Capítulo 26 - Mini Maratona


O rosto de Joe doía com o sorriso forçado em resposta à conversa fútil de Isabella. E seu coração doía por causa do que escutara.  
Será que ela ainda pretendia se casar com Ben Clayton? Não podia permitir que isso acontecesse! Devia ter escutado errado. Não poderiam ter feito amor com tanta paixão se ela ainda estivesse apaixonada por outro homem.  
Demi não era esse tipo de mulher.  
A não ser... O pensamento indesejado escureceu a alma de Joe e gelou o seu sangue. A não ser que já tivessem planejado tudo de antemão.  
Enfrentando a falência da revista, seus pais encarando uma montanha de dívidas, ambos correndo o risco de perder tudo que consideravam suas heranças, sem falar nos empregos, ele imaginou Clayton dizendo para Demi 
— Faça isso por nós, pelo nosso futuro. Faça o que ele quiser, deite-se e imagine a Lifestyle prosperar novamente. E quando ele a descartar, nós nos casaremos.  
Bobagem!  
Não se deixaria levar pela trilha tortuosa que Demi seguira horas antes, quando acreditara que Isabella fosse sua esposa. Levando em conta o que Rosa lhe dissera, ele podia compreender por que ela presumira isso. Somado ao engano de cinco anos atrás, podia entender e perdoar.  
Mas ela beijara Clayton como quem não podia esperar para ir para cama com ele.  
Desejou não ter recordado a cena tórrida que o deixara se sentindo tão devastado, o choque se transformando rapidamente em raiva e amargura.  
De qualquer forma, Demi nunca fora para a cama com Clayton. Disso tinha certeza. Podia apostar a vida na certeza de que ela fora virgem antes de se deitar com ele.  
Estava furiosa o suficiente para matá-lo ali mesmo, quando o acusara de ser casado. Se ela estava apaixonada por Clayton, se juntos elaboraram um plano para extorquir uma grande quantidade de dinheiro dele, então o fato dele tê-la tratado com um mero caso não deveria tê-la enfurecido tanto, deveria?  
Dios! Se não conseguisse levá-la até algum lugar particular dentro dos próximos minutos, enlouqueceria! Precisava esclarecer toda a situação. Precisava saber se os seus sentimentos por ele eram tão profundos quanto a recíproca.  
Os olhos pensativos focalizaram-na por mais tempo do que se permitira, até agora. Olhares de banda rápidos, mostraram-na, de modo atípico, acrescentando grandes quantidades de creme e várias colheradas de açúcar ao café. E bebera vorazmente a água gelada do jarro que Rosa providenciara. Era preocupante o modo como estava pálida quando se juntou a eles na sombra, mas, graças a Deus, parecia melhor agora.  
Ele a amava tanto, a adorava. Seu coração estava irrequieto. Ela estava escutando as descrições de Isabella das maravilhas de Sevilha, centradas, de maneira previsível, nas melhores butiques, restaurantes e casas noturnas. A Plaza de España, a Giralda, os encantadores jardins do Parque de Maria Luisa não mereciam sequer uma menção. Demi estava se esforçando para parecer interessada, sorrindo e inserindo algum comentário ou pergunta quando tinha a oportunidade, mas seus lindos olhos estavam preocupados.  
Era chegada a hora de intervir, desculpar-se com Isabella, e levar Demi para algum lugar onde não seriam incomodados. Até a praia, como originalmente planejara. Isabella poderia ficar ali de molho, esperando que César viesse. Um bom castigo para o melodrama de antes, que quase arruinara a vida do irmão!  
  
Demi podia sentir os olhos de Joe sobre si. Sentiu as faces ficarem rosadas, esforçou-se para se concentrar no que Isabella estava falando, tentando inutilmente ignorar a distração. Imaginando o que ele estava pensando, surpreendeu-se quando Rosa apareceu com um telefone sem fio e lhe entregou.  
— Para mim?  
Pergunta boba! Por que outro motivo Rosa lhe traria o telefone?  
O estômago se contorceu de modo nauseante. Insistira para que Joe deixasse um número de contato com o pai, caso ele quisesse falar com ela, mesmo que no íntimo soubesse que isso não iria acontecer. No que lhe dizia respeito, a filha deixava de existir quando não estava por perto.  
A mão tremia ao pegar o objeto. Será que algo terrível acontecera com ele? A dor de cabeça que melhorara enquanto se sentara à sombra, voltou com força total.  
Sussurrou o próprio nome no bocal, e escutou a voz de Sophie, alta, clara e entrecortada pela tensão.  
— Ben sofreu um acidente de carro. Ele está sendo operado agora. E a última coisa que disse antes de entrar na sala de cirurgia foi “Peça para a Demi vir. Eu preciso vê-la”. De modo que é bom você esquecer o que está fazendo por aí... — a voz da velha amiga estava cheia de desprezo —, e voltar para cá. Você lhe deve isso. Pensávamos que ele estava morrendo, e isso ainda pode acontecer. E não deve ter sido coincidência que um homem que sempre foi um motorista super cauteloso tenha se tornado o oposto logo depois de você dispensá-lo. Não acha?  
Chocada demais para falar, os lábios de Demi se moviam sem emitir uma palavra. Mal conseguia absorver a notícia. O querido Ben, o amigo de longa data que cuidara dela por tantos anos, podia estar à beira da morte! Isso não podia acontecer!  
Sophie deu o nome do hospital onde ele estava com clareza, e depois estourou:  
— Fale alguma coisa, pelo amor de Deus! Nem que seja para dizer que sente muito!  
Demi respirou fundo, a ansiedade afinando a sua voz:  
— Diga-lhe que estarei aí assim que puder. Eu vou pegar o primeiro vôo de volta. E diga-lhe para... — as palavras tremiam de emoção — aguentar firme e esperar por mim.  
Se ele morresse seria como perder um irmão. E Sophie, que sempre considerara uma irmã carinhosa, a culparia para sempre.  
Levantou-se com dificuldade, o fone escorregando dos dedos.  
Tentando conter o pânico de sua voz, disse para a apreensiva Isabella:  
— Desculpe-me, mas eu tenho de ir.  
Olhou na direção de Joe, notou que ele apanhara o telefone e estava falando algo com Sophie, e depois correu para o seu quarto.  
Quando chegou lá, respirou fundo repetidamente e se esforçou para pensar com clareza, para se controlar. Alguém teria que levá-la ao aeroporto ou chamar-lhe um táxi. E, o mais importante, teria de despedir-se de Joe e explicar o que estava acontecendo.  
Embora levando-se em conta que estivera falando com a transtornada Sophie, ele provavelmente já sabia o que estava acontecendo. Isso não representaria problema para o espanhol. Considerando a sua atitude recente para com ela, era bem provável que ele a mandaria para casa de mala e cuia, assim que a decência o permitisse. Esta crise apenas significava que Demi estaria indo embora algumas horas antes do previsto.  
A mera noção de se despedir de Joelhe dava vontade de se jogar na cama e chorar até não poder mais. Por causa da sua natureza desconfiada ela o perdera, sabia disso. Lágrimas desciam pelas faces pálidas quando ela começou a enfiar na mala as coisas que jogara na cama poucas horas atrás.  
Gostaria de ter tido a oportunidade de se desculpar, de dizer-lhe que lamentaria para o resto da vida tudo que fizera, desde a terrível maneira como se comportara cinco anos atrás até o último chilique abusivo.  
A recordação da pequena caixa que vira Joe colocar no bolso na recepção do hotel, contendo a aliança que tencionava dar-lhe, fez com que se odiasse. Uma tristeza enorme se acumulava dentro dela, e encontrou vazão quando Joe entrou no quarto.  
O coração da moça parou, e depois disparou em pânico. Ele parecia tão tenso, os olhos escuros brilhando, os ombros largos imóveis. Ele era perfeito. E ela o perdera! Outra explosão de tristeza acumulou-se no seu peito, e antes que pudesse dizer-lhe o quanto lamentava tudo, Joe disse calmamente:  
— Eu sinto muito pelas más notícias. Tanto você quanto a família dele devem estar todos muito apreensivos.  
As palavras previsíveis de solidariedade aumentaram ainda mais a dor. Uma pontada de culpa no coração lembrou-lhe de como ela estava sendo egoísta, chorando porque perdera qualquer chance que poderia ter tido de Joe se apaixonar novamente por ela, enquanto o querido amigo estava lutando pela vida em Londres.  
Lembranças das muitas gentilezas de Ben vieram à tona. O modo como sempre fora seu aliado, como cuidara dela quando a mãe falecera e o pai praticamente a abandonara. Ela pôde ter compartilhado o ponto de vista debochado de Sophie com relação às maneiras ultrapassadas e afetadas de Ben, mas no fundo sempre sentira um carinho inegável.  
Joe, com as feições maravilhosas totalmente desprovidas de expressão, perguntou:  
— Você o ama?  
A culpa que sentia por pensar apenas na sua completa infelicidade no tocante à sua relação, ou ex-relação, tempestuosa com o homem que amaria pelo resto de sua vida, fez com que as palavras “É claro que amo!” jorrassem de seus lábios trêmulos.  
Com os olhos brilhando de dor, Joe virou-se. Ele tinha de saber e, agora, seu pior pesadelo estava se tornando realidade.  
Por quanto tempo ela teria continuado com esta farsa? Vindo para sua cama de livre e espontânea vontade, mesmo depois que, numa crise de consciência, lhe dissera que estava livre para ir embora. Por quanto tempo, se o co-autor do plano de fazê-lo de bobo e arrancar tudo que pudessem dele, o homem que ela admitira amar, não a tivesse chamado do que ele acreditava ser seu leito de morte?  
Ao chegar à porta, ele virou-se. A visão das lágrimas de Demi pelo homem que amava fez com que uma pontada fria atingisse o seu coração. As últimas palavras que diria para o seu anjo caído traidor foram:  
— Manuel a levará para o aeroporto. Desça com a mala. Ele estará pronto quando você estiver.  

Continua ...
Hey amores desculpa esses dias sem postar, fiquei sem internet e não consegui rotear a internet do meu celular pro computador, então por isso irei fazer uma mini maratona com vocês de 4 capítulos. Irá sair capítulo novo de uma em uma hora. Eu espero que vocês gostem ;)

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Espero que tenham gostado do capítulo :*