Capítulo 12


Demi estremeceu, devastada ao ver o quanto ele a odiava. Seus olhos nadaram nas lágrimas indesejadas quando ele lembrou, mais calmo:  
— O passado é um país distante. Esqueça-o. Concentre-se no futuro, em pagar a sua dívida, e quando isto estiver feito, também pode ser esquecido.  
E ela seria esquecida. Sem mais nem menos! Demi também se levantou. Ele era cruel. Duro. E a esperança de que o relacionamento deles poderia evoluir até alcançar um reflexo do que um dia fora, caiu por terra. Como pode ser tão estúpida em fantasiar que isso seria possível? Ele se transformara numa pessoa totalmente diferente.  
Encarando-o, os olhos azuis úmidos ao colidir com os dele, admitiu que ele podia não ter mudado. Será que ele sempre fora tão desumano? A adorada fachada de cinco anos atrás fora apenas isso, uma fachada, erguida para a diversão dele.  
— Eu odeio você! — disse com veemência.  
— Ah, isso é bom.  
Marchando lenta e deliberadamente, circulou a mesa até a moça trêmula, e um sorriso tênue acentuava a boca por demais tentadora. Duas mãos fortes e quase exageradamente gentis envolveram o rosto dela, iniciando uma reação em cadeia que fez com que ela tremesse devido a algo mais forte do que raiva e dor.  
— Qualquer emoção mais forte é preferível à indiferença, não é?  
Foi então que ele fez o que ela estava, em iguais proporções, secretamente desejando e temendo.  
Beijou-a.  
O efeito daquela boca larga e sensual na sua iniciou uma explosão vulcânica dentro dela, enviando ondas de choque por todas as veias e nervos do seu corpo. Por causa disso, correspondeu à urgência faminta dele com um desespero voraz que fez com que se jogasse contra o corpo forte, envolvendo o pescoço de Joe com os braços, os dedos ávidos embaraçados na escuridão do cabelo dele.  
Ela não conseguia se saciar do gosto másculo de paixão quente do espanhol. Ele era tudo que sempre quisera, o único homem que amara. Seu corpo derreteu de encontro ao dele, os seios convidativos rijos, os lábios correspondendo ao ataque devastador.  
  
Seus lábios ainda estavam formigando, os joelhos vergonhosamente trêmulos, quando, algum tempo depois, Joe a colocou no táxi que chamara para levá-la para casa. Ainda se sentia enojada pela facilidade com que ele a mantivera afastada de si, quando a reação dela ameaçou fugir ao controle. Seu comentário frio, quase impessoal, de que já era hora dela ir para casa, e um lembrete de que mandaria buscá-la na sexta de manhã por volta das sete e meia ainda ecoavam nos ouvidos que ardiam de vergonha. Tudo coroado com a ameaça escancarada de que a encontraria, se fosse desencaminhada o suficiente para fugir. Foi um lembrete apropriado da humilhação que lhe dispensaria, se ela baixasse a guarda novamente e demonstrasse o quanto o desejava.  
Uma hora depois caiu na cama ainda em estado de choque, em grande parte causado pelo que o seu comportamento revelara a respeito de si mesma. Joseph Jonas era um patife cruel e chantagista. Tão arrogantemente autoconfiante que se recusava deliberadamente a escutar qualquer palavra que ela tivesse a dizer em defesa própria. Ele a chamara de mentirosa e só isso já deveria bastar para tirá-lo da sua cabeça, de uma vez por todas. Mas não, não mesmo! E o que ela faz? Mostra para ele como é carente e se atira em seus braços, possuída por um desejo voraz.  
Ainda estava apaixonada por ele. Chorou com o rosto enfiado no travesseiro. Era o único homem que já amara. Ao contrário da vagabunda promíscua que ele imaginava que fosse, ela ainda era virgem. Ben, o único outro homem com quem já se envolvera, nunca despertara este desejo selvagem.  
Devia haver algo muito errado com ela, se podia estar apaixonada por um homem totalmente desprovido de escrúpulos ou consciência. Um homem que pretendia levá-la para a cama como um ato de vingança, que se convencera de que era toda dela a culpa pela maneira como seu precioso orgulho masculino ficara ofendido, apesar dela, na época, ter sido jovem demais para perceber o que estava fazendo.  
O futuro imediato parecia mais desolador do que os desertos da lua. Demi não tinha idéia do que fazer para sobreviver.  
  
O carro dele, um modelo esporte baixo, estava aguardando no aeroporto, entregue pelos empregados espanhóis, Demi deduziu irritada. O mau humor era um legado de várias noites mal-dormidas enquanto tentava, e falhava, aceitar a situação na qual estava se metendo Nesse momento, o despertador tocava com maldade justamente quando começava a pegar no sono. A visão de Joe chegando precisamente às sete e meia não contribuiu para melhorar o seu humor.  
— Pronta? — perguntou animadamente, com a aparência de quem fora apaciado com oito horas de sono, uma chuveirada revigorante, e um farto café da manhã.  
— Ainda não acabei de arrumar as malas.  
Uma mentira. Ainda nem começara. Desde aquela noite na suíte do hotel, estivera rezando para que algo acontecesse para ele desistir de tudo. Mas ele não perdera milagrosamente a memória, e ela não quebrara uma perna!  
— Então, recomendo que se apresse. O táxi está esperando. Se você é sempre tão desorganizada assim, surpreendo-me que tenha conseguido manter qualquer tipo de emprego, mesmo um criado por um pai radical.  
Seu nível de irritação foi às alturas. Ele não sabia de nada.  
— Papai não é radical! — respondeu bruscamente, e marchou até o quarto para arrancar as coisas de dentro das gavetas e armários e enfiá-las numa pequena mala.  
Desde então, tudo que ele fazia a irritava profundamente. Durante a viagem até o aeroporto, o check-in e a própria viagem, fora educado e atencioso, mas distante. Como se fosse uma estranha qualquer a quem fora coagido a escoltar quando, na realidade cruel, ela era a mulher que fora chantageada a se tornar a sua amante temporária.  
Subitamente, completou com um surto de raiva irracional. Porém, o fato dela se opor à questão irrelevante de ser considerada inferior demais para merecer até mesmo a denominação ligeiramente depreciativa de amante só servia para mostrar a confusão em que estava a sua cabeça, enquanto ele, droga, estava calmo e contido, obstinado, determinado a apenas alcançar seu objetivo: levá-la para a cama e puni-la por ferir o seu precioso orgulho.  
E, depois, livrar-se dela.  
Uma hora depois de terem deixado o aeroporto, Joe perguntou 
— O que quis dizer quando falou que seu pai não era radical?  
Demi desviou os olhos da estrada estreita e curva que entrecortava as montanhas e focalizou o olhar no perfil bem delineado. Foi o primeiro comentário pessoal que fizera desde que embarcaram no táxi, ainda em Londres.  
Com um ligeiro dar de ombros, retornou o olhar para a vista. De vez em quando podia ver o reflexo do mar e, ao contrário de Londres, o ar quente a envolvia em um mormaço bem-vindo.  
— Quis dizer exatamente o que falei.  
Seu relacionamento com o pai não era algo que estava disposta a discutir, e, mudando de assunto, perguntou:  
— Para onde nós vamos? Falta muito?  
Os ombros de Joe se retesaram enquanto ele percorria as curvas fechadas com a facilidade da prática. Quem diabos ela pensava que estava enganando? Deve ter sido mimada desde que nasceu. Que pai digno do nome não esbanjaria toda a sua atenção numa sedutora tão fascinante, ainda mais depois que fora deixada órfã de mãe tão nova?  
Uma lembrança de cinco anos atrás, tão viva quanto a infinidade de outras que o vinham assombrando por tanto tempo, veio à tona. O dia em que supusera que havia perdido o relógio. Ela lhe oferecera o seu próprio. O pequeno acessório devia ter custado uma pequena fortuna. E, quando comentara a respeito, Demi simplesmente dera de ombros.  
— Um presente de aniversário do meu pai — dissera, como se ele fosse uma mera bugiganga.  
A pirralha mimada recebera um trabalho de responsabilidade na equipe da revista, embora a coisa toda estivesse indo para o buraco e o que precisavam desesperadamente era de um editor experiente. O vestido fabuloso que usara na noite da festa de noivado deve ter custado outra pequena fortuna, os recursos, sem dúvida, fornecidos pelo pai extremoso.  
E isso trouxe-lhe um outro pensamento à cabeça.  
— Como foi que Ben encarou a notícia do rompimento do noivado?  
Notara a ausência do anel de brilhantes. Lembrou-se do próprio desespero quando a pirralha mimada o mandara se catar e imaginou, sentindo-se culpado, se Ben Clayton sentira o mesmo, questionou-se se o pensamento inicial, de que estava na verdade fazendo um favor ao pobre coitado, ainda soava convincente.  
— Isso não é da sua conta, é? — Demi retrucou agressivamente.   
Como poderia contar a Joe que seu casamento com Ben seria desprovido de paixão, baseado em nada mais excitante do que uma afeição de longa data e respeito mútuo? Ben fora sensato o suficiente para prever que mesmo esse tipo de casamento não poderia sobreviver se um dos parceiros ainda estava sob o feitiço de um amor há muito perdido.  
— E você ainda não respondeu à minha pergunta — ela lembrou rapidamente. — Tenho o direito de saber para onde está me levando.  
Esperando que ele dissesse que não tinha direito algum, e continuasse a sondá-la a respeito do noivado rompido — será que sua veia de crueldade queria escutar que Ben ficara arrasado, suicida? —, ficou surpresa quando ele respondeu tranquilamente:  
— Para o meu esconderijo preferido. Costumava ser um mosteiro. A família mal usa o lugar, atualmente. A região não é freqüentada por hordas de turistas. Sua beleza e tranqüilidade permanecem intactas. Ao contrário de Marbella — acrescentou secamente —, não encontrará pessoas bonitas, lojas luxuosas, iates fabulosos ou hotéis sofisticados para distrair a sua atenção. Esta deverá ser toda dedicada a me agradar.  
“Devia ter ficado de boca fechada”, Demi reconheceu, nauseada. O que quer que dissesse, ele revidava com um fora para desmoralizá-la.  
Os próximos dias ou semanas estavam prometendo ser um pesadelo de dor e humilhação, reconheceu, e a bela vista da janela fora ofuscada pelas repentinas lágrimas quentes.  
  

4 comentários:

  1. To com muita pena da demi, quando o Joe saber que ela não é nada do que ele pensa ela vai morrer com o próprio veneno, que casal mais tenso, tem que ensinar lhes sobre a comunicação

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  2. Na verdade os dois estão pensando coisas erradas um do outro. E até agr ngm sabe o que a mulher do início da fic era do Joe. O remorso e a culpa com ctz vai consumir os dois daqui até o final da fic

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  3. Joe vai cair do cavalo quando perceber que ela não é nem 1% do que ele acha, algo me diz que ele vai se arrepender muito, enquanto isso não acontece tenho muita pena do que ele vai fazer com a Demi.

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Espero que tenham gostado do capítulo :*