem tépidos relatos de eventos sociais tediosos ou artigos de moda direcionados apenas aos realmente ricos.  

3 comentários:

  1. Com certeza o Joe é o manda chuva e eu acho que ele era rico desda época que eles se conheceram. Sinto que esse noivado acaba agora.

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Espero que tenham gostado do capítulo :*