Capítulo 23


Com os dedos trêmulos, colocou cuidadosamente o passaporte e a carteira no compartimento com zíper, onde poderia encontrá-los com facilidade, e estava começando a enfiar todo o resto de qualquer maneira na bolsa, quando Joe entrou 
Seu lindo rosto estava sério. A esposa, obviamente, dera-lhe uma dura. Bem feito!, pensou Demi, tentando ignorar a pontada de dor que atingia o seu coração já dilacerado. Queria não ter de vê-lo nunca mais, mas já que isso não era possível, ia fazer o melhor que podia para que ele não percebesse como estava arrasada.  
— O que diabos você está fazendo?  
— O que lhe parece que estou fazendo? — Demi murmurou furiosa, querendo estrangulá-lo. — E não me venha com agressividade. A culpa é sua se a sua esposa está lhe dando uma dura, então não venha descontar em mim!  
Ela pegou o pacote de lenços de papel e algo rolou para fora da cama.  
— Rosa, sábia que é, me mandou ir embora, e é o que estou fazendo. Claramente é a coisa mais sensata a se fazer nestas circunstâncias, você não acha?  
Endireitando-se de modo abrupto, depois de abaixar-se automaticamente para pegar o objeto que caíra da cama, Joe respirou fundo por ente os dentes. Com as sobrancelhas escuras se encostando, exigiu:  
— Repete tudo. Por que diabos Rosa a mandaria embora? Com que autoridade? E que esposa? Eu não tenho uma esposa!  
Ele lhe lançou um olhar sombrio e exasperado, e Demi se afundou na cama, soltando um longo suspiro que parecia ter vindo da sola dos pés.  
Então era o jogo que ele ia fazer. Safado mentiroso! Com o santo patrono dos mentirosos e trapaceiros ao seu lado — ou o diabo patrono, como era mais provável — ele deve ter persuadido, rapidinho, a histérica Isabella a retornar para o lugar de onde viera. Fez com que ela acreditasse que não havia nenhuma mulher escondida com ele por aqui, que estava sozinho para comungar com a natureza, ou alguma outra história improvável.  
Mas ela não era tão ingênua. Não mesmo!  
— Está bem — disse Demi, por ente os dentes, e ergueu-se bruscamente. — Espere aqui — rosnou e saiu do quarto, as faces vermelhas de desgosto ao dirigir-se ao quarto dele, ouvindo as passadas firmes que a seguiam quando ele ignorou as instruções e veio atrás dela.  
Ela queria uns poucos minutos sozinha, afastada do homem a quem estava seriamente tentada a machucar. Mas, pelo menos desta forma, seriam alguns minutos a menos que teria de ficar naquele lugar.  
Entrando no quarto de dormir, foi direto para a fotografia no porta-retrato e virou-se para encará-lo. Ele ficou ali parado, demonstrando a confusão e a irritação de um homem chegando ao limite, estampadas nas feições por demais lindas.  
Demi apontou com o dedo o rosto adorável e sorridente na foto.  
— Esta é a mulher que eu vi com você em Marbella, naquela última noite. Vocês estavam muito íntimos. Tanto que até Sophie disse que vocês formavam um casal ardente!  
A expressão no seu rosto era a de um homem que acabara de ser atropelado por um caminhão, mas isso não a enganou por um segundo sequer. Apontando novamente para o retrato da traída Isabella, Demi continuou:  
— E encontrei isto aqui hoje de manhã, depois de passarmos a noite fazendo amor!  
Quando este confronto odioso, porém necessário, estivesse acabado, ela provavelmente seria idiota o suficiente para chorar todas as noites durante um ano, mas neste exato momento era a raiva que provocava aquele ataque cáustico.  
— E fui procurá-lo para pedir alguma explicação a respeito da sua evidente relação contínua com esta mulher, e lá estava ela, histérica, e você estava... estava...  
Apesar da necessidade desesperada de descarregar em cima dele, as palavras lhe faltaram, mas, mesmo assim, ela prosseguiu:  
— Abraçando-a e acariciando-a... — disse com uma voz que parecia um grito de angústia. — E Rosa me disse que Isabella explodira porque descobriu que você tinha outra mulher. Foi aí que Rosa me mandou ir embora.  
  
Tentar fazer algum sentido das palavras que estavam saindo daquela boca exuberante e desejável era como caminhar por um nevoeiro denso e depois emergir dele para encontrar um dia ensolarado. A boca de Joe se curvou com imensa satisfação. Ela estava com ciúmes. Bravo. Isso significava que gostava dele.  
Com uma das mãos, ele pegou o retrato de Isabella das mãos de Demi, e percebeu que algo estava ferindo a palma da outra mão. Ao abri-la encontrou a brilhante aliança de pequenos diamantes que a vira usar na noite da festa de noivado.  
Ele respirou fundo. Isso não queria dizer nada. Estendeu a aliança para a moça. Demi, com o rosto vermelho vivo, pegou-a e sentiu-se péssima. Ben lhe dissera para ficar com o anel como um símbolo da sua afeição e o que fizera? Simplesmente jogara o anel nas profundezas cavernosas da bolsa, com a maior negligência!  
Conhecendo Ben, o anel não devia ter um valor monetário muito grande, mas era extremamente valioso como um símbolo da amizade e do carinho que estiveram presentes pela maior parte de suas vidas.  
Amaldiçoando-se por não tomar conta direito da aliança, colocou-a no dedo para não perdê-la novamente, e Joe, vendo aquilo através de olhos estreitados, convenceu-se de que o fato dela estar usando a aliança de outro homem também não queria dizer nada. Ela estava quase incandescente de raiva, e ainda mais bonita por causa disso, e, agora que as peças começavam a se encaixar, não podia culpá-la pelo ressentimento.  
Quando ela tentou passar por ele para sair do quarto, e, pode-se presumir que, devido às suas suspeitas, da vida dele, Joe colocou ambas as mão nos ombros delicados de Demi e virou-a para que ela o encarasse.  
Os olhos azuis pareciam querer matá-lo, e Joe sorriu. Devido às circunstâncias isto certamente não era o mais apropriado a se fazer, mas não pôde evitar. Ela já estava tão arisca quanto uma gata selvagem e a qualquer momento poderia usar as garras!  
Quando a pequena mão ergueu-se para esbofeteá-lo e arrancar o sorriso do seu rosto, ele a capturou, passou um braço ao redor da pequena cintura e jogou-a na cama, acompanhando-a instantaneamente.  
— Quer parar de me machucar?  
Seu lábio inferior salientava-se de maneira petulante, e a raiva na voz fora substituída por mau humor. Sua respiração era curta e rápida, Joe notou com uma onda de carinho. E mais alguma coisa decidiu, à medida que o desejo fez o seu sangue ferver. Será que ela também estava se lembrando do que acontecera entre eles na noite passada, nesta mesma cama? Ela estava linda. Os dedos dele estavam loucos para abrir aqueles pequenos botões na parte da frente da blusa sexy que Demi estava usando, para deslizar por debaixo da saia transparente, e tomar posse dela para o todo sempre, porque decididamente se negava a passar o resto da vida sem ela...  
— Machucá-la não é bem o que tenho em mente — afirmou devagarinho, e sentiu-a estremecer. Ele se deteve ali, forçando-se a retornar à presente situação.  

3 comentários:

Espero que tenham gostado do capítulo :*