Capítulo 20


Não havia como negar isso. Ele era muito mais forte do que eu. E mesmo se eu gritasse, ninguém viria me ajudar. Muitos homens da minha família e da de Joe provavelmente ainda me segurariam para tornar as coisas mais fáceis para ele, não que Joe teria qualquer dificuldade em me dominar. — Sim, poderia, — eu admiti. — E eu te odiaria por isso até o fim dos meus dias. 
Ele sorriu. — Você acha que eu me importo com isso? Este não é um casamento de amor. E você já me odeia. Eu posso ver isso em seus olhos. 
Ele estava certo em ambas as afirmações. Não se tratava de amor e eu já o odiava, mas ouvi-lo dizer isso esmagou o último pedaço imbecil de esperança que eu tinha. Eu não disse nada. 
Ele apontou para os lençóis limpíssimos da cama. — Você ouviu o que meu pai disse sobre a nossa tradição? 
Meu sangue congelou. Eu tinha ouvido, mas até agora tinha deixado isso fora da minha cabeça. Minha coragem tinha sido em vão. Fui até a cama e olhei para os lençóis, os meus olhos se estreitaram sobre o local onde a prova da minha perda de virgindade estaria. Amanhã de manhã as mulheres da família de Joe iam bater à nossa porta e levariam consigo os lençóis para apresentá-los ao pai de Joe e ao meu pai, para que eles pudessem inspecionar a prova do nosso casamento consumado. Era uma tradição doentia, mas eu não poderia fugir. Isso estava me matando. 
Eu podia ouvir Joe se aproximando de mim por trás. Ele agarrou meus ombros e eu fechei os olhos. Não fiz um som. Mas não chorar era uma batalha perdida. As primeiras lágrimas molharam meus cílios e então escorreram para a minha pele e queimaram uma trilha pelo meu rosto, até o queixo. Joe passou as mãos sobre minhas clavículas e foi até a borda do meu vestido. Meus lábios tremiam e eu pude sentir uma lágrima pingar do meu queixo. As mãos de Joe tencionaram contra o meu corpo. 
Por um momento, nenhum de nós se moveu. Ele me virou de frente para ele e puxou meu queixo para cima. Seus frios olhos cinzentos percorreram meu rosto. Minhas bochechas estavam molhadas de lágrimas silenciosas, porque eu não fazia som nenhum, só olhei fixamente para os seus olhos. Ele deixou as mãos caírem, andou para trás, disse uma série de palavrões em italiano e então dirigiu o punho contra a parede. Engoli em seco e saltei para trás. Apertei meus lábios enquanto observava as costas de Joe. Ele estava de frente para a parede, os ombros se flexionando. Rapidamente enxuguei as lágrimas do meu rosto. 
Você fez isso. Você o deixou realmente irritado. 
Meus olhos dispararam em direção à porta. Talvez eu pudesse alcançá-la antes de Joe. Talvez eu até pudesse sair antes que ele me alcançasse, mas eu nunca conseguiria sair da casa. Ele se virou e tirou o colete, revelando a arma no coldre preto e uma faca. Seus dedos se fecharam ao redor do cabo, os nós dos dedos já ficando vermelhos do impacto com a parede, e a puxou para fora. A lâmina era curvada como uma garra: curta, afiada e mortal. O cabo era preto, de modo que não podia ser facilmente visto no escuro. Era uma faca Karambit para lutas à curta distância. Quem diria que a obsessão de Fabiano por facas seria de uso para mim algum dia? Agora eu conseguia pelo menos identificar a faca com a qual ele me cortaria. Um riso histérico queria sair da minha garganta, mas eu o engoli Joe ficou olhando fixamente para a lâmina. Ele estava tentando decidir qual parte de mim cortar primeiro? 
Eu ia implorar a ele. Mas sabia que isso não iria me salvar. As pessoas provavelmente lhe pediam isso todas as vezes e, pelo que eu ouvi, nunca funcionou. Joe não mostrava misericórdia. Ele iria se tornar o próximo Capo dei Capi em Nova York e iria governar com uma brutalidade fria. 
Joe veio em minha direção e eu vacilei. Um sorriso sombrio curvou seus lábios. Ele pressionou a ponta afiada da faca na pele macia abaixo da dobra do seu próprio braço, tirando sangue. Meus lábios se separaram em surpresa. Ele colocou a faca em cima da pequena mesa entre as duas poltronas, pegou um copo e pôs a sua ferida sobre ele, ficou observando o sangue pingar ali dentro sem demonstrar nenhuma emoção, até finalmente desaparecer no banheiro adjacente. 
Eu ouvi água corrente e, em seguida, ele voltou para o quarto. A mistura de água e sangue no vidro tinha uma cor vermelho claro. Ele se aproximou da cama, mergulhou os dedos no líquido e depois manchou o centro do lençol. Minhas bochechas coraram com a atitude. Me aproximei dele devagar e parei quando eu ainda estava fora do alcance do seu braço, não que isso fizesse alguma diferença. Fiquei olhando para os lençóis manchados. — O que você está fazendo? — eu sussurrei. 
— Eles querem sangue. Eles terão sangue. 
— Por que a água? 
— Sangue nem sempre tem essa aparência. — Ele devia saber. 
— Isso é sangue suficiente? 
— Você esperava o que, um banho de sangue? — Ele me deu um sorriso sarcástico. — É sexo, não uma briga com facas. 
Ele vai te foder até sangrar. As palavras queimaram no meu cérebro, mas eu não as repeti. Com quantas virgens ele já esteve para saber isso? E quantas delas vieram de bom grado para a sua cama? As palavras estavam na ponta da minha língua, mas eu não era uma suicida. 
— Será que não vão saber que esse sangue é meu? 
— Não. — Ele caminhou de volta até a mesa e derramou uísque no copo com água e sangue. Seus olhos estavam presos aos meus quando ele bebeu de um gole só. Eu não pude deixar de enrugar o nariz. Ele estava tentando me intimidar? Beber sangue realmente não era necessário. Eu já estava com medo dele antes de o conhecer. Eu provavelmente ainda estaria aterrorizada com ele quando meu caixão fosse colocado na terra. 
— E um teste de DNA? 
Ele riu. Não era exatamente um som alegre. — Eles vão acreditar na minha palavra. Ninguém terá dúvidas de que eu tirei a sua virgindade no momento em que nos encontramos a sós. Eles não vão duvidar, porque sou eu. 
Sim, é você. Então por que me poupar? Outro pensamento que nunca deixaria os meus lábios. Mas Joe deve ter pensado o mesmo, porque as sobrancelhas escuras se juntaram enquanto seus olhos percorriam o comprimento do meu corpo. 
Eu endureci e dei um passo para trás. 
— Não, — ele disse em voz baixa. Eu congelei. — Essa é a quinta vez que você recua de mim esta noite. — Ele largou o copo e pegou a faca. Em seguida, avançou para mim. — O seu pai nunca lhe ensinou a esconder o seu medo dos monstros? Eles irão lhe perseguir se você demonstrar medo. 
Talvez ele esperasse que eu contradissesse sua pretensão de ser um monstro, mas eu não era tão boa mentirosa. Se existissem monstros, os homens do meu mundo pertenciam a eles. 
Quando Joe parou na minha frente, tive que inclinar a cabeça para trás para olhar na sua cara. 
— Esse sangue nos lençóis precisa de uma história, — disse ele simplesmente quando puxou a faca. Eu vacilei e ele murmurou, — Essa é a sexta vez. 
Ele enganchou a lâmina sob a borda do corpete do meu vestido de noiva e moveu lentamente a faca para baixo. O tecido cedeu até que finalmente caiu aos meus pés. A lâmina nunca tocou minha pele. — É tradição na nossa família despir a noiva assim. 
Sua família tinha muitas tradições repugnantes. 
Finalmente eu estava diante dele vestindo apenas meu espartilho branco apertado com os seus laços nas costas e minha calcinha com a liga cobrindo a parte de cima do meu bumbum. Arrepios tomaram cada centímetro do meu corpo. O olhar de Joe era como fogo na minha pele. Recuei. 
— Sete, — disse ele em voz baixa. 
A raiva passou por mim. Se ele estava cansado de me ver fugindo dele, então talvez ele devesse parar de ser tão intimidante. 
— Vire-se. 
Fiz o que ele ordenou, e a uma puxada aguda da sua respiração fez com que eu me arrependesse imediatamente. Ele se aproximou e senti um puxão suave na liga que estava segurando minha calcinha. “Um presente para desembrulhar. Como um homem poderia resistir?”. As palavras da madrasta de Joe estalaram indesejavelmente na minha cabeça. Eu sabia que por baixo da liga sobre a minha bunda estaria exposta. Diga algo para distraí-lo e desviar a sua atenção. 
— Você já sangrou por mim, — eu disse com uma voz trêmula, e, em seguida, quase inaudível. — Por favor, não. — Meu pai teria vergonha da minha fraqueza. Mas eles eram homens. O mundo era deles para ser tomado. Mulheres eram deles para serem tomadas. E nós, mulheres, sempre fomos feitas pra nos dar sem protestar.

Um comentário:

  1. Puta merda,nunca imaginei que o Joe poderia fazer isso para a demi, subiu um pouco nos meus conceitos

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Espero que tenham gostado do capítulo :*