Capítulo 27

A viagem até Nova York se passou em silêncio. Eu estava feliz por Joe não tentar conversar. Eu queria ficar sozinha com meus pensamentos e tristeza. Arranha-céus em breve se levantaram em torno do carro enquanto nos arrastamos por Nova York em um ritmo lento. Eu não me importei. Quanto mais tempo o carro levasse, mais tempo eu poderia fingir que não tinha uma casa nova, mas eventualmente paramos dentro de uma garagem subterrânea. 
Descemos do carro sem dizer uma palavra e Joe pegou nossas malas do porta-malas. A maioria dos meus pertences já tinham sido trazidos para o apartamento de Joe há poucos dias, mas esta seria a primeira vez que eu veria onde ele morava. 
Demorei ao lado do carro quando Joe dirigiu-se para a porta do elevador. Ele olhou por cima do ombro e parou também. — Pensando em fugir? 
Todo santo dia. 
Eu caminhei até ele. — Você me acharia, — eu disse simplesmente. 
— Sim, eu acharia. — Havia aço em sua voz. Ele passou um cartão em um sensor e as portas do elevador abriram, revelando mármore, espelhos e um pequeno lustre. O elevador deixou claro que este não era um edifício de apartamentos normal. Nós entramos e meu estômago se contorceu de nervoso. 
Eu tinha estado sozinha com Joe ontem à noite e durante a viagem até aqui, mas o pensamento de estar sozinha em sua cobertura era de alguma forma pior. Este era o seu reino. Quem eu estava enganando? Praticamente toda Nova York era seu império. Ele encostou-se à parede espelhada e me observou quando o elevador começou a subir. Eu queria que ele dissesse alguma coisa, qualquer coisa. Isso iria me distrair do pânico subindo pela minha garganta. Meus olhos passaram por cada andar que subíamos. Já estávamos no vigésimo andar e o elevador ainda não tinha parado. 
— Elevador privado. Ele leva apenas aos dois últimos andares do prédio. Minha cobertura está no topo e o apartamento de Nick fica no andar de baixo. 
— Ele pode entrar em nossa cobertura sempre que quiser? 
Joe digitalizou meu rosto. — Você está com medo de Nick? 
— Eu tenho medo de vocês dois. Mas Nick parece mais volátil, enquanto eu duvido que você faria qualquer coisa que não quisesse fazer. Você parece ser alguém que está sempre firmemente no controle. 
— Às vezes eu perco o controle. 
Torci meu anel de casamento no dedo, evitando seus olhos. Essa era uma informação que eu não precisava saber. 
— Você não tem nada com que se preocupar sobre Nick. Ele está acostumado a ir até a minha casa sempre que quer, mas as coisas vão mudar agora que eu sou casado. A maioria de nossos negócios ocorre em outro lugar, de qualquer maneira. 
O elevador apitou e parou, então as portas se abriram, Joe fez um gesto para eu sair primeiro. Eu saí e imediatamente me vi em uma enorme sala de estar com elegantes sofás brancos, piso de madeira escura, uma moderna lareira de metal e vidro, aparadores e mesas pretas, assim como lustres luxuosos. Não havia praticamente qualquer cor em nada, com exceção de algumas peças de arte moderna nas paredes e peças de arte feitas de vidro. Mas toda a parede de frente para o elevador era de vidro. As janelas davam para um terraço com jardim e, além disso, para arranha-céus e o Central Park. O teto se abria acima da parte principal da sala de estar e uma escada levava ao segundo andar da cobertura. 
Eu andei mais para dentro do apartamento e inclinei a cabeça pra cima. Um corrimão de vidro permitia uma visão clara do piso superior: uma galeria brilhante com várias portas ramificando-se por ela. 
Uma cozinha aberta assumia o lado esquerdo da sala de estar e uma enorme mesa de jantar preto marcava a fronteira entre a sala de jantar e a de estar. Eu podia sentir os olhos de Joe em mim enquanto me situava. Eu me aproximei das janelas e olhei pra fora. Nunca tinha vivido em um apartamento; até mesmo um jardim no terraço não mudava o fato de que isso era uma prisão nas alturas. 
— Suas coisas estão no quarto, no andar de cima. Marianna não tinha certeza se você queria que ela arrumasse, então deixou tudo nas malas. 
— Quem é Marianna? 
Joe veio por trás de mim. Nossos olhares se encontraram no reflexo na janela.  — Ela é a minha governanta. Ela vem alguns dias durante a semana. 
Eu me perguntei se ela também era sua amante. Alguns homens no nosso mundo, de fato, ousavam insultar suas esposas trazendo suas prostitutas para dentro de sua própria casa. — Quantos anos ela tem? 
Os lábios de Joe contraíram. — Você está com ciúmes? — Ele descansou suas mãos em meus quadris e eu fiquei tensa. Ele não se afastou, mas eu podia ver a raiva cruzando seu rosto. Mas eu também observei que ele não respondeu minha pergunta. Saí do seu domínio e me dirigi para a porta de vidro que dava para o jardim no terraço. 
Virei para Joe. — Posso ir lá fora? 
Sua mandíbula estava apertada. Ele não era estúpido. Ele havia percebido o quão rápido eu tinha saído de seu toque. — Esta é a sua casa agora também. 
Eu não sentia dessa maneira. Eu não tenho certeza se algum dia me sentiria à vontade. Abri a porta e saí. Estava ventando e buzinas distantes soavam nas ruas abaixo. O branco dos móveis da sala estava no terraço também, mas além dele um pequeno jardim bem cuidado se estendia em direção a uma barreira de vidro. Havia até uma Jacuzzi grande o suficiente para seis pessoas. Duas cadeiras de sol foram colocadas ao lado dela. Caminhei em direção à borda do jardim e deixei o meu olhar vagar pelo Central Park. Era uma bela vista. 
— Você não está pensando em pular, não é? — perguntou Joe, segurando no corrimão ao meu lado. 
Eu inclinei meu rosto para ele, tentando avaliar se esta foi a sua tentativa de humor. Ele parecia sério. — Por que eu iria me matar? 
— Algumas mulheres do nosso mundo veem a morte como a única forma de ganhar a liberdade. Este casamento é a sua prisão. 
Eu avaliei a distância da cobertura até o chão. A morte era certa. Mas eu nunca tinha pensado em me matar. Antes de fazer isso, eu tentaria fugir. — Eu não faria isso com a minha família. Lily, Fabi e Gianna ficariam com o coração partido. 
Joe assentiu. Eu não conseguia ler sua expressão e isso estava me deixando louca. — Vamos voltar para dentro, — disse ele, colocando a mão nas minhas costas e me dirigindo para o apartamento. Ele fechou a porta e virou-se para mim. — Eu tenho uma reunião em 30 minutos, mas vou estar de volta em algumas horas. Quero levá-la ao meu restaurante favorito para o jantar. 
— Oh — eu disse, surpresa. — Tipo um encontro? 
Os cantos da boca de Joe se contraíram, mas ele não sorriu. — Você poderia chamar assim. Não tivemos um encontro real ainda. — Ele passou um braço em volta da minha cintura e me puxou contra ele. Eu congelei, e a leveza desapareceu de seus olhos. 
— Quando você vai parar de ter medo de mim? 
— Você não quer que eu tenha medo de você? — Eu sempre pensei que faria a sua vida mais fácil se eu tivesse pavor dele. Tornaria mais fácil me manter sob seu controle. 
As sobrancelhas escuras de Joe se juntaram. — Você é minha esposa. Nós vamos passar nossas vidas juntos. Eu não quero uma mulher encolhida ao meu lado. 
Isso realmente me surpreendeu. Mamãe amava meu pai, mas ela também o temia. —Há pessoas lá fora que não temem você? 
— Poucas — disse ele antes de baixar a cabeça e pressionar os lábios contra os meus. 
Ele me beijou, sem pressa, até que eu relaxei sob seu toque e separei meus lábios para ele.

Um comentário:

Espero que tenham gostado do capítulo :*