Pigarreando, retomou a conversa.
— Graças ao seu ataque verbal, acho que consegui descobrir o que fez com que explodisse como um vulcão.
Os olhos negros, focalizando o rosto defensivo e irritadiço dela, suavizaram-se de compaixão. Estava desesperado para tomá-la nos braços e convencê-la de que a amava, de que nunca deixara de fazê-lo, mas antes tinha de esclarecer este mal-entendido.
— Isabella, a moça com quem, obviamente, me viu em Marbella, a moça da fotografia, é a minha irmã. Naquela última noite, quando pedi para conhecer os seus amigos, planejava explicar quem eu era e apresentá-la ao único membro da minha família que estava na Espanha, naquele momento. Meus pais estavam visitando parentes na América do Sul.
Estarrecida com a declaração, Demi disfarçou um olhar de banda. Ele parecia sincero. Mas a aparência de sinceridade era a marca registrada de um vigarista, não era?
Soltando o ar com força, voltou a olhar para a ponta dos próprios pés. Queria acreditar nele, e estar sentada ao seu lado nesta cama estava longe se ser a melhor idéia do mundo.
— Isabella e eu nos encontramos em Marbella. Ela insistiu em ir comigo quando fui escolher o anel que pretendia lhe dar. E se você nos viu e nos achou íntimos demais, bem, acho que era possível que você tivesse tido essa impressão, Demi.
Ele segurou-lhe o queixo e virou-lhe o rosto de forma a poder encará-la.
— Minha irmã sempre foi meio teatral. Desde que nasceu, sempre foi superexagerada! Estava tão animada com o fato do irmão adorado ter se apaixonado por alguém, e estar prestes a ficar noivo, que queria comemorar o máximo possível.
Ele sentiu os ossos se derreterem ao ver os lábios dela tremerem, as piscinas azuis profundas que eram os seus olhos se umedecerem. A voz estava trêmula ao implorar, em pensamento, para que ela acreditasse nele implicitamente.
— E a mesma natureza tempestuosa fez com que ela viesse à minha procura hoje de manhã cedo, alegando ter abandonado César, o marido advogado, porque ele estava tendo um caso com sua nova assistente. A mais pura baboseira claro.
Com o polegar, gentilmente enxugou da face dela uma lágrima brilhante.
— Eu a acalmei e liguei para o César que estava super preocupado. Parece que uma pessoa que se diz amiga da Isabella disse-lhe que César fora visto num dos melhores restaurantes de Sevilha com sua nova assistente estonteante, quando ele dissera para Isabella que estaria trabalhando até tarde. Bom, isso era exatamente o que ele estava fazendo, atendendo a um jantar de negócios com um cliente importante. A assistente estava lá para fazer anotações. Nada mais. César adora Isabella. Nunca pensaria em traí-la.
— Foi exatamente isso que eu fiz anos atrás, não foi? Reagi de modo exagerado. Estraguei o que tínhamos. Decidi que você era um garçom pobretão que se aproveitava de mulheres abastadas, para ver o que conseguia arrancar delas — Demi confessou com pesar após um silêncio prolongado, sentindo-se realmente culpada por tê-lo xingado em pensamento, e nauseada pelo que fizera.
Demi chorou de tristeza. Cinco anos atrás, este homem maravilhoso a amara, escolhera um anel para oficializar o noivado deles e ela estragara tudo, pensando o pior dele, e não lhe dando a oportunidade de dizer nada. Apenas falara impensadamente e o mandara embora.
— Não chore.
Joe levantou-se e pegou um lenço de papel da caixa na mesinha-de-cabeceira. Sem dizer uma palavra, entregou o lenço para a moça e ficou de pé, observando-a quando ela secou os olhos úmidos e depois despedaçou o lenço molhado. Ela era o próprio retrato da tristeza. O coração dele batia de compaixão. Sabia exatamente o que ela estava sentindo. Ele também lamentava ferozmente o engano de cinco anos atrás, os anos solitários e desperdiçados.
Mas o momento passou. Remoer o que não poderia ser mudado era tolice. Apenas o futuro importava. Assim que Isabella estivesse a caminho de Sevilha, teria todo o tempo do mundo para convencer esta criatura delicada e adorável que a amava mais do que a própria vida, e para pedi-la para ser a sua esposa. Se necessário, imploraria de joelhos! Mas até que esse momento chegasse...
— Você se lembra de como a Rosa pediu para você ir embora? — ele perguntou energicamente para a nuca inclinada de Demi. Era a única coisa que ainda o confundia. Seus empregados não tinham o hábito de dizer para seus convidados o que fazer.
Os pensamentos de Demi ainda estavam focalizados no comportamento abismal que afastara dela este homem maravilhoso. Não apenas cinco anos atrás, mas esta manhã também. Ele era orgulhoso e honrado. Não aceitaria a idéia de ser considerado, em primeira instância, um tipo de gigolô, e depois um marido infiel e ardiloso. Na noite anterior realmente acreditara que ele gostava dela, que pudessem deixar o passado para trás e recomeçar tudo. Agora ele deveria estar desprezando-a por ser completamente louca. Iria querer vê-la pelas costas, assim que possível.
— Você não se lembra? — Joe perguntou incisivamente.
Demi estremeceu. Ele estava perdendo a paciência com ela, e não podia culpá-lo.
— Ah, isso...
Recordou-se da pergunta e murmurou palavra por palavra o que Rosa lhe dissera, depois arquejou surpresa quando as mãos firmes de Joe a seguraram ao redor da cintura e a levantaram.
— Rosa tem algumas dificuldade com a língua inglesa. Eu lhe
pedi para trazer café e conhaque e depois cuidar para que Isabella e eu ficássemos sozinhos, e para transmitir o recado para você com as minhas desculpas. Eu precisava de algum tempo para acalmá-la e entrar em contato com César. Ela não quis dizer que era para você ir embora da casa.
Demi acenou afirmativamente, reconhecendo com impotência que era muito hábil em trocar as bolas. E em afastar de si o homem que amava.
— Tudo bem — Joe disse arrastadamente, pela primeira vez na vida desejando que a irmã não tivesse seguido o eterno hábito de procurá-lo sempre que algum fato a incomodasse. Queria que ela saísse do seu caminho, para bem longe dele, para que pudesse começar a campanha para fazer com que Demi concordasse em se casar com ele. — Vamos dar um jeito nestas lágrimas e vamos descer para fazer companhia à Isabella.
Mãos impessoais afastaram o cabelo do rosto da moça enquanto ele dizia:
— César já está vindo buscá-la. Está trazendo um dos seus estagiários para dirigir o carro dela no percurso de volta. Ele se recusa a deixar que ela pegue na direção quando está neste estado, o que, infelizmente, é algo freqüente — admitiu secamente. — Ou ela está delirando de felicidade, ou está lá no fundo do poço.
A boca de Joe estreitou-se quando ele enfiou a bainha da blusa dela de volta para dentro do cós da saia. O contato com a pele dela o excitava. Dios! Não sabia dizer como se conteve para não tomá-la nos braços e cobri-la de beijos ardentes. Compensaria mais tarde, quando estivessem sozinhos.
Demi notou o apertar da boca e a estarrecedora falta de reação frente à pequena intimidade. Mordeu com força o lábio inferior para não chorar. A magia que haviam reconquistado na noite anterior claramente desaparecera. E estava perdida para sempre, levada pela sua inabilidade em confiar nele e pelos pensamentos que nenhum homem era obrigado a perdoar.
— Enquanto isso, um bom café da manhã cairá bem.
Com um ligeiro gesto convidativo em direção à porta, ele seguiu Demi para fora do quarto, enquanto ela fazia de tudo para não aparentar que estava realmente arrasada com tudo aquilo.
Observando o gingar sensual dos seus quadris ao sair do quarto, Joe reprimiu um gemido. Parte dele queria pegá-la de volta e abrir o coração para ela, confessar que não descansaria até que ela tivesse dado a sua palavra de que passaria o resto da vida com ele.
Mas a parte mais sensata insistiu que seriam necessários mais do que alguns minutos corridos para convencê-la de que, apesar de suas tentativas sórdidas e vergonhosamente desonrosas de vingança, ele a amava de verdade.
Uma decisão da qual se arrependeria muito.
Ei! Sou seguidora nova aqui no blog, por algum acaso você postou a Web Anjo da Noite completa?
ResponderExcluirAté q enfim eu sei qm é essa mulher hein
ResponderExcluirE o grande momento a tal mulher finalmente foi desmascarada, ameii ❤
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