Capítulo 14

Este era o Joe de que se lembrava. O Joe por quem se apaixonara. Charmoso, vibrante, fascinante. E perigoso, acautelou-se ao sentir o frisson inevitável de excitação sexual.  
A estrada estreita estava passando por um grosso cinturão de árvores, o ar um pouco mais fresco, o que, ela esperava, poderia desculpar o tremor que percorreu o seu corpo.  
— Com medo? — ele perguntou suavemente, olhando sagazmente para a moça.   
A boca se retorceu com o que ela suspeitava ser satisfação masculina, quando voltou a sua atenção para pista curva.  
Demi sabia do que ele estava falando. Mas nunca admitiria estar sendo afetada pela atitude mais íntima e suave de Joe 
— De maneira alguma — sussurrou secamente. — Você é um excelente motorista. Por que eu estaria com medo? Só estou com um pouquinho de frio.  
Pelo sorriso largo dele, pôde deduzir que ele não engolira nem uma palavra, pois até mesmo debaixo das árvores o ar mais fresco era quente e suave. Ninguém poderia sentir frio!  
— Mas é claro — ele murmurou arrogantemente. — O que mais poderia fazer você tremer dos pés à cabeça?  
Estava na hora de esclarecer as coisas entre eles, acabar com essa brincadeira de gato e rato. Demi pensou furiosa. Mesmo contra todo o bom senso, ainda podia estar secretamente apaixonada por aquele miserável, mas odiava a forma como ele parecia a estar manipulando.  
Quando eles se aproximaram dos arredores do parque de diversões dos muito ricos, ela lhe disse:  
— Eu não estava pensando direito quando fiz as malas. Havia me esquecido da grande diferença climática, mesmo nesta época do ano. Minha culpa — admitiu de maneira formal, desejando que não tivesse estado tão contrariada e de mau humor quando jogara a primeira coisa que encontrara pela frente na mala. — Eu agradeço, mas prefiro comprar minhas próprias roupas.  
Alguns tops e saias de algodão seriam tudo que poderia pagar. Marbella não era o tipo de lugar para ir às compras com um orçamento apertado, concluiu cansada, pensando no seu extrato bancário limitado e o fato de que não teria um emprego quando voltasse para casa.  
— Não aceito não como resposta — Joe avisou, encontrando uma vaga para estacionar.   
Virando-se para Demi, deslizou um dos braços pelas costas do banco dela, dedos ágeis tocando a faixa com que ela amarrara o cabelo para trás, longe do rosto, e a removendo. A voz dele agora era um ronronar aveludado, que a fez estremecer.  
— Mesmo correndo o risco de parecer incrivelmente vulgar, eu tenho dinheiro. Especialmente se levarmos em consideração que o papai radical não está por perto para pagar as suas contas.  
— Não faça isso! — Demi retrucou, o rosto ficando vermelho. A faixa estava desaparecendo dentro do bolso da calça de Joe. A tentativa de recuperá-la resultaria em uma escaramuça degradante onde ela, é claro, sairia perdendo. E Demi já se fartara dos joguinhos dele. — Se você mencionar o meu suposto pai extremoso mais uma vez, eu... eu vou bater em você!  
Dedos duros envolveram o seu pulso quando tentou sair do carro, puxando-a de volta para encará-lo. Uma sobrancelha negra ergueu-se quando ele falou:  
— Bata em mim e eu retaliarei. — Seus olhos desceram até o beicinho tentador dela e permaneceram ali. — Mas não com violência física. Existem outras maneiras mais agradáveis de dominar uma mulher.  
Uma onda de satisfação cruzou o seu corpo. Ele a deixara em banho-maria por quatro longos dias e noites, deixando os nervos dela à flor da pele. Sua couraça de indiferença estava começando a ceder e ele iria reduzi-la à poeira.  
Um ligeiro sorriso curvou-lhe os lábios quando suas palavras trouxeram de volta o gelo para aqueles olhos azuis, os lábios dela se apertando numa réplica silenciosa. Estava defendendo sua posição com toda sua força de vontade, mas ele logo a deixaria tão fraca quanto um gatinho, implorando para que Joe desse fim ao impasse, agarrada a ele, com o corpo ardendo por ele, e só ele.  
Sentindo a virilha enrijecer, Joe eliminou aquela linha de raciocínio de seus pensamentos, e lentamente soltou o pulso de Demi, aborrecido ao ver as marcas de seus dedos na pele avermelhada.  
— Acho melhor tomarmos uma bebida gelada antes de irmos às compras.  
E pagaria por roupas que fizessem jus à sua beleza etérea, a despeito da sua recusa em deixar que ele o fizesse. Uma recusa que certamente era só para manter as aparências, facilmente esquecida face à menor pressão?  
Ponderando a respeito disso, ele se juntou a Demi na calçada. Ela estava usando a alça comprida da bolsa cruzando o corpo. Esta repousava diagonalmente entre os seios perfeitos que eram cuidadosamente delineados pela blusa de algodão rosa colante que ela estava usando. O jeans desgastado moldava a curva de seus quadris, a firme tentação das coxas.  
Ele desviou bruscamente o olhar. Dios! Ela era a mais pura tentação. Antes que se desse conta, era ele que acabaria de joelhos, implorando! E isso não fazia parte do plano. Era ela, não ele, que se rebaixaria, implorando — e nunca o contrário!  
Cinqüenta metros depois, chegaram ao café mais próximo. Ele a conduziu até uma mesa na sombra de um arvoredo de videiras com uma vista panorâmica do mar azul brilhante. Pedindo um Buck's Fizz — uma bebida à base de champanha — para Demi e um simples suco de laranja para si, Joe deixou que os ares se acalmassem entre os dois, antes de sondar a respeito de algo que estava começando a incomodá-lo 
— Diga-me uma coisa, Demi — sussurrou assim que notou os sinais de que ela estava começando a relaxar. Os ombros se soltaram, e os dedos estavam percorrendo a borda do copo rapidamente esvaziado. — Por que você fica tão zangada sempre que eu combino as palavras papai e radical na mesma frase?  
— Porque você não faz idéia do que está falando — Demi respondeu, sem agressividade. Aquela bebida fora deliciosa, dissolvendo a irritação, trazendo o vestígio de um sorriso aos seus lábios quando pensou que alguém poderia achar que Gerald Lovato tinha algum sentimento paternal pela filhinha insignificante.  
— Então por que você não explica para mim?  
Um estalar dos dedos esguios fez com que o garçom trouxesse mais um Buck's Fizz para a mesa. Joe observou o olhar de surpresa e prazer cruzar o adorável rosto de Demi e esperou até que ela tivesse dado o primeiro gole apreciativo, antes de pressionar gentilmente:  
— Então eu quero saber do que estou falando. Isso vai me dar mais — ele parou por um instante antes de acrescentar com uma solenidade jocosa —, mais segurança.  
Os olhos brilhantes dela ergueram-se de encontro aos dele e ela sorriu gentilmente, exatamente como ele desejava. Joe sentiu uma pontada de remorso ao se recordar de que a moça não comera nada no café da manhã, simplesmente mordiscara o pêssego que pegara. Depois o jogou de lado. Não estava com intenção de deixá-la bêbada, apenas relaxada o suficiente para baixar a guarda da indiferença.  

3 comentários:

Espero que tenham gostado do capítulo :*