Capítulo 30

Joe se forçou a reduzir a velocidade quando a estrada fechou-se numa curva, as rodas girando na superfície escorregadia. Não era um suicida, apenas estava com uma pressa desesperada!  
Soltou uma enxurrada de palavrões, o rosto tenso. Tudo estava contra ele. Lembrou-se do que dissera para Demi, cinco anos atrás. Dissera que o amor deles não teria fim, e não estava mentindo. Aquilo ainda era verdade.  
Mas encontrá-la e provar-lhe isso, exigir que ela lhe desse uma chance de mostrar que ela só seria feliz como sua esposa, e não de Clayton, estava se tornando um pesadelo de proporções assustadoras.  
Quando chegou ao apartamento dela, à tarde, não encontrara ninguém em casa. Um telefonema para o pai da moça resultou na informação de que Demi estava hospedada com os Claytons em Holland Park, pelo menos até que Ben estivesse fora de perigo. O homem mais idoso parecia na defensiva, como se estivesse relutante em informar o paradeiro da filha ou o que ela estava fazendo.  
O táxi que o levara até o endereço em Holland Park fora tão lento ao dirigir pelo trânsito pesado que fora frustrante. Sophie, a irmã gêmea do seu rival, atendeu à campainha, olhando por cima dos ombros dele.  
— Cadê a Demi 
— É exatamente o que eu gostaria de saber.  
Ainda sentada ao lado da cama de Clayton, enxugando-lhe a testa, alimentando-o com frutas e beijando-o até que ele melhorasse? O mero pensamento fez com que ficasse furioso.  
— Então ela não está com você?  
— É obvio que não — respondeu Joe, tentando se agarrar ao último vestígio de paciência que possuía. — Por que ela estaria?  
— Porque ela voou para a Espanha esta manhã para vê-lo. Disse que vocês ainda tinham assuntos inacabados. Olha, ela não se abriu comigo, mas disse que não sabia quando estaria de volta. Ben está melhorando, de modo que creio que ela achou que não precisava estar por aqui no momento. Não quer entrar? — Ela convidou, abrindo mais a porta.  
Para que diabos eu faria isso? Foi sua reação inicial mal-educada, felizmente não-verbalizada. Forçou-se a sorrir.  
— Não. Não, obrigado. O noivado de Demi com Ben ainda está de pé? — Perguntou, como que devido a uma reflexão posterior.  
Sophie olhou para ele como se o espanhol estivesse falando grego, depois negou:  
— É claro que não. Pensei que você, melhor do que ninguém, soubesse disso.  
A resposta deixara-o confuso. Logo quando ele viera para Londres para encontrá-la, Demi voara para a Espanha para vê-lo. Seus vôos provavelmente se cruzaram no ar em direções opostas! Isso certamente queria dizer que ela não o considerara o grosseirão insensível que devia ter parecido durante as últimas horas em que passaram juntos.  
E seu noivado com Clayton ainda estava rompido.  
Então por que dissera para Isabella que logo se casaria com o homem cuja aliança usava?  
Ele deve ter se despedido de Sophie, mas não se lembra de tê-lo feito. Lembrava-se de ter caminhado até a rua, chamado um táxi para levá-lo até o aeroporto, e usado o celular para ligar para Manuel e dizer-lhe para que segurasse Demi ali até que ele voltasse.  
A linha estava ocupada. Ainda estava ocupada vinte minutos mais tarde. Ele tentou novamente quando chegou ao aeroporto, e quase explodiu de raiva e frustração.  
A linha estava muda. O telefone no mosteiro não estava funcionando. Não o encontrando lá, sem que ninguém soubesse para onde ele fora. Demi certamente iria embora.  
Ele tinha duas opções. Sentar-se defronte à porta dos Claytons até que ela decidisse voltar. Ou voltar para a Espanha, rezando para que ela ainda estivesse lá esperando por ele. Mesmo que já tivesse partido, poderia ter dito para os empregados para onde estava indo. Se estava indo direto para casa, ou não.  
Ele estava por demais carregado de adrenalina para permanecer na inatividade. Reservou o último assento no primeiro vôo da manhã para Sevilha e foi até o saguão de desembarque para esperar o último vôo vindo da Espanha, torcendo para que ela estivesse nele.  
Não estava.  
E agora estava percorrendo os últimos quilômetros até o mosteiro, sem dúvida nenhuma com ar de acabado, rezando para que ela já não tivesse ido embora.  
Com os pensamentos ocupados, teve de pisar firme no freio para evitar uma colisão de frente com um carro que vinha no outro sentido. Era quase como se estivessem com os pára-choques colados. Cristo! Algumas pessoas não merecem estar atrás do volante. O motorista fizera a curva fechada a uma velocidade absurda!  
E não havia modo dele passar. A estrada era estreita demais. O outro motorista teria de dar ré. E rápido. Afinal, Joe estava com pressa!  
Com os dentes trincados, a barba por fazer desde o dia anterior, ele saiu do carro e deu dois passos largos, e então, seu coração parou.  
Demi 
O coração derreteu quando observou-a abrir a porta do seu lado e lentamente girar as pernas longas até o chão. Ela se levantou, erguendo o rosto na direção dele. Estava pálida, os lindos olhos sombrios, o cabelo escorrendo em cachos revoltos. A boca da moça tremia quando os olhos dos dois se encontraram. Ele nunca a amara tanto.  
A necessidade de beijá-la e afastar a incerteza daqueles olhos assombrados fez com que ele colocasse uma das mãos no capô do seu carro e pulasse por cima do obstáculo. Foi necessário apenas um passo para trazê-lo até o objeto do seu desejo. Um passo rápido e a tomou nos braços, apertou-a contra o coração, e gemeu roucamente quando sentiu o delicado corpo de Demi tremer.  
Ela se aconchegou ainda mais para perto dele, jogando os braços ao redor do seu pescoço, erguendo o rosto adorável para ele. Havia lágrimas nos seus olhos. O coração de Joe apertou-se. Não podia mais haver tristeza. Não para ela, nunca mais. Ele não permitiria!  
— Joe...  
— Sshhh... — Ele ordenou baixinho. — Sem palavras. Apenas isso...  
Baixou a cabeça para beijá-la.  
Demi soube então que estava no paraíso. A alegria percorreu cada veia e músculo, e todas as células do seu corpo estavam em chamas quando retribuiu o beijo, seu desejo espelhando o dele, enquanto tentava a todo custo chegar ainda mais para perto dele, mesmo sabendo que isso não era possível.  
Seus corpos estavam fundidos. Ela podia sentir a rigidez ardente dele através da barreira das roupas. Um relâmpago explodiu dentro dela.  
Uma das mãos dele estava entrelaçada nos cabelos dela. Podia senti-lo tremer com a intensidade da paixão que tomava conta deles quando, relutantemente, ele afastou a boca da dela e disse, com a respiração entrecortada:  
— Você vai se casar comigo. Vai se esquecer de Clayton, esquecer que algum dia o conheceu. Se ele já não estivesse num leito de hospital, eu acabaria com a raça dele!  
Ele reforçou a sua imposição com um beijo na boca estarrecida de Demi. Ela riu e beijou-o de volta, apenas para notar a cabeça escura do espanhol afastar-se, um brilho feroz nos olhos escuros.  
— Não tem nada de engraçado nisso. Você é minha e eu sou um homem possessivo. Eu estou falando sério. Eu peço você em casamento e você ri! — O orgulho masculino, violentamente ofendido, exalava de cada poro. Ele afirmou de modo sombrio: — Mas desta vez não vou perder você de vista até que esteja com a minha aliança de casamento no dedo. Nem mesmo depois disso.  
— Não tem problema. Você não vai conseguir se livrar de mim — Demi garantiu, com um leve sorriso no canto dos lábios. — E não precisa meter o pobre do Ben nisso. Eu só fiquei noiva dele por algumas horas. Não tenho nenhuma intenção de me casar com ele. Não precisa ficar com ciúmes, e o seu pedido deixa muito a desejar — Acrescentou com uma severidade debochada, confiante na certeza de que o amor da sua vida não estava perdido. Só não soubera onde ele se encontrava, por algum tempo.  
As mãos delgadas dele apertavam os ombros da moça e uma das sobrancelhas negras elevou-se quando ele perguntou:  
— Então por que desfilou com a aliança dele na minha frente, e disse para lsabella que estaria se casando com ele em breve?  
Pelo menos ela teve a cortesia de enrubescer, Joe concedeu, decidindo de maneira magnânima que já a perdoara por estar indecisa no momento em questão. Afinal, ela não voltara para a Espanha para procurá-lo e, embora ainda não houvesse formalmente aceitado o seu pedido (e como é que ele deixava muito a desejar?), não fora capaz de esconder os seus verdadeiros sentimentos quando ele a beijara?  
A cor voltando ao normal à medida que se recordava de como se sentira naquela última manhã, seu olhar foi direto quando ela admitiu:  
— Foi idiotice minha. Mas naquele momento parecia o modo mais fácil de fazer com que ela se calasse. Você estava me tratando que nem um cachorro fedorento e eu estava tão infeliz, tão certa de que você não queria mais nada comigo depois das acusações que lhe fiz, eu não estava em condições de explicar que só estava usando o anel para não o perder. Sua irmã só teria feito mais perguntas...  
— lsabella nunca soube ficar calada — Joe reconheceu. — Mesmo assim, você não viu a hora de me abandonar quando soube que Ben se machucara, e quando eu perguntei se você o amava, me disse que sim. Não pode imaginar como isso me fez sentir.  
— Ah, posso! — Ela sussurrou emocionada, erguendo as mãos para tocar o rosto magro e bonito dele. — Quando eu pensei que você me dera as costas, meu mundo inteiro ruiu, meu querido. E eu realmente amo Ben. Mas como a um irmão. Não como eu amo você.  
Ele respirou fundo, os olhos brilhando quando ordenou:  
— Repita isso. Diga que me ama!  
— Por que outro motivo estaria aqui? Sabia que não poderia passar o resto da minha vida sem lhe dizer como amo você. — A voz dela oscilou. — Mas você não estava aqui. Onde você estava?  
Totalmente consolado, Joe trilhou um caminho de beijos no pescoço dela.  
— Em Londres — murmurou, rouco. — Procurando você. Eu também tinha de lhe dizer que a amava mais do que a vida.  
Os lábios dele encontraram o botão superior da blusa de algodão de Demi. Mãos trêmulas ergueram-se para retirá-lo da casa, mas depois detiveram-se. Com um esforço supremo, ele conteve a necessidade primordial de fazer amor com sua bela amada ali mesmo.  
— Estamos bloqueando a estrada, meu anjo. É melhor irmos embora.  
Com um beijo suave nos lábios sensíveis dela, ele disse:  
— Espere no meu carro. Eu vou manobrar o seu.   

2 comentários:

Espero que tenham gostado do capítulo :*