Capítulo 53


Eu coloquei minha cabeça no travesseiro. — Não foi tão ruim. Como posso reclamar quando você está coberto de cicatrizes de faca e ferimentos de bala? 
— Nós não estamos falando de mim. Eu quero saber como você se sente, Demi. Em uma escala de um a dez, o quanto dói? 
— Agora? Cinco? 
Joe ficou tenso. Ele abaixou-se ao meu lado, enrolando um braço na minha volta e examinando meu rosto. — E durante? 
Evitei seus olhos. — Se dez for a nota para a pior dor que eu já senti, então oito. 
— A verdade. 
— Dez — eu sussurrei. 
Joe apertou a mandíbula. — Da próxima vez será melhor. 
— Eu não acho que eu posso de novo tão cedo. 
— Eu não quis dizer agora, — ele disse com firmeza, beijando minha têmpora. — Você vai sentir dor por um tempo. 
— Em uma escala de um a dez, o quão rápido e duro você foi? A verdade, — eu imitei suas palavras. 
— Dois. 
— Dois? — Devo ter parecido bastante horrorizada, porque Joe esfregou minha barriga levemente. — Nós temos tempo. Eu serei tão gentil como você precisa que eu seja. 
— Não posso acreditar que Joe – O Cruel – Vitiello disse que vai ser “gentil”, — eu disse provocando para iluminar o humor. 
Joe sorriu. Ele segurou meu rosto e se aproximou. — Vai ser o nosso segredo. 
Emoções encheram o meu peito. — Obrigada por ser gentil. Nunca pensei que seria. 
Joe riu, um som cru. — Acredite em mim, ninguém está mais surpreso com isso do que eu. 
Rolei para o meu lado, fazendo uma careta, e me aconcheguei contra o ombro de Joe. 
— Você nunca foi gentil com alguém? 
— Não, — ele disse amargamente. — Nosso pai ensinou a mim e Nick que qualquer tipo de gentileza era uma fraqueza. E nunca houve qualquer espaço na minha vida pra isso. 
Mesmo que as palavras quisessem ficar presas em minha garganta, eu disse. — E as meninas que ficavam com você? 
— Elas eram uma solução pra mim. Eu queria transar, então eu olhava para uma menina e a pegava. Era duro e rápido, definitivamente nada gentil. Eu geralmente as fodia por trás, assim não tinha que olhar nos seus olhos e fingir que me importava com elas. 
Ele parecia frio e cruel. 
Beijei sua tatuagem, querendo banir essa parte dele novamente. Seus braços em volta de mim se apertaram. — A única pessoa que poderia ter me ensinado a ser gentil era a minha mãe. — Eu prendi a respiração. Será que ele ia me contar sobre ela agora? — Mas ela se matou quando eu tinha nove anos. 
— Eu sinto muito. — Eu queria perguntar o que aconteceu, mas não queria forçar e fazê-lo voltar para sua máscara fria. Em vez disso eu coloquei a mão em seu rosto. Ele pareceu assustado com o gesto, mas não se afastou. Lambi meu lábio, tentando suprimir a minha curiosidade. 
— Ainda dói? — ele perguntou de repente. Por um momento, eu não sabia do que ele estava falando. Ele passou a mão pelo meu abdômen. — Sim, mas falar ajuda. 
— Como pode ajudar? 
— Isso me distrai. — Juntei minha coragem. — Você pode me contar mais sobre a sua mãe? 
— Meu pai batia nela. Ele a estuprou. Eu era jovem, mas entendia o que estava acontecendo. Ela não podia suportar meu pai, então decidiu cortar seus pulsos e teve uma overdose de drogas. 
— Ela não deveria ter deixado você e Nick sozinhos. 
— Eu a encontrei. 
Eu me virei e olhei pra ele. — Você encontrou sua mãe depois que ela cortou os pulsos? 
— Esse, na verdade, foi o primeiro corpo que vi. É claro que não foi o último. — Ele deu de ombros como se não importasse. — O chão estava coberto com o sangue dela e eu escorreguei nele e caí. Minhas roupas ficaram encharcadas com o sangue dela. — Sua voz era calma, inexpressiva. — Eu corri para fora do banheiro gritando e chorando. Meu pai me encontrou e me deu um tapa. Me disse para ser um homem e me limpar. Eu fiz isso. Nunca mais chorei de novo. 
— Isso é horrível. Você deve ter ficado apavorado. Você era apenas um menino. 
Ele ficou em silêncio. — Me deixou forte. Chega um ponto que todos os meninos têm que perder a sua inocência. A máfia não é um lugar para os fracos. 
Eu sabia disso. Eu tinha visto como meu pai havia tentado moldar Fabiano nos últimos anos, e sempre partia meu coração quando meu irmão mais novo tinha que agir como um homem, em vez do menino que ele era. — As emoções não são uma fraqueza. 
— Sim, elas são. Inimigos sempre apontam onde eles podem te machucar mais. 
— E onde a Bratva apontaria se quisesse machucar você? 
Joe apagou as luzes. — Eles nunca vão descobrir. 
Essa não era a resposta que eu esperava, mas estava cansada demais para refletir sobre isso. Em vez disso, fechei os olhos e deixei o sono tomar conta de mim. 

Ir ao banheiro e caminhar com uma ardência do inferno não era exatamente confortável Estremeci quando voltei para o quarto, onde Joe estava com a cabeça apoiada em seu braço. 
Ele me observava. — Dolorida? 
Eu balancei a cabeça, corando. — Sim. Sinto muito. 
— Por que, você está arrependida? 
Deitei ao lado dele. — Eu pensei que nós poderíamos tentar novamente, mas acho que não consigo. 
Joe traçou as pontas dos dedos sobre as minhas costelas. — Eu sei. Eu não esperava que você estivesse pronta tão cedo. — Ele esfregou minha barriga, e então se aproximou um pouco mais. — Eu poderia te lamber, se você estiver afim. 
Meu núcleo se apertou e eu realmente queria dizer sim. — Eu não acho que é uma boa ideia. 
Joe balançou a cabeça e recostou-se contra os travesseiros. O cobertor se aglomerou ao redor de seus quadris, revelando seu torso musculoso e as cicatrizes. 
Cheguei mais perto e me apoiei em cima dele. Tracei as suas cicatrizes, imaginando que tipo de histórias se escondia atrás de cada uma delas. Eu queria conhecer tudo sobre elas, queria descobrir cicatriz por cicatriz de Joe, como se fossem um quebra-cabeça. Onde ele conseguiu a longa cicatriz em seu ombro e o ferimento de bala abaixo das costelas? Joe começou ele mesmo a me explorar com os olhos, passando o olhar sobre meus seios e meu rosto. Ele correu o polegar sobre meus mamilos. — Seus seios são fodidamente perfeitos. — Seu toque era mais possessivo do que sexual, mas eu pude senti-lo todo o caminho até chegar entre as pernas mesmo assim. 
Tentando me distrair, eu parei meus dedos contra uma cicatriz em seu abdômen. — Onde você conseguiu essa cicatriz? 
— Eu tinha onze anos. — Meus olhos se arregalaram. Eu tinha certeza de qual história estava chegando. — A Família não era tão unida como é agora. Alguns homens achavam que podiam agarrar o poder matando meu pai e seus filhos. Foi no meio da noite, quando ouvi gritos e tiros. Antes que eu pudesse sair da cama, um homem entrou no meu quarto e apontou uma arma pra mim. Eu sabia que ia morrer quando olhei para a arma. Eu não estava tão assustado quanto pensei que estaria. Ele teria me matado se Nick não tivesse saltado por trás dele quando ele puxou o gatilho. A bala foi muito mais para baixo do que deveria ter ido e só pegou de raspão em mim. Doeu como um filho da puta. Eu estava gritando e provavelmente teria desmaiado se o homem não estivesse atracado com Nick, pronto para matá-lo. Eu tinha uma arma escondida na gaveta da mesa de cabeceira, então eu peguei e coloquei uma bala na cabeça do homem antes que ele pudesse matar meu irmão. 
— Esse foi o seu primeiro assassinato, certo? — eu sussurrei. 
Os olhos de Joe, que haviam estado perdidos por um momento, se focaram em mim. — Sim. O primeiro de muitos. 
— Quando você matou de novo? 
— Naquela mesma noite. — Ele sorriu sem graça. — Depois que matei o primeiro homem, eu disse para Nick se esconder no meu armário. Ele protestou, mas eu era maior e o tranquei lá. Eu tinha perdido um pouco de sangue, mas ainda estava com a adrenalina correndo em mim e ouvia disparos no andar de baixo, então desci com a minha arma. Meu pai estava em um tiroteio com dois atacantes. Desci as escadas, mas ninguém me deu atenção, e então eu atirei em um deles por trás. Meu pai pegou o outro com um tiro no ombro. 
— Por que ele não o matou? 
— Ele queria interrogá-lo para descobrir se havia outros traidores na Família. 
— E o que ele fez com o cara, enquanto levava você para o hospital? 
Joe me deu um olhar irônico. Engoli em seco. — Não me diga que ele não o levou. 
— Ele chamou o médico da Família, me disse para colocar pressão sobre a ferida, foi em frente e começou a torturar o cara para conseguir informações. 
Eu não podia acreditar que um pai deixaria seu filho sofrer com dor e arriscar sua vida só para que pudesse recolher informações. 
— Você poderia ter morrido. Algumas coisas precisam ser tratadas no hospital. Como ele pôde fazer isso? 
— A Família vem em primeiro lugar. Nós nunca levamos um ferido a um hospital. Eles fazem muitas perguntas e envolver a polícia e é um sinal de fraqueza. E o meu pai tinha que ter certeza que o traidor falasse antes que tivesse a chance de matar a si mesmo. 
— Então você concorda com o que ele fez? Você teria visto alguém que você ama sangrar até a morte para proteger a Família e seu poder? 
— Meu pai não me ama. Nick e eu somos a sua garantia de poder e uma maneira de manter o nome da família. Amor não tem nada a ver com isso. 
— Eu odeio essa vida. Eu odeio a máfia. Às vezes eu gostaria que houvesse uma maneira de escapar. 
O rosto de Joe ficou tenso. — De mim?

3 comentários:

Espero que tenham gostado do capítulo :*