Capítulo 18

Mas mudou de idéia, percebendo que nada que dizia respeito a Joe poderia ser tão fácil, quando ele caminhou pelo luar até a mesa debaixo da sombra dos galhos de uma figueira velha e falou:  
— Vamos deixar uma coisa bem clara. Pode fazer as suas perguntas, mas eu posso optar por não respondê-las. E você vai ficar aqui até que eu decida que pode ir embora.  
Ele colocou os copos e a garrafa que trazia consigo na mesa.  
— Sente-se onde eu possa vê-la.  
Ele indicou o assento de frente para a parede coberta de trepadeiras e, como que por milagre, o lugar foi preenchido com uma luz agradável.  
Provavelmente apertou uma botão oculto, Demi pensou distraída ao olhar para a luz difusa dos projetores escondidos dentro dos arbustos fartos. Obviamente não estava disposto a uma conversa franca, nem para chegar a algum tipo de conclusão definitiva a respeito da situação deles.  
Joseph Jonas ainda a manipulava, pensou com desespero, ao sentar-se no local indicado. E, vergonhosamente, ela ainda estava se deixando manipular.  
Determinada a fazer algo a respeito daquela situação degradante, empertigou-se no assento e disse:  
— Você está me tratando como uma criminosa. Você me culpa por tudo que aconteceu há cinco anos. Mas pense a respeito, você mentiu para mim desde a primeira vez em que nos encontramos. Isso faz de você o quê?  
Um mentiroso, respondeu para si mesma, seus olhos se abaixaram quando ele calmamente serviu o vinho nos dois copos e empurrou um deles para ela, do outro lado da mesa. Era o único homem que já amara. Depois dele, nenhum outro teve a chance de segurar o seu estúpido coração na palma da mão. E ainda o desejava, mesmo com todos os defeitos, admitiu infeliz.  
Queria o seu Joede volta, de volta do jeito que era naqueles dias extasiantes quando estavam se apaixonando um pelo outro. Mas isso não iria acontecer. Sem chance. Ele não era nada daquilo que pensara. Agora estava vendo a sua verdadeira face. E, para a sua perdição, ainda o desejava!  
Ele acomodou-se na cadeira do outro lado da mesa. Assim era melhor porque mais de um metro e oitenta de magnífica masculinidade irradiando sexualidade era mais do que ela podia agüentar naquele momento. Mas isso fez pouca diferença em relação à súbita sensação no seu coração. Porque, enquanto estava iluminada, ele permanecia nas sombras.  
Era impossível interpretar a sua expressão, adivinhar o que estava pensando. A voz dele parecia ligeiramente entretida quando respondeu:  
— Como criminosa, você está recebendo tratamento cinco estrelas sem receber a punição. Se eu fosse você, não me queixaria.  
Sua voz endureceu ao continuar:  
— Eu nunca menti para você, então não me insulte afirmando o contrário.  
Joeergueu o copo, e o luar refletido nele tremeu e dançou quando, despreocupadamente, agitou o conteúdo:  
— Mas isso é o que as mulheres fazem, não é? Quando estão encurraladas soltam acusações totalmente infundadas e absurdas.  
— Você já deve ter conhecido algumas mulheres muito esquisitas. — Demi retrucou baixinho. Se tivesse permitido que sua voz saísse um pouquinho mais alta, teria perdido o controle, e começaria a se enfurecer e esbravejar. — De modo que pode parar com os comentários machistas, e me explicar por que disse que era um humilde garçom, quando o tempo todo era podre de rico.  
Ela ergueu o próprio copo. As mãos estavam trêmulas. Baixou-o novamente antes que desse vexame ao derramar tudo. Joe, refestelando-se na cadeira, comentou:  
— Foi você quem decidiu que eu era um humilde garçom. Eu lhe disse, com toda a honestidade, que passava a maior parte das noites trabalhando em um dos restaurantes do hotel. Você vê, meu anjo maculado, como eu me lembro de cada palavra que nós dissemos um para o outro? O hotel no qual deveríamos nos encontrar, naquela última noite, era a mais nova aquisição da família. Meu pai, sendo um homem sensato, insistia para que eu tivesse experiência prática com cada ramo dos nossos negócios variados. Estava trabalhando de gerente noturno, naquela época.  
Os olhos de Demi se encheram de lágrimas emocionadas. Não pôde evitar. O coração maluco pareceu virar mingau. Obviamente, ele tencionara ser sarcástico e não percebera o que involuntariamente revelara. Que também se lembrava de cada palavra que disseram um para o outro. Isso não aconteceria se a considerasse apenas uma conquista passageira, algo com que se divertir e massagear o ego masculino, não é?  
Ela deve ter significado algo para ele...  
— Por que não me disse quem realmente era? — perguntou, trêmula. — Eu contei para você tudo a meu respeito. O que quero dizer é que respondi a todas as suas perguntas. Por que me deixou acreditar que o seu ganha-pão era ser garçom?  
Ela acreditara numa mentira e ele permitira que isso acontecesse. Ele deve ter rido muito do seu engano, imaginando como era boba. Isso realmente a magoou. Fora franca e honesta e ele...  
— Por que foi tão dissimulado?  
— Por que você acha? — Joerespondeu, com veemência. — E prefiro a palavra sensato a dissimulado.  
Ele colocou o copo na mesa, e Demi piscou até limpar a umidade dos olhos e os apertou, olhando para o espanhol através do emaranhado de cílios molhados.  
Um único copo durante o jantar era tudo que já o vira tomar, mas esta noite estava bebendo num ritmo constante. Para afogar a consciência culpada com a sua passagem pelo mundo da chantagem? Ou será que estava buscando coragem líquida antes de conceder a punição que mencionara anteriormente? Até agora não mostrara sinais de que queria levá-la para a cama.  
Quase sem fôlego diante do pensamento, Demi sentiu dificuldade em se concentrar em qualquer outra coisa, e teve de se esforçar para ouvir a voz de Joe, quando este começou a lhe contar agitado:  
— Desde que completei dezessete anos, tenho sido caçado por mulheres que viam em mim a grande oportunidade.  
Um breve silêncio, carregado de cinismo, depois mais suavemente, quase como se estivesse falando consigo mesmo, continuou:  
— Gostei da idéia de que você achou que eu era um sujeito comum.  
Será que notou um ligeiro sorriso na voz dele? Demi não tinha certeza, mas esperava que sim. E, príncipe ou mendigo, ninguém poderia chamá-lo de comum.  
E depois, é claro, ele teve de estragar tudo ao falar:  
— Você era muito jovem. Tanto em idade quanto em experiência. Creio que uma garota leva algum tempo para aprender a ser mais perspicaz com os seus favores sexuais, no sentido financeiro, é claro.  
Ainda distraída com a descoberta de que gostara dela porque pensara que ele não tivesse um tostão, Demi levou alguns segundos para assimilar as implicações do que ele lhe dissera, casualmente.  
Estava chamando-a de interesseira!  
Obviamente, ele não acreditara numa única palavra do que ela dissera a respeito dos motivos para, finalmente, concordar com a proposta desumana. Pensara que ela concordara apenas para ver o que conseguiria arrancar dele. Bronzear-se ao sol, ter empregados para atender a todos os seus caprichos, comida fabulosa, roupas novas lindas. Jóias emprestadas!  
Arrancaria o vestido do próprio corpo se agüentasse ficar exposta na frente dele, com nada além da roupa de baixo! De qualquer modo, os diamantes odiosos poderiam ir embora, pensou com fúria, detestando-o por ver nela a mais baixa das baixas, por fazer com que continuasse a amá-lo quando, na verdade, ele a desprezava intensamente!  
Com o rosto vermelho, ergueu-se e retirou o fabuloso bracelete do pulso. Em seguida os brincos, jogados com displicência na mesa. Teria jogado o conjunto inteiro para fora do terraço, para se perder nos arbustos floridos, se não tivesse certeza de que ele a vigiaria com um pedaço de pau enquanto ela rastejava de joelhos até encontrá-lo, mesmo que para isso fossem necessários dez anos!  
Já com a gargantilha foi uma estória diferente. Frustrada, lágrimas de raiva ressaltando os cílios e descendo involuntariamente pelas faces, brigava com o fecho complicado. Sua boca se apertou até formar uma linha dura, como se isso fosse resolver o problema, de alguma maneira.  
— Permita-me!  

3 comentários:

  1. Que fic mais linda!!! Adoro

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  2. Permita-me o q? Como vc para aí? Ta ficando bem interessante. POR QUE A DEMI N PERGUNTA LOGO DA MULHER OH MEU DEUS ELA PERGUNTA TANTA COISA INUTIL

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  3. A fic esta ficando muito interessante.
    A pergunta que não quer calar é quando ela vai pergunta sobre a mulher ?

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Espero que tenham gostado do capítulo :*